Depoimentos de ex-comandantes reforçam elo de Bolsonaro com plano de golpe
Os ex-comandantes do Exército, Freire Gomes, e da Aeronáutica, Carlos Baptista Júnior, relataram à Polícia Federal os detalhes sobre as articulações golpistas conduzidas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e confirmaram a participação em uma reunião convocada por Bolsonaro para discutir uma minuta de um decreto golpista.
Os depoimentos foram considerados importantes para os investigadores, já que corroboraram as suspeitas iniciais da investigação e trouxeram novos elementos para o aprofundamento do assunto.
O depoimento de Freire Gomes ocorreu na última sexta-feira (1º) e teve duração de mais de dez horas. Ele estava em viagem fora do país e retornou ao Brasil para prestar esclarecimentos à PF. No seu relato, ele confirmou sua participação na reunião sobre o decreto golpista. A informação foi revelada no sábado (2) pela "CNN" e confirmada pelo UOL.
O ex-chefe da Aeronáutica, Baptista Júnior, também confirmou a participação nessa reunião, de acordo com fontes que acompanham a investigação. O teor desses depoimentos está sob sigilo.
Essas articulações golpistas foram inicialmente relatadas à Polícia Federal pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro que fechou uma delação premiada com a PF.
Como revelou o UOL em setembro, Cid contou aos investigadores que o ex-assessor Filipe Martins apresentou uma minuta de decreto golpista a Bolsonaro, que previa convocar novas eleições e prender adversários políticos. Bolsonaro consultou os chefes das Forças Armadas a respeito do documento. Segundo o relato de Cid, o então comandante da Marinha, Almir Garnier, manifestou apoio à iniciativa e colocou suas tropas à disposição de Bolsonaro, mas o plano golpista foi rejeitado por Freire Gomes e Baptista Júnior.
Os depoimentos dos ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica corroboram o relato da delação premiada de Mauro Cid. O comandante da Marinha ficou em silêncio em seu depoimento à PF.
Na avaliação de fontes que acompanham as investigações, essas provas colhidas até o momento já comprovam que a reunião golpista de fato existiu. Agora, a PF analisa os telefones celulares apreendidos na operação Tempus Veritatis para buscar detalhes sobre a participação de outros personagens, incluindo militares, na tentativa de golpe de Estado.
Em uma manifestação convocada na Avenida Paulista no último dia 25, Bolsonaro chegou a admitir as discussões de minutas golpistas. A fala foi interpretada por investigadores como uma admissão do seu envolvimento nas tratativas.
"O golpe é porque tem uma minuta de um decreto de estado de defesa. Golpe usando a Constituição? Tenham santa paciência", disse Bolsonaro. Sua defesa negou que a declaração seja uma confirmação da discussão sobre a minuta golpista e disse que não há provas do envolvimento do ex-presidente com o assunto.
Os próximos passos
O tenente-coronel Mauro Cid ainda deve ser chamado para prestar esclarecimentos complementares, já que parte das informações encontradas pela PF em seu celular não foram abordadas por ele em sua delação premiada.
A meta dos investigadores é concluir ainda no primeiro semestre deste ano a apuração sobre a atuação das milícias digitais vinculadas a Jair Bolsonaro, que inclui a tentativa de golpe de Estado.
Depois da conclusão, o caso será encaminhado ao procurador-geral da República, Paulo Gonet, para a análise da apresentação de denúncia contra os envolvidos.
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