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"Morte aos traidores": o que se sabe sobre Thomas Mair, acusado de assassinar deputada britânica

Stefan Wermuth/Reuters
Imagem: Stefan Wermuth/Reuters

BBC Mundo

18/06/2016 11h12

Ele se chama Thomas Mair, mas quando perguntaram seu nome durante o julgamento pelo homicídio da deputada britânica Jo Cox neste sábado, a resposta foi: "Morte aos traidores, liberdade para a Grã-Bretanha".

Mair, de 52 anos, foi formalmente acusado na sexta-feira pelo assassinato de Cox, um dia depois de a jovem política se tornar o primeiro membro do Parlamento britânico morto de forma violenta em mais de um quarto de século.

A parlamentar era uma defensora da permanência do Reino Unido na União Europeia. O plebiscito que vai decidir sobre a questão ocorre na semana que vem e tem em seu centro o tema da imigração, que costuma ser vista como um problema pela extrema-direita.

O julgamento de Mair já teve início no Tribunal de Magistrados de Westminster, em Londres. Ele foi acusado de homicídio, lesões corporais graves e posse de arma de fogo.

Cox, de 41 anos, morreu logo depois de ser esfaqueada e baleada em pleno dia após um encontro com seus eleitores em Birstall, uma cidade no centro-norte da Inglaterra.

E a primeira declaração de Mair parece confirmar os relatos que diziam que ele tinha simpatia pela extrema-direita e que gritou "Britain First" (Grã-Bretanha primeiro) no momento do ataque.

A expressão também dá nome a uma organização local de extrema-direita com uma posição anti-imigração que fica no campo oposto ao que defendia a parlamentar assassinada.

Mas, por meio de um comunicado, a Britain First se distanciou imediatamente do incidente, assegurando que "jamais encorajaria um comportamento deste tipo".

A vice-presidente da organização, Jayda Frasen, também disse à BBC que eles haviam analisado seus registros e que Mair nunca foi membro ou teve qualquer tipo de vínculo com a organização.

Uma ONG dos Estados Unidos que rastreia grupos extremistas, no entanto, encontrou vínculos entre Mair e uma organização neonazista americana, aNational Alliance (Aliança Nacional).

Os documentos encontrados pelo grupo, o Southern Poverty Law Cente, sugerem que Mair é um velho simpatizante da organização supremacista branca, que em 1999 lhe deu um manual que incluía instruções para construir uma pistola em casa.

As testemunhas do ataque contra Cox descreveram a arma usada por ele como "caseira" ou muito antiga.

O controle de armas no Reino Unido é muito rígido, o que torna difícil ter acesso a armas.

E vários veículos britânicos afirmam que a polícia encontrou literatura de extrema-direita e parafernália neonazista na casa do suspeito.

Problemas mentais

No bairro de Yorkshire no qual o suspeito vivia, porém, seus vizinhos descreveram Mair como um homem solitário, que era lembrado por atos de solidariedade.

"É uma pessoa quieta. Ele gosta de jardinagem e essas coisas. Mas era um homem de poucas palavras", disse um deles à BBC.

E em uma reportagem do jornal britânico The Guardian o meio-irmão dele, Duane St Louis, descreve Mair como um filho carinhoso que costumava fazer compras para sua mãe duas vezes por semana.

St Louis, que se descreve como de "raça mista" (uma das classificações usadas no Reino Unido), também diz que Mair jamais expressou publicamente opiniões racistas.

"Não posso acreditar que ele tenha feito algo assim", diz.

Seu outro irmão, Scott Mair, fez uma declaração parecida.

"Me custa acreditar no que está acontecendo. Meu irmão não é violento e não era muito ligado em política. Tem um histórico de problemas mentais, mas recebeu ajuda", disse.

Vizinhos da mãe de Mair, por sua vez, disseram à BBC que não sabiam de seus problemas psquiátricos. Outros afirmaram que ele havia recebido tratamento por depressão há alguns anos.

Uma reportagem publicada em 2011 pelo jornal local Huddelsfield Daily Examinercita Tommy Mair explicando que havia começado a trabalhar como voluntário em um parque logo após receber atendimento de um centro especializado.

"Sinceramente, posso dizer que me fez mais bem do que todos os remédios e terapias do mundo", disse Mair na ocasião.

"Muita gente que sofre de problemas de saúde mental termina socialmente isolada e os sentimentos de inutilidade são bastante comuns, especialmente se uma pessoa passa muito tempo desempregado", acrescentou ele, que recentemente havia começado a trabalhar como voluntário em uma escola para crianças com deficiência intelectual.

Mas perto da sua casa, agora isolada pela polícia, os vizinhos não conseguem acreditar no que ocorreu.

"Quando vi a imagem dele na TV eu e minha mulher dissemos: nem em um milhão de anos (teríamos pensado nisso)", disse David Hallas à BBC.

Ele descreve Mair como um homem gentil e educado com quem falava de política sem que ele, nenhuma vez, tenha expressado posições extremistas.

"De todas as pessoas de Birstall que conheço, ele seria o último suspeito da minha lista."

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