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"Ele só embarcou porque achei seu passaporte", diz amigo de vítima do MS804

O francês Pascal Hess, uma das vítimas do voo MS804, da EgyptAir - Reprodução
O francês Pascal Hess, uma das vítimas do voo MS804, da EgyptAir Imagem: Reprodução

Daniela Fernandes

De Paris, para a BBC Brasil

24/05/2016 01h53

Fotógrafo freelancer de Évreux, na região francesa da Normandia, Pascal Hess tinha cancelado sua viagem para o Egito, onde encontraria um amigo que trabalha como instrutor de mergulho em um clube de férias. O motivo: havia perdido seu passaporte poucos dias antes do embarque. Mas o passaporte foi encontrado por um amigo e Hess acabou embarcando no voo de final trágico.

"Encontrei o passaporte do meu amigo e assim ele conseguiu embarcar no voo da EgyptAir", conta Daniel Picard, muito abalado com a morte de Hess, de 51 anos, um dos 15 franceses que morreram na queda do avião da companhia egípcia no mar Mediterrâneo, na quinta-feira (19) passada. "Ele havia deixado uns pertences na minha casa e acabei encontrando seu passaporte em uma caixa dois dias antes da viagem", afirmou Picard à BBC Brasil.

Ele é dono de uma assistência técnica de máquinas de costura em Évreux e os dois se conheciam havia muitos anos, eram bastante próximos, disse.

Alguns amigos, segundo Picard, haviam aconselhado Hess a não viajar para o Egito por causa do histórico de recentes distúrbios políticos no país e de episódios envolvendo radicais islâmicos.

Em março, um avião da EgyptAir havia sido sequestrado e desviado até o Chipre; em outubro de 2015, um avião de passageiros russo que decolara do balneário egípcio de Sharm el-Sheikh caiu sobre a península do Sinai, matando as 224 pessoas a bordo.

O voo MS804 da Egyptair, que fazia a rota Paris-Cairo, transportava 66 pessoas, sendo 56 passageiros, sete membros da tripulação e três seguranças da companhia aérea, cuja presença a bordo passou a ser comum em viagens para países considerados de risco.

Desde quinta-feira, operações de buscas aéreas e marítimas estão sendo realizadas no Mediterrâneo, entre a ilha grega de Creta e o norte do Egito. Destroços do Airbus A320 foram encontrados 290 quilômetros ao norte de Alexandria, segundo o ministério egípcio da Defesa.

'Pressentimento'

"Eu não disse para ele desistir da viagem, como alguns fizeram", afirmou Picard. "É muito duro", acrescentou ele, que perdeu a mulher recentemente e diz agora viver sob um "estresse terrível".

Hess trabalhava em uma cafeteria no hospital de Évreux e costumava fotografar shows de rock na cidade. Fã de vôlei, registrava em fotos jogos do Évreux Volley Ball, onde trabalhava como voluntário.

Outro amigo dele, dono de um café em Évreux que costumava frequentar, disse ao jornal "Le Parisien" que o francês hesitou em viajar após ter localizado o passaporte. "É estranho, como se ele tivesse um pressentimento", declarou.

Para Picard, Hess estava contente com a viagem. "Qualquer que seja a causa da queda do avião", diz, o resultado é que seu amigo "não está mais presente". Ele diz, porém, achar que será mais duro lidar com a morte se as investigações concluírem tratar-se de um atentado extremista.

Histórias

Vários especialistas em aviação se mantêm prudentes e afirmam que os elementos revelados até o momento não permitem saber se a queda do avião pode ter sido causada por problemas técnicos ou por um atentado.

Entre os 30 egípcios mortos na queda do avião, outra história tem recebido destaque na imprensa internacional: a de Reham Ashery e de seu marido.

Reham sofria de um câncer e tinha viajado a Paris com o objetivo de obter melhor tratamento médico. O casal havia vendido vários bens para pagar a viagem e despesas médicas na França, segundo o jornal inglês "Telegraph". O casal tinha três filhos, que ficaram no Egito.