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Doença de Mandela causa apreensão na África do Sul

28/03/2013 21h06

Mais uma vez o estado de saúde do presidente Nelson Mandela levou os sul-africanos para a frente dos televisores e sites de notícias.

"Estamos torcendo para que ele melhore depressa. E viva mais 94 anos", disse Tony Pnaidu, vendedor de rua de 62 anos.

"É uma notícia muito triste que ele tenha sido hospitalizado de novo, mas estamos esperançosos de que superará mais essa", afirmou Ashley Bennet, de 20 anos.

Mandela foi internado em um hospital em Pretória pouco antes da meia-noite de quarta-feira com infeccção pulmonar.

Foi a segunda vez que ele teve de ser hospitalizado em menos de seis meses. Em dezembro, ficou 18 dias no hospital com o mesmo problema.

Em entrevista ao repórter Lerato Mbele, da BBC, o presidente sul-africano Jacob Zuma pediu para a população do país "evitar o pânico".

"As pessoas precisam reduzir sua ansiedade", disse.

"Todos queremos que Madiba (como Mandela é chamado na África do Sul) esteja conosco por um longo período."

Segundo um comunicado da Presidência divulgado na tarde dessa quinta-feira, Mandela estaria "respondendo positivamente" ao tratamento.

Zuma disse estar em contato com os médicos e pretender visitar Mandela no hospital "logo que possível".

Unanimidade

"Libertador", "pai da pátria", "um grande homem". Quando o assunto é Nelson Mandela, parece haver consenso entre os sul-africanos.

"Ele é um conciliador, que soube construir uma nação perdoando erros do passado e unindo as pessoas", disse Jennifer Reynolds, de 44 anos.

"Sabemos que não está mais em idade de governar, mas para mim ele representa esperança - a esperança de que encontremos líderes mais conciliadores e visionários novamente, porque há alguns anos tudo que temos é corrupção.'

"É uma figura que todos admiram, não importa de que comunidade você seja", afirmou a estudante Nontobeko Sipinya, de 25 anos.

Líder da luta contra o regime segregacionista do apartheid, Mandela, chegou a ficar 27 anos preso, 18 deles na famosa prisão de Robben Island - onde contraiu uma tuberculose que lhe deixou para sempre com problemas no pulmão.

Ele governou a África do Sul de 1994 a 1998. Foi o primeiro presidente eleito em uma votação multiracial e, uma vez no poder, introduziu uma série de leis sociais e derrubou estruturas e leis que sustentavam a segregação.

Além disso, longe de assumir uma postura revanchista, mesmo depois de tantos anos preso, Mandela perdoou seus inimigos e procurou unir brancos e negros para formar "uma só África do Sul".

Thomas Mkhize, de 43 anos, ainda se lembra de quando não podia por os pés na praia que frequenta hoje, em Durban.

"Logo ali na frente, onde passa o Rio Ungeni, era o limite da praia dos brancos. Onde estamos eu não podia entrar, sob o risco de ser detido - e Mandela contribuiu muito para que eu pudesse estar aqui agora", disse.

"Se não fosse ele, possivelmente não estaria hoje com meu namorado, que é negro', diz Ashley Bennet, de 20 anos. "Nos conhecemos na escola, mas na época em que minha mãe era estudante todos os seus colegas eram brancos."

O consenso termina, porém, quando o assunto são os sucessores do ex-presidente. Tanto Thabo Mbeki, que governou o país de 1999 a 2008, quanto Jacob Zuma, que assumiu depois disso, são do CNA de Mandela.

"Eles deturparam o legado político de Mandela com corrupção e ineficiência", disse Pnaidu.

"Mandela lutou toda sua vida pelo fim da violência racial, mas seus sucessores deixaram que a violência urbana se alastrasse e transformasse a África do Sul em outro campo de guerra", afirma Tomás Mkhize, de 43 anos.