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Poderes discutem o que fazer com o presidente: Jair Bolsonaro é um estorvo
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A situação que estamos vivendo faz lembrar aquelas reuniões familiares de domingo, quando se discute o que fazer com um parente problemático —se é o caso de interditá-lo, interná-lo num asilo ou num hospital, levá-lo para uma fazenda distante, qualquer coisa para que o estorvo pare de incomodar e prejudicar os outros.
Estorvo, segundo os dicionários, é aquilo que impede, embaraça a realização ou desenvolvimento de algo, um obstáculo.
O caso é mais grave quando esse parente é o presidente da República, que pode prejudicar um país inteiro.
Nos últimos dias, representantes dos três Poderes têm feito seguidas reuniões para discutir o que fazer com o presidente Bolsonaro.
Pelos relatos publicados na imprensa, estuda-se uma solução sem tirá-lo do cargo, o que poderia ser traumático, mas limitando suas ações ao mínimo necessário.
O presidente do Senado e o chefe da Casa Civil tentam convencer o presidente do STF a retomar a ideia de promover uma reunião com os chefes dos três Poderes para estabelecer um pacto de convivência e assim evitar novas crises.
Enquanto isso, o presidente passa a maior parte do seu tempo visitando instalações militares e templos, onde pede orações para enfrentar a inflação e o desemprego galopantes, com o dólar subindo e a Bolsa caindo. O temido mercado também já está tirando o time de campo.
Responsável por encontrar soluções menos místicas, não demorou para o ministro da Economia, o fracassado Paulo Guedes, responsabilizar o ex-presidente Lula pelo nervosismo do mercado e o temor dos investidores, porque o petista tem a ousadia de liderar todas as pesquisas presidenciais, cada vez aumentando mais a sua vantagem sobre Bolsonaro.
Todos eles sabem que é impossível controlar o presidente, a começar pelos generais palacianos, que o estimulam a fazer mais viagens pelo país, e assim criar menos problemas em Brasília.
Parece que conseguiram pelo menos demovê-lo da ideia de entregar pessoalmente ao presidente ao Senado o pedido de impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal.
Só se espera que Bolsonaro não convoque um novo desfile de tanques para um oficial fardado fazer esta entrega a Rodrigo Pacheco, o passador de pano oficial da República. Mas até ele já está perdendo a paciência com o presidente que insiste em atacar o STF.
Nesta semana, Pacheco alertou Bolsonaro publicamente que a discussão do impeachment de ministros do Supremo "não é recomendável no momento". A interlocutores, segundo a Folha, o senador disse que "ações incendiárias dificultarão ainda mais a vida do Planalto no Parlamento".
O problema é que o presidente busca exatamente o contrário: provocar cada vez mais conflitos para agradar à sua base enfurecida, que vem minguando, pesquisa a pesquisa. O novo levantamento do PoderData, divulgado hoje, mostra que a rejeição a Bolsonaro subiu para 64%. Só 28% ainda o apoiam.
"Bolsonaro está perdidinho", constatou o sábio cacique Gilberto Kassab, dono do PSD, ao final de uma reunião da "terceira via", na quarta-feira.
Quando se sentia nessa situação periclitante, o presidente João Figueiredo, último dos generais da ditadura militar, ameaçava "chamar o Pires" (Válter Pires, então ministro do Exército). Figueiredo se arrastou até o final do mandato, não chegou a chamar o Pires, mas deixou o Palácio do Planalto pela porta dos fundos.
Hoje, o capitão Bolsonaro não precisa nem chamar o general Braga, atual ministro da Defesa, que está sempre de prontidão para defender o presidente, em qualquer situação.
Ninguém mais sabe o que fazer com o estorvo do presidente, que, fora da realidade, só pensa na reeleição.
Me fez lembrar o generalíssimo Franco, aquele da Guerra Civil Espanhola. Quando já estava nas últimas, ao aparecer na sacada do palácio e ver a multidão acenando lenços brancos, perguntou:
"Para onde estão indo todos?".
Não quero ser pessimista, mas, pelo andar da carruagem, estamos todos indo para um buraco sem fundo.
Vida que segue.
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