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Entenda a crise diplomática entre Turquia e Holanda

O presidente turco Recep Tayyip Erdogan acusou a Holanda de manter "vestígios do nazismo". - Murad Sezer/Reuters
O presidente turco Recep Tayyip Erdogan acusou a Holanda de manter "vestígios do nazismo". Imagem: Murad Sezer/Reuters

11/03/2017 22h30Atualizada em 12/03/2017 07h15

A proibição da Holanda a uma visita do ministro turco das Relações Exteriores para fazer campanha em favor do presidente da Turquia provocou uma crise diplomática neste sábado (11), com Recep Tayyip Erdogan acusando Haia de manter "vestígios do nazismo".

O ministro Mevlut Cavusoglu, que realizaria um comício em Roterdã em favor do referendo que reforça os poderes do presidente Erdogan, recebeu a ordem de que seu avião não seria autorizado a aterrissar na Holanda, após "as autoridades turcas ameaçarem publicamente com sanções", declarou o governo holandês em um comunicado.

"Isso impossibilita a busca de uma solução razoável e, por esta razão, a Holanda informou que retira o direito de aterrissagem" do avião do ministro turco, explica o comunicado.

A decisão de Haia provocou a ira do presidente turco, que denunciou "vestígios do nazismo", em declarações chamadas de "malucas" e "deslocadas" pelo primeiro-ministro holandês, Mark Rutte.

"Vocês podem proibir nosso ministro das Relações Exteriores de voar, mas a partir de agora, veremos como os voos de vocês vão aterrissar na Turquia", ameaçou ainda Erdogan durante um comício em Istambul.

Pouco depois, a Turquia convocou o representante dos assuntos holandeses em Ancara para protestar contra a decisão de Haia. "Convocamos o responsável pelos assuntos holandeses hoje", declarou uma autoridade da chancelaria turca que pediu anonimato.

O chanceler turco já havia desafiado as autoridades holandesas ao manter a visita e alertando para possíveis "pesadas sanções" se as autoridades holandesas proibissem a sua visita.

Após a polêmica, Cavusoglu considerou "inaceitável" a proibição, enquanto cerca de cinquenta manifestantes se reuniram em frente ao consulado da Holanda em Istambul para incitar o governo turco a se "manter firme".

Na noite deste sábado, por volta das 20h locais (16h em Brasília), o avião de Cavusoglu aterrissou no aeroporto da cidade francesa de Metz (nordeste), segundo um jornalista da AFP no local.

O ministro pretende realizar um comício em Metz no âmbito da campanha pelo sim no referendo, a convite de uma associação turca local, segundo o secretário-geral do governo de Moselle, que representa o Estado francês localmente.

Também neste sábado à noite, a polícia holandesa utilizou cavalos e canhões de água para dispersar um protesto em Roterdã. Mais de 1.000 pessoas reunidas em frente ao consulado turco para protestar foram dispersadas pela polícia, segundo um correspondente da AFP.

Além disso, a ministra turca da Família, Fatma Betül Sayan Kaya, que havia chegado a Roterdã por terra da Alemanha para participar da manifestação, foi conduzida pela polícia holandesa à fronteira. A condução foi informada pelo prefeito de Roterdã, Ahmed Aboutaleb.

'Solução aceitável'

Aboutaleb havia anunciado na quarta-feira (7) que o comício na cidade seria cancelado, indicando que o auditório onde aconteceria o evento não estava mais disponível.

E na quinta (8), o ministro holandês das Relações Exteriores, Bert Koenders, declarou a oposição do governo à vinda de seu colega turco.

Em seguida, a Holanda iniciou negociações com as autoridades turcas para encontrar "uma solução aceitável" ao impasse.

"Havia um diálogo em andamento para decidir se as autoridades turcas poderiam viajar e realizar a reunião em caráter privado, em pequena escala, no consulado ou na embaixada", indicou o governo no comunicado.

Mas para as autoridades holandesas, "após um apelo público aos turco-holandeses a participar maciçamente em um evento público com o ministro Cavusoglu em Roterdã neste sábado, 11 de março, a ordem e a segurança pública estariam comprometidos".

"A Holanda lamenta o desfecho dos acontecimentos e apoia um diálogo com a Turquia", afirmou o governo holandês.

Cerca de 400.000 pessoas de origem turca vivem na Holanda, de acordo com o Bureau de Estatísticas da Holanda (CBS).

"O governo holandês não tem objeções contra comícios em nosso país para informá-los" sobre o referendo turco, ressaltou no comunicado. "Mas essas reuniões não podem levar a tensões em nossa sociedade, e todos aqueles que desejam realizar um comício tem que respeitar as instruções das autoridades competentes para que a paz e a segurança possam ser garantidas".

"Deve-se notar que o governo turco não quer respeitar estas regras", completou.

Ainda neste sábado, fontes do ministério das Relações Exteriores turco informaram que as missões diplomáticas da Holanda em Istambul e na capital, Ancara, foram fechadas por "motivos de segurança".

"As residências do encarregado de negócios da embaixada e do cônsul-geral foram fechadas", informaram as fontes.

Mal-estar na Europa

A campanha lançada na Europa visando a diáspora turca em vista do referendo turco de 16 de março tem causado grande tensão entre os países e a Turquia, começando pela Alemanha, que cancelou vários comícios pró-Erdogan.

Neste contexto, o presidente turco já havia acusado, em 5 de março, a Alemanha de "práticas nazistas", observações que irritaram Berlim --e Bruxelas. Mas a chanceler Angela Merkel pediu "cabeça fria".

Vários países manifestaram desconforto com a campanha.

Assim como a Alemanha, Suíça e Áustria proibiram nesta sexta (10) a realização em seu território de encontros eleitorais na presença de membros do partido governista turco AKP, citando riscos de distúrbios à ordem pública.