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Política europeia "salva" os bancos, mas não os desempregados

Crise na Espanha: após resgate de 100 bilhões de euros, UE imporá condições ao governo do país - Daniel Ochoa de Olza/AP
Crise na Espanha: após resgate de 100 bilhões de euros, UE imporá condições ao governo do país Imagem: Daniel Ochoa de Olza/AP

Paul Krugman

12/06/2012 00h01

Uau, outro resgate a bancos, desta vez na Espanha. Quem poderia prever isso?

A resposta, é claro, é todo mundo. Na verdade, a história toda está começando a parecer um esquete humorístico: novamente a economia entra em recessão, o desemprego sobe, os bancos ficam em dificuldades, o governo sai em resgate –mas de alguma forma apenas os bancos são resgatados, não os desempregados.

Apenas para deixar claro, os bancos espanhóis realmente precisavam de resgate. A Espanha estava claramente à beira de um "doom loop" (algo como "ciclo fatal") –um processo conhecido no qual a preocupação com a solvência dos bancos força os bancos a vender ativos, o que derruba os preços desses ativos, o que deixa as pessoas ainda mais preocupadas com a solvência. Os governos podem deter esses "doom loops" com uma injeção de dinheiro: neste caso, entretanto, a solvência do próprio governo espanhol está em questão, de modo que o dinheiro teve que vir de um fundo europeu mais amplo.

Logo, não há nada necessariamente errado com este resgate mais recente (apesar de muito depender dos detalhes). O que é chamativo, entretanto, é que enquanto os líderes europeus montavam esse resgate, eles sinalizavam fortemente que não têm intenção de mudar as políticas que deixaram desempregados quase um quarto dos trabalhadores espanhóis –e mais da metade de sua população jovem.

Mais notadamente, na semana passada o Banco Central Europeu se recusou a cortar as taxas de juros. Essa decisão era amplamente esperada, mas isso não deve nos cegar para o fato de ser profundamente bizarra. O desemprego foi às alturas na zona do euro e todos os indícios são de que o continente está entrando em uma nova recessão. Enquanto isso, a inflação está caindo e as expectativas do mercado de futura inflação despencaram. Segundo qualquer uma das regras habituais de política monetária, a situação pede por cortes agressivos dos juros. Mas o banco central não se move.

E isso nem mesmo leva em consideração o crescente risco de colapso do euro. Por anos, foi dito à Espanha e outros países europeus em dificuldades que só poderiam se recuperar por meio de austeridade fiscal e "desvalorização interna", o que basicamente significa cortes salariais. Agora está completamente claro que essa estratégia não funcionará a menos que haja um forte crescimento e, sim, uma quantidade moderada de inflação no "núcleo" europeu, principalmente na Alemanha –o que fornece um motivo extra para manutenção das taxas de juros baixas e impressão de muito dinheiro. Mas o banco central não se move.

Enquanto isso, as autoridades afirmam que a austeridade e a desvalorização interna funcionariam se as pessoas realmente acreditassem na sua necessidade.

Considere, por exemplo, o que Joerg Asmussen, o representante alemão do conselho executivo do Banco Central Europeu, acabou de dizer na Letônia, que se tornou um exemplo da austeridade supostamente bem-sucedida. (Antes era a Irlanda, mas a economia irlandesa continua se recusando a se recuperar.) "A diferença chave entre, digamos, a Letônia e a Grécia", disse Asmussen, "está no grau de abraçamento do programa de ajuste –não apenas pelos autores nacionais de políticas, mas também pela própria população".

Chame de abordagem Darth Vader à política econômica; Asmussen está na prática dizendo aos gregos: "Eu considero a falta de fé de vocês perturbadora".

Ah, e que o sucesso da Letônia consiste de um ano de bom crescimento, após um declínio econômico como da Depressão nos três anos anteriores. É verdade, 5,5% de crescimento econômico é muito melhor do que nada. Mas vale a pena notar que a economia americana cresceu quase o dobro –10,9%– em 1934, enquanto se recuperava do pior da Grande Depressão. Mas a Depressão estava longe de encerrada.

Reúna tudo isso e você terá um quadro de uma elite política europeia sempre pronta para entrar em ação para defender os bancos, mas totalmente não disposta a reconhecer que suas políticas estão deixando na mão as pessoas que a economia supostamente deveria servir.

Mesmo assim, nós estamos muito melhor? O panorama a curto prazo dos Estados Unidos não é tão sombrio quanto o da Europa, mas o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) prevê baixa inflação e desemprego elevado nos próximos anos –precisamente as condições sob as quais o Fed deveria entrar em ação para estimular a economia. Mas o Fed não se move.

O que explica essa paralisia transatlântica diante do desastre humano e econômico em andamento? A política certamente faz parte disso –independente do que possam dizer, as autoridades do Fed estão claramente intimidadas pelos alertas de que qualquer política expansionista será vista como um resgate ao presidente Barack Obama. Assim como uma mentalidade que vê a dor econômica como de alguma forma redentora, uma mentalidade que um jornalista britânico já chamou de "sadomonetarismo".

Sejam quais forem as raízes profundas dessa paralisia, está ficando cada vez mais claro que será necessária uma catástrofe completa para colocar qualquer política real em ação que vá além de resgates a bancos. Mas não se desespere: no ritmo em que as coisas estão indo, especialmente na Europa, uma catástrofe completa pode estar ali dobrando a esquina.