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Estragos do furacão no Haiti dificultam a chegada de ajuda humanitária

Hector Retamal/AFP Photo
Imagem: Hector Retamal/AFP Photo

María Montecelos

Em Jeremie (Haiti)

11/10/2016 16h06

Uma semana depois de o furacão Matthew arrasar a cidade de Jeremie, ao sudoeste do Haiti, a tarefa de chegar de carro até lá constitui uma verdadeira odisseia, o que dificulta a entrega de ajuda humanitária.

A estrada que sai de Les Cayes é o prelúdio da desolação em que se encontra Jeremie, a cidade em que Matthew parece ter arrancado a alma. Embora centenas de fotos e vídeos já estejam circulando e mostrando o lamentável estado, quase apocalíptico, que ficou a cidade, vê-la ao vivo é assustador.

As ruas ainda estão com barro e as toneladas de escombros estão por toda parte. Não existe um só espaço livre de restos de casas ou vegetação, mas os moradores de Jeremie, capital do departamento de Grand'Anse seguem em frente, mantendo a movimentação nas ruas, principalmente nas comerciais. Sobre suas cabeças, helicópteros sobrevoam o desastre, inspecionando o terreno e transportando ajuda humanitária, que ainda é insuficiente.

A Organização das Nações Unidas (ONU) pediu US$ 119,9 milhões para ajudar 750 mil pessoas atingidas no sudoeste do Haiti pelo ciclone. Mais de 19% da população do Haiti - 2,1 milhões de pessoas - se viu afetada pelo furacão e mais de 12% - 1,4 milhão de pessoas - necessita de assistência urgente em diferentes departamentos do país, sobretudo nos departamentos do sul e de Grand'Anse.

As lojinhas que seguem de pé em Jeremie e têm estoque recebem a visita de clientes que, para levar comida para casa, não pensam duas vezes e driblam montanhas de entulho e árvores que bloqueiam a passagem.

O caminho, até mesmo para veículos 4x4, é difícil. As ruas são íngremes e há pessoas por todas as partes tentando consertar os estragos. Após vários dias em que o acesso por terra a Jeremie era impossível, a estrada é um autêntico chão de pedras em alguns trechos, e não só por causa da ação de Matthew, já que as infraestruturas haitianas são de por si sós deficientes, embora a tempestade tenha contribuído para piorar.

Além dos obstáculos que, arrastados pela chuva torrencial, ainda ocupam parcialmente o longo caminho em inúmeros pontos, há restos de barricadas feitas com pedras e troncos colocadas pelos moradores para pedir pedágio aos motoristas que se aventuram a andar naquela estrada.

Para continuar o caminho, um comboio da Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (Minustah) circula pela região transportando retroescavadeira em um caminhão, seguido por vários veículos com agentes do Brasil e do Uruguai.

Quase todo o percurso é feito pela montanha e essa é uma tarefa vencida passo a passo, e que mostra que de um lado estão paredes instáveis que ameaçam cair a qualquer momento e, do outro, temíveis precipícios.

É difícil imaginar que um veículo pesado possa passar pelas áreas mais estreitas desse caminho. Mais difícil ainda é imaginar que existam pessoas morando nessa região tão árida no meio do nada, mas na encosta da montanha há várias casas, barracos e lenhas chamuscadas, muitos deles totalmente derruídos após a passagem do furacão, que deixou seus proprietários sem nada.

Na passagem pelo Haiti, o furacão Matthew deixou, segundo os dados provisórios divulgados ontem pela Defesa Civil, 372 mortos, quatro desaparecidos, 246 feridos e 175 mil pessoas deslocados em 224 abrigos. Fontes de organismos de socorro e autoridades locais, no entanto, asseguravam na sexta-feira passada que mais de 800 pessoas faleceram.

As organizações não conseguem dar conta de tamanha crise. As equipes deslocadas à região ocuparam praticamente todas as vagas de hotel e encontrar quarto é complicado, dado a precária oferta de um turismo quase inexistente há anos e que após a catástrofe da última semana demorará uma eternidade para voltar.