Topo

Índia vs. China vs. Egito: quem ganha a disputa?

Jovens indianos se refrescam em um canal em Amritsar, na Índia - Narinder Nanu/AFP
Jovens indianos se refrescam em um canal em Amritsar, na Índia Imagem: Narinder Nanu/AFP

Em Nova Déli, Índia

09/02/2013 00h01

É difícil escapar de uma visita à Índia sem que alguém lhe peça para compará-la à China. Esta visita não foi exceção, mas acho que é mais revelador ampliar o quadro e comparar Índia, China e Egito.

A Índia tem um governo central fraco, mas uma sociedade civil realmente forte, fervilhando de eleições e associações em todos os níveis. A China tem um governo central forte, mas uma sociedade civil fraca, mas uma que claramente está lutando para se expressar mais. O Egito tem um governo fraco e uma sociedade civil muito fraca, uma que foi reprimida por 50 anos, a qual foi negada eleições reais e, portanto, é presa fácil para ter sua revolução desviada por um grupo capaz de se organizar, a Irmandade Muçulmana, no único espaço livre, a mesquita. Mas há uma coisa que todos os três têm em comum: um número imenso de jovens com menos de 30 anos, cada vez mais conectados pela tecnologia, mas com educação muito desigual.

Meu ponto de vista: dentre os três, aquele que mais prosperará no século 21 será aquele que for mais bem-sucedido em converter seus jovens em um “dividendo demográfico” que dê retorno a cada década, em vez de uma “bomba demográfica” que continue explodindo a cada década. Essa será a sociedade que proverá aos jovens mais educação, empregos e a voz que buscam para atingir seu potencial pleno.

Esta corrida trata-se de “quem é mais capaz de capacitar e inspirar seus jovens para ajudar na construção de uma ampla sociedade próspera”, argumenta Dov Seidman, autor de “Como –Por Que o Como Fazer Algo Significa Tudo” e presidente-executivo da LRN, que tem um centro de operações na Índia. “E isso envolve líderes, pais e professores criando ambientes nos quais os jovens possam sair em busca não de um emprego, mas sim de uma carreira –para uma vida melhor que não apenas supere, mas sim supere em muito a de seus pais.” Os países que fracassarem em fazer isso terão uma massa de jovens não apenas desempregada, mas não empregável, ele argumentou. “Eles estarão desconectados em um mundo conectado, em desespero ao verem outros desenvolverem e concretizarem seu potencial e curiosidade.”

Se o seu país tem um governo forte ou uma sociedade civil forte, ele tem a capacidade de enfrentar esse desafio. Se não tem nenhum, ele terá problemas reais, o motivo para o Egito estar em dificuldades. A China lidera ao fornecer à sua massa de jovens educação, infraestrutura e empregos, mas deixa a desejar no estímulo à liberdade e curiosidade. A Índia é o caso mais intrigante –se conseguir colocar sua governança e corrupção sob controle. A busca por mobilidade para cima aqui, especialmente entre as meninas e mulheres, é palpável. Eu participei na semana passada de uma cerimônia de formatura do Instituto de Energia e Recursos. Dos 12 prêmios para os melhores alunos, 11 foram para mulheres.

“A Índia tem hoje 560 milhões de jovens com menos de 25 anos e 225 milhões entre 10 e 19 anos”, explicou Shashi Tharoor, o ministro de Recursos Humanos e Desenvolvimento da Índia. “Logo, pelos próximos 40 anos, nós teremos uma população jovem em idade de trabalho” em um momento em que a China e o mundo industrializado em geral está envelhecendo.

Segundo Tharoor, a idade média na China atualmente é de aproximadamente 38 anos, enquanto a da Índia é de aproximadamente 28 anos. Em 20 anos, essa diferença será muito maior. Isso poderia se transformar em um imenso dividendo demográfico “se pudermos educar nossos jovens, oferecendo cursos técnicos para alguns e universidade para outros, para capacitá-los para tirarem proveito do que a economia global do século 21 tem a oferecer”, disse Tharoor. “Se agirmos do modo certo, a Índia se transformará em um motor do mundo. Se agirmos de modo errado, não há nada pior do que jovens desempregados e frustrados.”

De fato, parte dos jovens descontentes da Índia estão se voltando para o maoísmo nas áreas rurais.

“Nós temos maoístas entre nossas populações tribais, que não se beneficiaram com as oportunidades da Índia moderna”, disse Tharoor.

Ocorreram incidentes maoístas violentos em 165 dos 625 distritos da Índia nos últimos anos, já que os maoístas exploram todos aqueles que ficaram de fora do “sonho indiano”. Logo, há um enorme esforço aqui para atrair as crianças pobres para a escola. A Índia tem o maior programa de merenda escolar do mundo, servindo 250 milhões de refeições escolares gratuitas por dia. Ela também dobrou o número de Institutos Indianos de Tecnologia, de oito para 16, e está planejando 14 novas universidades para inovação e pesquisa.

Mas isso não servirá para nada sem uma melhor governança, argumenta Gurcharan Das, ex-presidente-executivo da Procter & Gamble India, cujo livro mais recente é “India Grows at Night: A Liberal Case for a Strong State”. “A Índia com aspirações não tem em que votar, porque ninguém está falando a linguagem dos bens públicos. Por que é preciso 15 anos para obter justiça nos tribunais ou 12 anos para a construção de uma estrada? A distância entre as aspirações (dos jovens) e o desempenho do governo é imensa. Minha tese é de que a Índia ascendeu apesar do Estado. É uma história de fracasso público e sucesso privado.”

Isso é o que Das quer dizer com o título de seu livro, que a Índia cresce à noite, quando o governo dorme.

“Mas a Índia precisa aprender a crescer durante o dia”, ele disse. “Se a Índia consertar sua governança antes que a China conserte sua política, então ela vencerá. (...) É preciso um Estado forte e uma sociedade forte, de modo que a sociedade possa fazer o Estado prestar contas. A Índia só terá um Estado forte quando o melhor da sociedade se juntar ao governo, e a China só terá uma sociedade forte quando os melhores mandarins ingressarem no setor privado.”