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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Uma chapa Lula-Alckmin? Sim, é possível, e esta é uma boa notícia da Folha

Colunista do UOL

04/11/2021 15h28

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Ainda a onze meses da eleição, até que anda bem movimentada a corrida presidencial para 2022.

Todo dia entra na pista um candidato novo. Ciro briga com o PDT e ameaça abandonar a candidatura dele. Bolsonaro parte para cima de Moro e vice-versa.

Mas o principal fato político do dia é o furo dado nesta quinta-feira pela minha amiga Mônica Bergamo, em sua coluna na Folha:

"Uma costura delicada entre lideranças do PT e do PSB tenta viabilizar uma chapa que una Lula como candidato a presidente da República e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin como vice".

A fonte não poderia ser mais confiável porque Mônica Bergamo é uma das poucas jornalistas que circula em todas as latitudes da política e é respeitada em todas elas.

Se essa aliança vai dar certo, ainda não dá para saber, mas o simples fato de esta possibilidade estar sendo discutida é uma boa notícia para o país civilizado que sobreviveu à criminalização da política promovida pela Operação Lava Jato.

Pelo menos, o país não votaria no escuro num salvador da pátria, como aconteceu em 2018: Lula já foi presidente da República por dois mandatos e deixou o governo com quase 90% de aprovação, enquanto Geraldo Alckmin governou São Paulo umas três ou quatro vezes.

Virtudes e defeitos dos dois são de amplo conhecimento público, assim como a biografia política de cada um. Ninguém poderá dizer mais tarde que foi enganado.

"Para viabilizar a ideia, algumas dificuldades precisam ser contornadas. Em primeiro lugar, tanto Lula quanto Alckmin ainda precisam ser convencidos plenamente de que a chapa pode funcionar _ não apenas para ganhar as eleições, mas especialmente para governar", escreve a colunista.

E este é o ponto central que poderia mover Lula e Alckmin a se unirem em 2022, pensando no que seria melhor para o país.

Acima do cacife eleitoral de cada um, está a capacidade de ambos de dialogar com as diferentes forças políticas e entidades da sociedade civil, em busca de convergências. O grande desafio não é como ganhar a eleição, mas como governar depois, sem ter que distribuir emendas secretas para ter maioria no Congresso.

Num ambiente político tão conflagrado e beligerante como vivemos ultimamente, com um país em ruínas, que clama por equilíbrio, paz e união, para promover a reconstrução nacional, precisamos de homens públicos que se coloquem acima das picuinhas e dos projetos pessoais, experimentados na lida da vida pública e voltados para promover o bem-estar social. Ambos já estão velhos para alimentar vaidades.

Não é a primeira vez que se tenta algo do gênero.

Às vésperas do Natal de 1993, o petista Lula e os tucanos Tasso Jereissati e Ciro Gomes, que depois migraria para vários outros partidos, chegaram a esboçar uma aliança PT-PSDB para as eleições do ano seguinte.

Foi na Cantina do Mário, no bairro do Ipiranga, em São Paulo, próximo ao escritório de Lula, lembro-me muito bem. A conversa rolou animada em torno de uma chapa Lula-Tasso, mas antes que eles se reunissem de novo, outro tucano, Fernando Henrique Cardoso, já costurava uma aliança com o PFL do cacique baiano Antonio Carlos Magalhães, sob as bênçãos de Roberto Marinho, e a ideia morreu no nascedouro.

Os 16 anos dos governos FHC e Lula, que se sucederam, foram os melhores e mais tranquilos do período pós redemocratização.

Outra lembrança que tenho é o de uma viagem de Lula à China, em seu primeiro mandato, quando foi acompanhado por uma fornida comitiva de empresários e políticos de diferentes partidos.

Entre eles, estava Geraldo Alckmin, então governador de São Paulo, que viajou com a esposa e a filha, chamando a atenção dos jornalistas que não conheciam o bom convívio do petista com o tucano.

Agora, de saída do PSDB, Alckmin poderia ir para o PSB, partido com o qual Lula já pensava em se aliar para 2022, o que seria um passo importante para levar adiante a negociação em torno da chapa, revelada por Mônica Bergamo.

Segundo a colunista, "os petistas que defendem a possibilidade afirmam que, apesar das diferenças com os tucanos na área econômica, Alckmin é o último remanescente do PSDB histórico, de Mário Covas e de Franco Montoro: apegado a valores democráticos e com olhar generoso em relação aos problemas sociais do Brasil".

Aconteça o que acontecer, este é a meu ver o fato novo mais importante da atual campanha eleitoral: a disposição de Lula de caminhar em direção ao centro e a de Alckmin de se aliar a um antigo adversário, com quem já disputou a presidência.

Com tantas novidades velhas, o Brasil anda muito carente de uma nova esperança de futuro para sair desse buraco em que se meteu na onda conservadora da antipolítica de 2018.

Muita gente me ligou hoje para perguntar o que acho dessa ideia. Acho excelente, e dou a maior força. Conheço bem os dois lados e sei do que estou falando.

Por último, para não variar, me lembrei da campanha das Diretas Já, que uniu o país contra a ditadura já nos estertores, quando os personagens citados nesta coluna estavam no mesmo palanque.

Os adversários ainda são os mesmos... A democracia brasileira agradece.

Vida que segue.