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Deputados venezuelanos querem investigar acordos com empresas brasileiras

Em São Paulo

23/02/2016 20h09Atualizada em 25/02/2016 18h54

Deputados opositores venezuelanos pedirão às autoridades brasileiras que investiguem os acordos estabelecidos em 2015 entre o governo da Venezuela e empresas do Brasil do setor alimentício e farmacêutico, segundo anunciaram nesta terça-feira em São Paulo dois congressistas do país vizinho.

O deputado Williams Dávila, que liderou hoje uma visita de legisladores venezuelanos à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), afirmou a jornalistas que "é muito importante investigar e saber o nível do convênio" assinado em junho do ano passado com a fabricante de remédios Hypermarcas e a JBS, líder mundial em processamento de carne.

"Na Venezuela há carestia. Não temos agora carne, há escassez, não há remédios" apesar dos acordos assinados, declarou Dávila, ex-governador do estado de Mérida e que detalhou que a JBS fornece o 50% da carne bovina que se consome na Venezuela e 20% do frango.

De acordo com o legislador, a "Assembleia Nacional, em uso de suas atribuições constitucionais", tem a obrigação de averiguar se existe "corrupção, tráfico de influência ou favorecimento" neste tipo de contratos.

Segundo Dávila, a JBS recebeu em um prazo de 90 dias os US$ 3 bilhões fixados no contrato, enquanto às empresas venezuelanas o governo "deve mais de US$ 28 bilhões".

"Queremos saber que outras empresas existem no Brasil, diferentes da JBS, e não estão participando deste monopólio (e possam fornecer à Venezuela)", acrescentou o político do partido Ação Democrática, que lembrou que, em paralelo ao acordo, o ex-presidente da Assembleia, Diosdado Cabello, se reuniu com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Um dia antes do encontro com Lula, Cabello e a delegação ministerial que o acompanhava estiveram no dia 9 de junho na cidade de Amparo, a cerca de 150 quilômetros de São Paulo, visitando fábricas de produção de carne de frango das gigantes brasileiras JBS e BRF.

"Não foi uma visita secreta e queremos saber até que ponto o então presidente da Assembleia Nacional, que não tem faculdades constitucionais, veio a estabelecer este tipo de convênio que era atribuição do poder Executivo", ressaltou.

Nesse sentido, o também deputado Luis Florido, do Partido Vontade Popular e presidente da Comissão Permanente de Política Externa da Assembleia, indicou que "todos os convênios internacionais assinados pela Repúblicas têm que ter constitucionalidade para poder ter uma legalidade".

Uma legalidade, ressaltou Florido, que deve estabelecer-se "dentro do país e fora dele".

"Estes acordos devem ser revisados para ver se existem situações pouco claras para denunciá-las", completou.

Os deputados venezuelanos se deslocarão na quarta-feira à Brasília, onde a delegação terá reuniões com deputados e senadores brasileiros.

Na quinta-feira, os congressistas venezuelanos serão recebidos em uma audiência pública no Senado e se reunirão com o chanceler Mauro Vieira.

A Hypermarcas informou em nota enviada ao UOL que "não possui nenhum contrato com o governo venezuelano e não fornece quaisquer produtos ou serviços para o país vizinho".

Em nota enviada ao UOL, a BRF informa que "não possui unidade produtiva em Amparo, interior de São Paulo. Desta forma, a companhia esclarece que nenhum dos membros da comitiva venezuelana que estiveram no país em 2015 visitaram a empresa, conforme informado pela imprensa".