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Suécia inicia controle na fronteira com Dinamarca para evitar migrantes

Portão de controle de fronteiras foi colocado temporariamente para dividir embarques domésticos e internacionais na Suécia - Johan Nilsson/TT/Reuters
Portão de controle de fronteiras foi colocado temporariamente para dividir embarques domésticos e internacionais na Suécia Imagem: Johan Nilsson/TT/Reuters

Malcom Brabant

03/01/2016 17h09

Autoridades suecas começam a fiscalizar documentos em trens que cruzam o Estreito de Oresund. Medida visa impedir entrada de migrantes irregulares e impõe novo revés ao Acordo de Schengen.

Michael Randropp está na borda da plataforma na estação ferroviária do aeroporto Kastrup, de Copenhague. Ele faz caretas enquanto aponta na direção de uma cerca metálica que separa os trilhos usados pelos trens que vão da capital dinamarquesa para a Suécia.

"Passageiros estão chamando isso de nova Cortina de Ferro ou Muro de Berlim", diz.

A cerca foi implementada para impedir imigrantes com documentação irregular de atravessarem os trilhos e burlarem o controle, que começa nesta segunda-feira (04/01). A estação do aeroporto de Kastrup é a última antes da Suécia.

Vale do Silício escandinavo

Randropp é presidente de uma associação defensora de passageiros e representa as cerca de 15 mil pessoas que viajam diariamente entre Copenhague, Malmö, a terceira maior cidade sueca, e Lund, sede de uma das universidades mais importantes da região. Ele diz que as novas exigências do governo social-democrata sueco terão um impacto deteriorante na região de Oresund, que tem se transformado numa espécie de Vale do Silício escandinavo.

Os novos controles de identidade na estação de Kastrup adicionarão estimados 45 minutos no tempo de viagem para passageiros a caminho de Malmö após um dia de trabalho em Copenhague. Todos os trens dinamarqueses em direção à Suécia serão obrigados a parar no aeroporto, onde forças de segurança examinarão os documentos dos passageiros individualmente.

As medidas visam a evitar que migrantes sem documentação atravessem a Ponte Oresund, que conecta os dois países tanto via rodoviária como ferroviária. A Suécia inclusive alertou as empresas de viagens, tais como o operador de trens da Dinamarca, que eles serão submetidos a multas pesadas caso passageiros irregulares passem a fronteira.

A imposição destas medidas de controle fronteiriço representa uma substancial reviravolta na política de um país que durante grande parte de 2015 apresentou uma política de portas abertas para refugiados que cruzaram da Turquia às ilhas gregas fugindo de conflitos no Oriente Médio.

Premiê: Suécia foi "ingênua"

A Suécia aceitou receber cerca de 100 mil refugiados em 2015, mas até o fim do ano passado o número de chegadas efetivas foi quase o dobro. O país tem encontrado dificuldades para fornecer abrigo, educação e outros serviços essenciais para os futuros requerentes de asilo.

Depois de não conseguir convencer muitos outros países europeus - especialmente a vizinha Dinamarca - a assumir alguns dos encargos com migrantes, o primeiro-ministro da Suécia, Stefan Löfven, disse em novembro que a generosidade foi uma ingenuidade.

Milhares de pessoas permitidas a entrar no país desapareceram após o registro, fazendo com que os serviços policiais e de inteligência advertissem o governo sobre um potencial risco à segurança do Estado.

"Talvez tenha sido difícil para nós aceitarmos que em nosso meio há pessoas que simpatizam com os assassinos 'do Estado Islâmico'", afirmou Löfven.

Segundo o governo, 80% das pessoas que procuraram asilo em 2015 não tinha um passaporte e 60% ainda não conseguiram mostrar qualquer documento de identificação oficial às autoridades.

Pressão política

O primeiro-ministro da Dinamarca, Lars Lokke Rasmussen, que tem defendido medidas mais rigorosas destinadas a tornar o país menos atraente para migrantes, mostrou-se irritado com a Suécia. Ele teme que a conduta sueca faça com que mais refugiados procurem asilo na Dinamarca.

Mas ele também está preocupado que a medida sueca coloque em risco anos de investimento na região de Oresund. "É uma situação muito lamentável", disse. "Já gastamos bilhões na construção da infraestrutura na região de Oresund. Nós gastamos milhões em projetar Copenhague e Malmö como uma única área metropolitana."

O premiê de centro-direita está sob severa pressão da legenda anti-imigração Partido do Povo Dinamarquês (DPP), que fornece apoio parlamentar essencial. O DPP quer a implementação de controles fronteiriços e considera que o Acordo de Schengen está efetivamente extinto.

Rasmussen resistiu a esta pressão quando a Suécia começou a fazer controles de passaportes em seu lado do Estreito de Oresund, em novembro, mas se mostrou pronto para revidar se o número de requerentes de asilo aumentar drasticamente. Isto significaria a reintrodução de fronteiras com a Alemanha e com a própria Suécia.