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Colômbia firma (de novo) a paz com as Farc: qual é o próximo capítulo desta saga?

O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos (esq) e o líder das Farc, Timoleón Jimenez, apertam as mãos após assinarem o segundo acordo de paz, em Bogotá - Luis Robayo/AFP
O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos (esq) e o líder das Farc, Timoleón Jimenez, apertam as mãos após assinarem o segundo acordo de paz, em Bogotá Imagem: Luis Robayo/AFP

24/11/2016 19h03

O governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) firmaram pela segunda vez em dois meses um acordo de paz para acabar com um conflito armado que dura 52 anos, em mais uma cena de uma novela que se recusa a acabar.

Esperava-se que a cerimônia no dia 26 de setembro em Cartagena fosse antecipar o grande final do conflito, então a ser ratificado por referendo. Mas o "Não" ao acordo venceu a consulta popular - e a história ganhou novos capítulos.

Esta seria uma maneira possível de explicar o que está acontecendo no país, que produziu novelas de sucesso como "Betty, a Feia" ou "Café com Aroma de Mulher" - que chegaram, por exemplo, ao Brasil.

Normalmente, seguidores de tais novelas de TV estão acostumados a assistir cada episódio de forma a ficarem amarrados às tramas, que geralmente têm final feliz.

Em Betty, a Feia, o galã terminou casando com a protagonista, que era uma mulher bonita, mas que parecia mal arrumada.

Quem acompanha as negociações de paz com as Farc se surpreendeu quando, há quase dois meses, foi assinado em Cartagena das Índias o primeiro "acordo final".

Foi uma cerimônia marcante com a participação de milhares de pessoas, incluindo várias personalidades internacionais.

A festa foi estragada seis dias depois, quando um referendo sobre o acordo foi vencido pelos partidários do "Não", por mais de 50 mil votos.

E o resultado caiu literalmente como um balde de água fria nos partidários do acordo.

O resultado do referendo ressuscitou o drama e reiniciou a novela, onde os protagonistas - governo e Farc - já tinham apertado as mãos em mais de uma ocasião.

Parte do público se emocionou quando o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, ganhou o prêmio Nobel da Paz, em outubro.

A expectativa aumentou quando seu governo teve de se reunir com a oposição, ouvir suas propostas e concordar em tempo recorde com a guerrilha em várias alterações no texto, negociado anteriormente em Havana por quatro anos.

Agora, apesar das mudanças nas medidas de punições a combatentes e indenização a vítimas, o novo acordo não satisfez os defensores do "Não" no plebiscito, entre eles o popular ex-presidente Alvaro Uribe e o Partido Conservador.

Esses setores não querem que, depois de desarmados e desmobilizados, os membros das Farc possam participar da vida política se não houver contra eles processos judiciais e penas para cumprir.

Uribe e os conservadores querem, em vez de "penas restritivas de liberdade", que combatentes responsáveis --por crimes no conflito sejam presos. Mas governo e guerrilheiros não cederam nesse ponto.

Embora o governo tenha negado, a oposição continua a dizer que o novo acordo é mais benevolente com os ex-guerrilheiros do que com os agentes do Estado.

Nesta quinta-feira, o governo e as Farc selaram a paz pela segunda vez. Eles fizeram isso em uma cerimônia bem mais discreta, com apenas 800 pessoas em um local que tem sido cenário de grandes dramas há mais de 124 anos: o Teatro Colón, em Bogotá.

Embora a oposição tenha pressionado por um novo referendo, que poderia derrubar o acordo novamente, Santos afirmou que a ratificação do documento será feita no Congresso, onde o governo tem ampla maioria.

A oposição anunciou que irá fazer tudo o que estiver ao seu alcance para impedir a adoção do novo pacto.

Aliados de Uribe querem que o Congresso revogue o acordo, o que é improvável - o ex-presidente convocou "resistência civil" contra o novo documento.

Em paralelo, a Corte Constitucional esclarece que se as reformas forem levadas para o Congresso poderiam ser processadas na metade do tempo, a implementação das reformas de anistia, reforma rural e a participação política serão feitas gradualmente - e tomarão mais tempo.

A implementação do turbulento acordo de paz com as Farc ocorre em meio a ameaças contra líderes de movimentos sociais em áreas que historicamente foram cenário de conflitos armados. E também começa a aquecer os motores da campanha presidencial de 2018.

E já começam a circular os nomes de possíveis candidatos à sucessão de Juan Manuel Santos, incluindo vários defensores do "Não" ao acordo, como a ex-ministra Martha Lucía Ramirez e o ex-procurador Alejandro Ordóñez.

Esta novela, portanto, pode ter tido hoje um capítulo relativamente feliz, mas o drama ainda não acabou.