Bolsonaro faz piadas sobre a covid-19; Dimas Covas produz primeiras vacinas
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Enquanto o Instituto Butantan começava a produzir as primeiras vacinas contra a covid-19, em São Paulo, que chegará a fornecer um milhão de doses por dia, viralizou nas redes sociais um vídeo em que o presidente Jair Bolsonaro aparece fazendo piadas sobre a doença.
Às gargalhadas, rodeado de apoiadores no Palácio da Alvorada, Bolsonaro afinou a voz: "Ah, eu estou com covid. Tem muita gente indo pra lá tomar... Estou com covid".
A gravação, que circula nas redes bolsonaristas, foi gravada duas semanas atrás, quando começou a subir a curva de óbitos e contaminações da pandemia, que já matou quase 180 mil brasileiros.
A piada homofóbica fazia referência a um tratamento de ozonioterapia, aplicada por via retal, que foi lançado pelo prefeito de Itajaí, em Santa Catarina, cidade que o presidente pretende visitar antes do Natal. "Mas eu não vou tomar ozônio lá, não", tranquilizou os devotos, arrancando mais risadas.
É assim que o presidente, negacionista e inoperante, irresponsável e debochado, trata a mais grave crise sanitária já vivida pelo país, que enfrenta nova onda de coronavírus, sem ter um plano nacional de imunização, sem ter fechado até agora a compra de vacinas nem de seringas, com o apalermado general do Ministério da Saúde correndo de um lado para outro como barata tonta.
Não é para rir. Os hospitais estão ficando superlotados de pacientes à espera de vagas em UTIs ou enfermarias, com os médicos entrando em pânico, enquanto o presidente viaja para o Rio Grande do Sul, onde voltou a defender a cloroquina e teve a coragem de afirmar que "a pandemia já está no finalzinho".
Estados e municípios apelam ao Estado de São Paulo
Enquanto Bolsonaro brinca de presidente, em São Paulo um professor de medicina, hematologista e hemoterapeuta, comemora discretamente a produção das primeiras doses da Coronavac, a vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, do qual ele é diretor desde março de 2017.
Trata-se do doutor Dimas Tadeu Covas, um senhor calvo de poucas e suaves palavras, que passou esse ano inteiro se dedicando apenas a desenvolver a vacina capaz de evitar mais milhares de mortes no país, depois da primeira dose, a partir do dia 25 de janeiro de 2021, se a Anvisa de Bolsonaro e do general Pazuello deixarem.
Outros 11 estados e 912 municípios já pediram a vacina ao governo de São Paulo, que ocupou o vazio deixado pelo governo federal na guerra das vacinas que deixou o Brasil para trás, enquanto o presidente Bolsonaro negava a gravidade da pandemia e se dedicava apenas à campanha pela sua reeleição. Para quê?
Sob o comando de Dimas Covas, o Butantan vai trabalhar 24 horas por dia, todos os dias da semana, para atender não só a São Paulo e ao Brasil, mas também a outros países da América Latina, que já manifestaram interesse na compra da vacina.
Brechó e armas importadas, tá ok?
A chamada Guerra da Vacina de 2020 escrachou a absoluta incompetência do governo federal para enfrentar os mais graves problemas do país, sanitários, sociais e econômicos, levando os brasileiros a um sentimento de absoluta orfandade, anestesiados pelo medo e desesperançados.
Em meio ao desespero de milhares de famílias brasileiras, que não encontram vagas para seus parentes nos hospitais, o presidente ainda encontrou tempo para inaugurar solenemente um brechó no Palácio do Planalto, com as roupas que ele e a primeira-dama usaram no dia da posse, e ainda liberar a importação de armas e munições. Para quê?
Daqui a cem anos, quando os historiadores do futuro contarem o que passamos em 2020, espero que não esqueçam de um homem que remou contra a maré, confiou no seu taco e arrostou a onda bolsonarista antivacina, chamado Dimas Tadeu Covas.
Se sobrevivermos a essa pandemia do pandemônio, devemos nossas vidas a ele.
Valeu, doutor Dimas, obrigado.
Vida que segue.
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