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Lavagem de dinheiro leva à captura de Abdelmassih

Em São Paulo

20/08/2014 09h46

Uma investigação do Ministério Público de São Paulo sobre uma suposta lavagem de dinheiro levou à captura do ex-médico Roger Abdelmassih, de 70 anos, nesta terça-feira, 19, no Paraguai. A partir de uma denúncia de que ele estaria em Avaré, no interior paulista, os promotores conseguiram traçar sua rota de fuga e descobrir seu paradeiro no país vizinho, após três anos de buscas a um dos fugitivos mais procurados do Brasil. O MP acionou a Polícia Federal, e a prisão foi efetuada em parceria com policiais da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) do Paraguai.

O MP obteve um mandado de busca e apreensão para averiguar a denúncia de que o condenado a 278 anos de prisão por 56 crimes de estupro contra 37 vítimas estaria no interior do Estado. Desde o cumprimento do mandado, no dia 29 de maio deste ano, quando foi realizada uma operação em uma fazenda em Avaré, o paradeiro do condenado foi identificado como a capital do Paraguai. "Era uma fazenda de laranjas, que já havia sido de propriedade dele", disse o promotor Luiz Henrique Del Poz, autor da denúncia que resultou na condenação de Abdelmassih por estupro contra as dezenas de vítimas.

O procurador-geral, Márcio Fernando Elias Rosa, designou, na ocasião, dois promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Bauru para, em parceria com a Polícia Civil, fazer as buscas e apreensões na propriedade, onde, segundo a denúncia, estaria o ex-médico. No local, embora o foragido não tenha sido localizado, os promotores e os policiais civis encontraram uma série de pistas do plano de fuga.

Documentos mostraram que pessoas jurídicas supostamente de fachada foram usadas para lavar dinheiro e transferir quantias para manter o ex-médico em Assunção. Não havia ordem judicial para o bloqueio dos bens de Abdelmassih e seu dinheiro foi, então, movimentado. Na sede da fazenda, os promotores encontraram também bilhetes, cartas e fotos que auxiliaram nas investigações.

O MP passou a monitorar uma rede de pessoas envolvidas no esquema de cobertura do foragido. Investigações complementares, que incluíram a quebra de sigilo telefônico de colaboradores que poderiam ajudar na fuga, levaram à certeza de que o foragido estava vivendo no Paraguai. "Foi quando requeremos à Justiça o compartilhamento das informações dessa investigação sigilosa com a Polícia Federal", disse Elias Rosa. "Essa prisão só foi possível por causa do trabalho integrado com as duas polícias, a Civil e a Federal", afirmou o procurador-geral.

Os promotores não informaram, porém, quantos são os suspeitos de colaborar com Abdelmassih nem suas identidades. No entanto, eles continuam sob investigação do MP e da polícia. De acordo com os promotores, eles poderão responder pelos crimes de falsidade ideológica, falsidade material, lavagem de dinheiro e também de facilitação de fuga. Parentes do ex-médico estão na lista de investigados. "Eles devem alegar escusa absolutória (um perdão pelo fato de a ajuda ser dada a um parente) para não responder por facilitação de fuga", disse o procurador-geral.

"Há recursos tanto da defesa quanto da promotoria no Tribunal de Justiça", disse o procurador-geral. A defesa questiona a atribuição do MP para investigar o ex-médico. O MP recorre para aumentar a pena. "Ele foi condenado à pena mínima em cada um dos casos", explicou Elias Rosa.

Com a renda oriunda de seu trabalho como médico e com a transferência do dinheiro supostamente lavado, Abdelmassih se manteve no Paraguai. Ele vivia no país havia três anos.

A operação que culminou com a captura do ex-médico foi iniciada há três semanas, com a polícia do Paraguai informando todos os passos de Abdelmassih. Desde a semana passada, agentes da PF estão no Paraguai, onde vigiaram a casa luxuosa do foragido na Villa Morra, um bairro de classe alta de Assunção. As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".