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'Jeitinho brasileiro me ajudou', diz executivo de missão da Nasa

Natural de Guaratinguetá, Ramon de Paula é um dos três brasileiros envolvidos na missão da Nasa que levou o jipe-robô Curiosity a Marte nesta semana - Arquivo Pessoal
Natural de Guaratinguetá, Ramon de Paula é um dos três brasileiros envolvidos na missão da Nasa que levou o jipe-robô Curiosity a Marte nesta semana Imagem: Arquivo Pessoal

08/08/2012 16h45

Natural de Guaratinguetá, no interior de São Paulo, e trabalhando na Nasa há quase três décadas, Ramon de Paula, de 59 anos, é um dos três brasileiros envolvidos na missão da agência espacial americana que levou o jipe-robô Curiosity a Marte nesta semana.

Vivendo nos Estados Unidos desde os 17 anos, o engenheiro é um dos executivos nas missões de Marte no quartel-general da Nasa em Washington. Como um dos chefes desses programas, tem entre suas principais atribuições resolver problemas técnicos e burocráticos.

Ele comemorou o sucesso da missão Mars Science Laboratory quando o jipe-robô Curiosity tocou o solo do "planeta vermelho" na última segunda-feira. "Foi um alívio, um momento muito, muito emocional", diz De Paula, em entrevista à BBC Brasil.

"Tivemos algumas questões nas últimas três semanas, mas não poderíamos mais adiar a descida", acrescenta. "Foi uma sensação de dever cumprido, de ter ultrapassado dificuldades e momentos de muita pressão. Foram US$ 2,5 bilhões, a missão para Marte mais cara até hoje."

O brasileiro celebrou ao lado de mais de mil cientistas, engenheiros e técnicos envolvidos na missão, e disse que o momento de alegria fez valer a pena todo o esforço dos últimos anos. Além dele, mais dois brasileiros integram a missão: Jaqueline Lyra e Nilton Rennó.

"O 'marco' histórico dessa missão só vai ser conhecido daqui a cerca de dois anos, quando os dados científicos começarem a chegar", afirma o engenheiro. "Mas hoje a chegada do Curiosity a Marte já representa um passo tecnológico muito importante para a humanidade."

Para ele, que gerencia projetos que envolvem mais de 500 pessoas, o "jeitinho brasileiro" foi decisivo em sua carreira.

"Ser brasileiro definitivamente me ajudou", afirma. "Minha função é achar solução para todos os problemas relacionados às missões, e tudo que aprendi no Brasil, aliado à nossa cultura foram fatores decisivos."

"Meu mantra aqui é: sempre tem um jeito de resolver o problema. Nem todas as culturas têm essa flexibilidade diante de desafios", acrescenta.


De Paula conta que precisa tomar decisões a todo momento. "São avaliações de risco, aspectos políticos, técnicos, financeiros e científicos das missões. Temos de responder ao Congresso americano e à Casa Branca, por exemplo, pois são eles que decidem nosso orçamento."

Missão tripulada

O cientista brasileiro destaca que, de todas as missões, incluindo sondas e robôs, que já foram enviadas a Marte, esta é a mais sofisticada.

Trata-se da terceira vez vez que a Nasa envia equipamentos capazes de coletar, analisar e enviar resultados de amostras de rochas e materiais encontrados em solo marciano, porém o Curiosity é o mais avançado.

"O objetivo é procurar vestígios da vida, moléculas orgânicas, para determinar a habitabilidade do planeta. Marte foi um dia muito parecido com a Terra e hoje é muito diferente", diz o engenheiro.

De Paula afirma ainda que o desafio da Nasa é enviar uma nave tripulada a Marte até 2030, para que um homem possa dar uma volta completa em torno do planeta e retornar à Terra.

Questionado sobre a possibilidade de vida fora da Terra, o brasileiro diz que "provavelmente não estamos sozinhos".

"Seria muita arrogância pensar que, num universo tão imenso, só aqui existe vida, mas até hoje não sabemos", diz. "Mas vamos ver o que a ciência nos mostra."

Brasil

De Paula nasceu em Guaratinguetá e mudou-se aos sete anos para Pirassununga, também no interior de São Paulo. De lá foi para Washington, aos 17 anos, quando o pai foi selecionado para integrar a Comissão da Aeronáutica Brasileira na capital americana.

Dois anos depois, a família retornou ao Brasil, mas ele ficou e, após terminar o colegial, formou-se nos Estados Unidos. Em 1985, ingressou na agência espacial americana.

Casado desde 1974 e pai de dois filhos, só volta ao Brasil "para visitar", mas mantém uma relação muito forte com sua terra natal, expressa até ao elogiar o programa espacial brasileiro.

"É muito importante o que o Brasil tem feito no setor espacial mundial", avalia o engenheiro da Nasa. "Definitivamente o Brasil tem a capacidade de avançar seu programa espacial. Afinal, nós brasileiros damos um jeitinho para tudo."