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Movimentos sociais vão às ruas em meio a tensões com grupos pró-impeachment

Felipe Souza e Jefferson Puff

Em São Paulo e no Rio

18/03/2016 15h36

Em meio a uma sequência de manifestações contra o governo Dilma Rousseff e a nomeação (até o momento suspensa) do ex-presidente Lula como ministro da Casa Civil, movimentos sociais se preparam para fazer protestos a favor da democracia em 50 cidades brasileiras nesta sexta-feira (18). Um grupo faz uma passeata em Fortaleza (CE) e pessoas já se reúnem na avenida Paulista, em São Paulo.

A "BBC Brasil" entrevistou os líderes dos maiores movimentos sociais que organizam essas manifestações. O tom do discurso deles é homogêneo: eles são contra o impeachment e demonstram esperança com a nomeação de Lula como ministro, mas fazem duras críticas às políticas econômicas e sociais adotadas pelo governo Dilma.

O PT afirmou que Lula participará do ato na Paulista, mas sua presença ainda é posta em dúvida. A escalada violência nas ruas contra pessoas contrárias ao impeachment, principalmente na avenida Paulista, preocupa a polícia e parte dos manifestantes.

Nos últimos dois dias, foram filmadas e publicadas em redes sociais agressões contra ao menos cinco pessoas que defendiam o cumprimento do mandato de Dilma ou vestiam camisa vermelha. Ao menos três agressões foram registradas na avenida Paulista. A Polícia Militar precisou usar jatos d'água na manhã desta sexta para dispersar manifestantes pró-impeachment que ocupavam a Paulista havia 36 horas. 

O líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) disse que não teme novas ações agressivas de grupos pró-impeachment no ato desta sexta. “Nós sabemos conviver com essa turma e respeitamos opiniões diferentes. Mas nós não temos sangue de barata e não vamos temer agressão. Agora, se quiserem fazer o que têm feito com pessoas isoladas, eu não recomendaria”, afirmou Guilherme Boulos.

O líder dos sem-teto, porém, deixou claro que não apoia as atuais políticas de governo. “Enfrentamos as posições políticas do atual governo, mas queremos deixar claro que somos contra essa escalada golpista. O jogo político do juiz Sérgio Moro e de um setor da mídia mostra que eles estão brincando com fogo e construindo um clima de intolerância e ódio que ameaça liberdades básicas da democracia”, disse Boulos.

A Secretaria da Segurança Pública demonstrou preocupação e informou que vai destinar o mesmo efetivo policial que fez a segurança do dia 13 de março, em ato que reuniu 500 mil pessoas, segundo o Datafolha, na avenida Paulista para o ato desta sexta, no mesmo local. Além da cúpula da Polícia Militar, os líderes de movimentos sociais também se reuniram com representantes de diversos órgãos municipais para traçar planos para diminuir os impactos no trânsito e segurança na região.

O coordenador geral da Central de Movimentos Populares - à frente do ato desta sexta -, Raimundo Bonfim, disse que o ato terá a participação de 65 grupos e espera que a polícia garanta a segurança dos manifestantes. “Assim como domingo a SSP assegurou que os manifestantes pedissem o impeachment, queremos manter nossa manifestação pacífica e segura. Queremos também que esse padrão se estenda aos atos marcados em mais de 50 cidades, incluindo todas as capitais brasileiras”, disse. Na manhã desta sexta, a polícia removeu os manifestantes pró-impeachment que estavam na avenida Paulista.

Lula

Além de movimentos sociais, personalidades, intelectuais e artistas devem comparecer no ato em São Paulo, entre eles Chico César, Letícia Sabatella, Leci Brandão e Martinho da Vila. Os organizadores dizem que a manifestação, que começará no vão do Masp, não será uma passeata, mas um ato parado, definido como um “comício cultural”, com bandas e atrações culturais. Apenas a CUT congrega mais de 3 milhões de trabalhadores em todo o país.

Questionada pela BBC Brasil sobre a expectativa da presença de apoiadores do governo no ato desta sexta, diante das multidões pró-impeachment que saíram às ruas no domingo, Janeslei Aparecida Albuquerque, representante da CUT na Frente Brasil Popular, disse que a organização “não conta com o apoio patronal nem da grande mídia”.

“Não temos do nosso lado as grandes empresas de comunicação, nem a Fiesp. É um ato do trabalhador, das periferias. Se tivéssemos financiamento e apoio certamente teríamos maior adesão. Mas teremos muitos sindicatos e mais de cem grupos dos EUA e da Europa estão nos apoiando”, disse. Para ela, o protesto será essencialmente “contra o golpe, contra a deposição da presidente Dilma Rousseff, mas a favor de mudanças na política econômica”.

"Motivação"

Para Vagner Freitas, presidente nacional da CUT, “diferentemente do que vimos no último domingo, este não é um protesto movido pelo ódio nem pela raiva, mas sim por quem defende a democracia e os direitos humanos e que se recusa a entrar neste senso comum de quanto pior melhor”.

Apesar de defender a manutenção de Dilma no cargo e apoiar o PT e Lula, a CUT também tem críticas às políticas econômicas do governo. “Criticamos a agenda econômica do segundo mandato da presidente Dilma e fizemos propostas com empresários pelo desenvolvimento do Brasil. Todos que estarão nas ruas na sexta-feira sabem que o país precisa de mudanças na área econômica”.

Sobre potenciais confrontos entre grupos a favor e contra o PT, Dilma e Lula, o presidente nacional da CUT diz esperar que os movimentos antigoverno respeitem a manifestação desta sexta.

“Não fizemos nenhuma convocação no dia 13, respeitando o que nos foi solicitado. Conversei com o secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo e ele me garantiu que não vai permitir a presença de grupos que possam levar a confrontos”.

Metas de educação

Carina Vital, presidente nacional da UNE, agrega que “o impasse e estado de paralisação (política) não beneficiam em nada o país, e estamos preocupados. Deveríamos ter um grande pacto nacional para encontrarmos saídas para a crise”.

Sobre as principais demandas para os universitários, a líder estudantil diz que a entidade tem cobrado do governo mais investimento para garantir as metas do Plano Nacional de Educação (PNE).

“É claro que temos críticas ao governo. Nossa manifestação não é pró-governo, e sim pró-democracia. Somos contrários à saída de Dilma mas a favor de mudanças na política econômica, por exemplo”.