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EUA devem se esforçar para cessar "insultos", diz premiê do Egito

15/09/2012 18h57

O primeiro-ministro do Egito, Hisham Qandil, disse neste sábado em entrevista à BBC que os Estados Unidos devem se esforçar para que cessem as ofensas aos islã e que é "inaceitável ofender nosso Profeta", mas ao mesmo tempo condenou a violência dos protestos em diversos países.

Suas declarações chegam em meio à onda de manifestações no norte da África, Oriente Médio e até países como Irã e Austrália, em reação a um filme de conteúdo anti-islâmico produzido nos EUA que foi divulgado na internet.

O filme mostra o Profeta Maomé como mulherengo e membro de um grupo que tem prazer em cometer assassinatos.

Desde a terça-feira, o embaixador americano na Líbia e mais três americanos foram mortos em um atentado, o Talebã atacou uma base no Afeganistão, matando dois soldados dos EUA, e outras sete pessoas morreram em protestos.

Mais cedo, a Al Qaeda na Península Arábica emitiu um comunicado dizendo que o ataque na Líbia foi uma reação à morte do "número 2" da rede extremista, Abu Yehia al Libi, durante uma ofensiva americana no Paquistão, em junho.

A posição do grupo sinaliza a mesma posição de alguns analistas, de que a fúria dos protestos pode estar relacionada a fatores mais amplos do que apenas o filme, que teria servido de estopim para a crise.

Qandil disse que o filme havia sido feito por amadores "maldosos", e que embora seja "inaceitável insultar nosso Profeta" é também "injustificável que uma manifestação pacífica se torne violenta".

O governo egípcio mobilizou forças e disse neste sábado que a segurança das missões diplomáticas dos EUA no país é tida como prioridade.

Equilíbrio

Ainda na entrevista à BBC, o premiê egípcio avaliou que é necessário primar por uma situação de equilíbrio entre liberdade de expressão e respeito às crenças religiosas.

"Egípcios, árabes, muçulmanos --nós precisamos refletir a verdadeira identidade dos muçulmanos, de como são pacíficos, e falar à mídia do Ocidente sobre o verdadeiro coração dos muçulmanos, e de como eles condenam a violência", disse o premiê.

"Ao mesmo tempo, precisamos alcançar um equilíbrio entre liberdade de expressão e a manutenção do respeito pelas crenças dos outros povos", acrescentou.

Questionado se os EUA deveriam alterar suas leis sobre liberdade de expressão, Qandil disse: "Eu acho que precisamos tirar conclusões disso porque não podemos esperar para ver isso acontecer novamente".

Neste sábado, a onda de protestos chegou também à Austrália. Nas ruas de Sydney, centenas de muçulmanos entraram em choque contra a polícia australiana, que usou gás lacrimogêneo e cães contra a multidão.

Também houve protestos em diversos lugares no Egito, como Cairo, Alexandria e Sinai. A polícia egípcia disse ter conseguido dispersar a multidão que se aglomerou no entorno da praça Tahrir e da Embaixada americana.

Afeganistão

No Afeganistão, insurgentes do Talebã atacaram na noite de sexta-feira uma das bases de alta segurança da Otan, matando dois soldados americanos.


No sábado, o Talebã disse à BBC que o ataque à base de Camp Bastion, na província de Helmand, foi uma reação ao filme Innocence of Muslims ("Inocência dos Muçulmanos", em tradução livre), que provocou uma onda de protestos pelo mundo muçulmano.

O movimento que luta contra a presença de tropas internacionais no Afeganistão prometeu novos ataques em todo o país pelos "insultos ao nosso amado profeta do islã".

O príncipe Harry, terceiro na linha da sucessão do trono britânico, que foi enviado na semana passada ao Afeganistão, está baseado em Camp Bastion. Um porta-voz da Otan disse à agência de notícias Reuters que ele não ficou ferido no ataque.

A ofensiva acontece em meio às operações da Otan de retirada da maioria das suas tropas do Afeganistão. O prazo para a saída dos soldados é 2014.

Suspeito

Em Los Angeles, nos EUA, uma pessoa supostamente envolvida na filmagem de Innocence of Muslims foi interrogada por autoridades americanas. Eles querem saber se o cineasta Nakoula Basseley Nakoula violou os termos de sua liberdade condicional.

Em 2010, ele havia sido condenado por fraude bancária. Pelos termos de sua liberdade condicional, ele não poderia usar pseudônimos ou até mesmo se conectar na internet.

Nakoula, um cristão copta, é visto pelas autoridades como uma peça-chave na rodagem do vídeo polêmico. Ele nega ter tido qualquer envolvimento com o filme.