Mais de 500 universitários brasileiros desembarcam na Grã-Bretanha
Posando para uma foto na London Eye, a roda gigante que tornou-se uma das principais atrações da capital britânica, os seis estudantes não se diferenciam muito da massa de turistas que todos os dias passam pelo local. Mas Emanuela Florêncio, de 20 anos, e seus cinco colegas matriculados na Universidade de Surrey não estão na Grã-Bretanha a passeio.
Eles fazem parte do grupo de 500 alunos brasileiros de graduação que começaram a desembarcar no país há duas semanas para o início do ano letivo britânico. Integram a primeira turma do programa Ciência Sem Fronteiras a começar os estudos em universidades do Reino Unido.
Outras 150 bolsas já foram aprovadas para cursos de pós-graduação, que podem ser tanto programas "sanduíche" - nos quais alunos matriculados em universidades brasileiras passam um ano em uma instituição estrangeira - e doutorados plenos (em menor número).
Trata-se do maior grupo de estudantes universitários a chegar na Grã-Bretanha financiados pelo governo brasileiro e uma das maiores levas do Ciência Sem Fronteiras na Europa.
Cada estudante brasileiro representa um custo (ou "investimento") básico de aproximadamente 15 mil libras anuais (R$ 49 mil) para o País, entre mensalidade e alojamento, segundo Joanna Newman, da UK Higher Education International Unit, ligada a Universities UK - a agência que representa universidades britânicas e é parceira do governo brasileiro no programa.
Também recebe uma ajuda de custo de pouco mais de 400 libras mensais (R$ 1,3 mil) - embora o valor varie de acordo com a cidade em que o estudante está instalado.
Ciência sem Fronteiras
O Ciência Sem Fronteiras prevê distribuir 100 mil bolsas de intercâmbio para estudantes de universidades brasileiras, da graduação ao pós-doutorado, até 2015.
Seu objetivo é suprir o déficit de profissionais ligados às áreas de ciências exatas no Brasil e fomentar os contatos entre acadêmicos brasileiros e estrangeiros, ajudando a inserir o País nas redes internacionais de pesquisa e conhecimento.
"Um ponto interessante é que o programa não está concentrado apenas em universidades de São Paulo ou Rio. Temos alunos de todas as partes do Brasil", ressalta Newman.
O programa ainda é modesto em relação ao de outros países - China e Índia, por exemplo têm cerca de 700 mil estudantes matriculados em universidades estrangeiras, muitos deles apoiados por bolsas do governo.
Também tem vários limites. Seu foco são as ciências exatas e biológicas. As áreas humanas praticamente não estão contempladas e não há bolsas para programas de mestrado - que na Grã-Bretanha podem ser de um ou dois anos -, apenas para graduação e doutorado.
A Associação de Brasileiros Estudantes de Pós-Graduação e Pesquisadores do Reino Unido também reclama que, apesar do investimento no programa, foram poucos os esforços para facilitar a vida de quem estuda no exterior com financiamento próprio ou outras bolsas e tem de enfrentar uma série de - por exemplo, para o reconhecimento do diploma obtido fora do Brasil.
Joseph Marques, pesquisador do Brazil Institute do King's College London, acredita que, para mostrar que está realmente empenhado em "internacionalizar" seu ensino superior e se inserir nas redes globais de conhecimento, o Brasil precisaria avançar mais rápido em reformas que facilitem tanto a saída de estudantes do país, quanto a contratação de professores estrangeiros. "Ainda há muito corporativismo nas universidades brasileiras", diz.
Mas o fato é que o Ciência sem Fronteiras está abrindo as portas de universidades estrangeiras para uma série de brasileiros que, sem ele, não poderiam deixar seu estado ou cidade.
Estudantes
"Sempre quis estudar no exterior, mas não consegui uma bolsa que pudesse financiar toda a minha graduação no curso de veterinária, que nos EUA e na Grã-Bretanha tem uma estrutura um pouco diferente do que no Brasil", afirma Emanuela.
Estudante da Universidade Federal Rural de Pernambuco, ela só havia saído do Brasil uma vez, para visitar o irmão mais velho, que conseguiu patrocínio do Instituto Brasil-Estados Unidos (IBEU) para estudar na Universidade do Kansas.
"Agora, como parte do programa, vou estudar biociência veterinária em Surrey por nove meses e fazer um estágio em um laboratório britânico por mais três meses. Estou em minha primeira semana e já conheci mais gente de nacionalidades diferentes do que em toda minha vida no Brasil."
Os estudantes Larissa Krüger e Guilherme Piovezani Ramos, ambos da Faculdade Evangélica de Medicina do Paraná, também enfatizam a riqueza da vivência cultural e a oportunidade de aprimorar o inglês como algumas das vantagens de participar do programa de intercâmbio.
Ambos resolveram estudar fora do Brasil por ter grande interesse em áreas de pesquisa médica que, segundo eles, estariam bastante avançadas no Reino Unido.
"Estar aqui nos permite fazer contatos com professores e estudantes, além de ter uma experiência na área de pesquisa diferente, que você provavelmente não teria no Brasil", afirma Guilherme, que começou nesta semana seu curso de microbiologia médica na Universidade de Newcastle, para a qual foram cerca de 50 brasileiros, e também vai fazer um estágio de três meses num laboratório britânico após o curso.
Grã-Bretanha
A Grã-Bretanha é um dos principais países contemplados pelo Ciência sem Fronteira e deve receber 10% do contingente de alunos.
Além disso, o país também tem se esforçado para atrair o interesse de autoridades e estudantes brasileiros, vendo nos alunos de países emergentes - que pagam mais pelos cursos - uma tábua de salvação para as restrições orçamentárias provocadas pela crise na Europa.
Em duas semanas, um total de 46 universidades britânicas participarão de feiras educacionais em São Paulo e Rio de Janeiro para recrutar estudantes brasileiros - uma participação recorde para feiras do tipo no Brasil.
Dezenas também têm manifestado interesse em receber alunos do Ciência sem Fronteira, que em geral são alocados nos cursos com a ajuda da Universities UK.
Nas semana passada, durante a visita do primeiro-ministro britânico, David Cameron, ao Brasil, foi assinado um acordo para que, a partir do ano que vem, os alunos tenham a oportunidade de fazer um curso de inglês de três a seis meses antes do início das aulas nas universidades para aproveitar melhor o curso.
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