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Pobreza e crime dominam eleição em Honduras

24/11/2013 07h57

A curta viagem ao centro de detenção juvenil de Renaciendo, nos arredores de Tegucigalpa, ilustra o duplo desafio vivido por Honduras, país que vai às urnas neste domingo para eleger um novo presidente e representantes para o Congresso.

O primeiro desafio é a pobreza: Honduras é o segundo país mais pobre das Américas, atrás apenas do Haiti.

Na periferia da capital hondurenha, favelas caóticas dominam suas encostas. À medida que se afasta de Tegucigalpa, a pobreza rapidamente muda de urbana para rural. As casas passam a ser feitas de madeira e ferro velho, muitas com pisos sujos, no meio de plantações de banana e matas tropicais.

Ante o presídio juvenil, evidencia-se o segundo maior problema do país: a criminalidade violenta.

Honduras tem a maior taxa de homicídios do mundo. Dentro de Renaciendo, membros das duas principais gangues do país são divididos em dois blocos prisionais. A Mara 18 fica de um lado; sua rival Mara Salvatrucha fica do outro.

Os detentos podem ser jovens - alguns estão no início da adolescência -, mas viveram vidas de criminosos com o dobro de sua idade. Alguns estão presos por homicídio; outros eram matadores de aluguel ou ajudaram a esconder corpos desmembrados. Nenhum deles tem mais de 17 anos.

Dedicação total

A BBC conversa com um grupo de jovens da Mara 18. Eles explicam que a gangue, a quem se referem como "uma grande família", significa tudo para eles. E exige total dedicação a sua causa.

"Desde pequeno comecei a andar com a Mara 18", conta Luis (nome fictício). Ele não se arrepende dos crimes em que se envolveu, argumentando que foram para o bem de seu bairro.

"A Mara 18 me deu amor e sempre tentou me entender. Somos irmãos. Uma grande família, sabe?"

Seus companheiros de cela ecoam os sentimentos de dedicação. "Isto não é um jogo para nós. É sério. A Mara 18 é nosso trabalho e nossa família."

O homem que passa a maior parte do seu tempo conhecendo esses "irmãos" desde sua prisão é José Angel Solano, assistente social no presídio. Para os jovens, diz ele, a eleição deste domingo não tem sentido algum.

"Para eles, não significa absolutamente nada. Eles vivem longe da vida política do país, vivem dentro de seu mundo", afirma.

O próprio José Angel se sente desiludido com os candidatos presidenciais e suas propostas para melhorar a segurança em Honduras.

"A cada quatro anos aumentamos nossas esperanças de que um novo governo vá trazer novas ideias, especialmente para os jovens. Mas estamos cansados agora porque esses quatro anos passam, depois mais quatro e mais quatro depois deles. E é sempre a mesma coisa: mais pobreza, mais jovens nas ruas, mais crime", diz.

Legitimidade

De muitas maneiras, esta disputa se tornou a chance para dois lados brigarem pela legitimidade após o momento na história contemporânea de Honduras que provocou mais conflito social do que nenhum outro - o golpe que destituiu o presidente Manuel Zelaya em 2009.

Os simpatizantes de Zelaya apoiam sua mulher, Xiomara Castro, que concorre à Presidência por um partido recém-formado, Libre, no qual o ex-presidente tem um papel significativo.

"Não estamos improvisando e isso não tem a ver com aspirações pessoais", disse Zelaya à BBC de sua casa em Tegucigalpa. Ele insiste que sua mulher tem a capacidade de liderar o país e diz que a criação do novo partido foi uma reação ao golpe de 2009.

"Esta é uma batalha que cresceu após o golpe e um partido revolucionário que está resistindo à violência, ao crime, contra tudo o que ocorreu desde o golpe de Estrado. As pessoas estão se mobilizando", disse.

Mas se a ex-primeira-dama espera mudar de volta ao palácio presidencial, desta vez como líder do país, terá que derrotar o candidato do partido que apoiou abertamente o golpe contra seu marido. O candidato do governista Partido Nacional, Juan Orlando Hernandez, era até recentemente presidente do Congresso Nacional.

Apesar de seu partido estar no poder nos últimos três anos, além de várias outras vezes no passado, ele responsabiliza Zelaya pela violência, pela pobreza e pela desigualdade no país.

"Por conta da conduta do governo anterior e do partido agora chamado Libre, Honduras quase se tornou um Estado falido", disse Hernandez à BBC. Desde o golpe, ele argumenta, o governo estabeleceu as condições para mover o país adiante, tais como limpar o sistema judicial de suas ligações com o crime organizado.

"Sou um otimista por natureza", diz ele. "Eu garanto a você que o que é de um lado uma crise, pode ser visto pelo outro lado como uma grande janela de oportunidade", afirma.

Muitas pessoas em Honduras, particularmente os jovens, dariam sem dúvida as boas-vindas a uma genuína "janela de oportunidade".

Entretanto, em um país com uma das menores rendas per capita das Américas, onde médicos, professores e funcionários públicos ficam sem salário por meses, com reservas públicas em moeda estrangeira escasseando rapidamente e dívida em crescimento acelerado, sem contar os altos índices de criminalidade, eles estão céticos de que uma dessas janelas possa aparecer tão cedo.