Amanda Cotrim

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Venezuela tem panelaço após proclamação da eleição de Maduro: 'Vamos lutar'

Um dia após a eleição que deu vitória ao ditador Nicolás Maduro, a Venezuela vive clima de apreensão por parte da população e revolta com o resultado nas urnas. "Vamos lutar! Não vamos deixar de lutar!" foram gritos ouvidos na capital Caracas durante um panelaço de 45 minutos nesta segunda-feira (29). Em grupos de WhatsApp de venezuelanos, ameaças em áudio com dizeres "vamos colocar fogo em tudo, vamos queimar tudo. Querem guerra? Vamos ter guerra" aumentam a tensão.

Muita gente não se conforma com o resultado e acusa o governo Maduro de fraude nas eleições. Em Altamira, região de classe média e tradicionalmente opositora ao chavismo, as pessoas nas ruas diziam que se sentiam com "ressaca moral" e contestaram o resultado das urnas. "Ganhamos com 70%", disseram, fazendo coro ao discurso da opositora Maria Corina Machado.

No domingo, após o resultado oficial do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), ela afirmou que o verdadeiro presidente eleito é o diplomata Edmundo González Urrutia, o representante de Corina, que não pode se candidatar por estar inabilitada por 15 anos pela Controladoria Geral do país. O órgão alega irregularidades nas contas dela.

Caracas teve panelaço e buzinaço em bairros de classe média, tradicionalmente opositores ao chavismo, em bairros populares, como Petare, a maior favela da Venezuela, além de bairros centrais, como Miraflores, onde está a sede do governo venezuelano. Parte da população nas ruas de Caracas está apreensiva e ansiosa pelo que virá. Ninguém sabe o que pode acontecer nos próximos dias, diante de uma eleição que foi marcada por incertezas e desconfianças.

Uma venezuelana, que pediu para que seu nome verdadeiro não fosse identificado, disse que foi fiscal de mesa de votação no colégio eleitoral São Francisco de Assis, na capital. Segundo seu relato à reportagem, na mesa em que ela fiscalizou, foram contabilizados 304 votos para Edmundo González e 49 votos para Maduro. "Não é possível que esse homem tenha ganhado. Eu vi. Ele perdeu na maioria das mesas do meu colégio", disse. "Sabe o que se chama? Fraude", afirmou, inconformada.

O jornalista venezuelano Eugenio Martinez, especialista em política, afirmou que depois da denúncia sobre o sistema de transmissão dos resultados ter sofrido uma pane a auditoria se torna extremamente necessária e é essencial que ela aconteça dentro de 24 horas. Mas, segundo ele, "lamentavelmente, o CNE suspendeu essa auditoria". "Se essa auditoria não for realizada hoje, ela perderá toda validade", avaliou.

Maduro é proclamado presidente

Nicolás Maduro foi oficialmente proclamado presidente nesta segunda-feira, seguindo o calendário eleitoral do país. Na cerimônia, afirmou que há uma tentativa de golpe de Estado de caráter fascista e contrarrevolucionário no país.

A oposição acusa o governo de fraude. O CNE da Venezuela afirmou no domingo (28) que a eleição de Maduro foi garantida mesmo com 80% das urnas apuradas. O chavismo venceu com 51,2% dos votos contra 44,2% de González Urrutia, segundo o CNE. O órgão informou que 59% da população participou do pleito, em um cenário de 21 milhões de venezuelanos aptos a votar. Foi a maior adesão dos últimos anos no país.

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O CNE afirmou que seu sistema sofreu um ataque virtual e que isso atrasou a contagem dos votos, mas não deu mais detalhes. Também não informou até o momento o resultado dos 20% das urnas restantes.

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