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OPINIÃO

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"Eu vou dar golpe em mim mesmo?" Veja o que Mourão já disse do "autogolpe"

Bolsonaro e Mourão: com quase quatro anos de diferença, os dois falam sobre "autogolpe". Por que será agora? - Reprodução/UOL
Bolsonaro e Mourão: com quase quatro anos de diferença, os dois falam sobre "autogolpe". Por que será agora? Imagem: Reprodução/UOL

Colunista do UOL

22/07/2022 16h34

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Em tom de deboche, assim como não quer nada, o presidente Jair Bolsonaro voltou a falar em golpe nesta sexta-feira, durante visita a um posto de gasolina em Brasília, para mostrar como os preços estão baixando.

Só que, desta vez, falou em "autogolpe", uma possibilidade levantada já na campanha eleitoral de 2018 pelo general Hamilton Mourão, em entrevista à GloboNews,

"General Mourão admite que, na hipótese de anarquia, pode haver autogolpe do presidente com apoio das Forças Armadas", foi o título da matéria publicada no Globo no dia seguinte.

Muita gente esquece, mas me lembro bem desse diálogo com Merval Pereira na série de entrevistas com os candidatos a vice-presidente. Ainda não há sinais de anarquia, apesar dos esforços do governo, mas vale a pena lembrar o que disse Mourão em setembro de 2018, a um mês das eleições, no diálogo com o jornalista Merval Pereira.

Merval: Quem é que vai decidir que a situação está de anarquia nesse limite que o senhor está colocando?

Mourão: Pra isso que existe comandante, né? O comandante teria que decidir, não seria a iniciativa...

Merval: Mas o comandante quem? O presidente da República?

Mourão: O próprio presidente é o comandante-em-chefe das Forças Armadas. Ele pode decidir isso. Ele pode decidir empregar as Forças Armadas. Aí você pode dizer: "mas isso é um autogolpe".

Merval: É, é um autogolpe.

Mourão: É um autogolpe, você pode dizer isso.

Merval: O senhor admite a possibilidade teórica de haver um autogolpe?

Mourão: Já houve em outros países, né? Aqui nunca houve.

Nunca houve, mas, desde que Bolsonaro tomou posse, ele não pensou em outra coisa, diante dos limites que são impostos ao seu poder pela Constituição e o seu guardião, o Supremo Tribunal Federal.

Por isso, ele transformou o STF no seu principal inimigo, já antes da eleição, quando seu filho Eduardo, o 03, falou que para fechar o tribunal bastariam um jipe, um cabo e um soldado.

No 7 de setembro do ano passado, ele tentou dar o ataque final, com os discursos em que insuflou seus seguidores a fechar o Supremo, com uma carreata de caminhoneiros, que flopou.

Mas nunca desistiu desse objetivo, mesmo depois de pedir arreglo aos ministros, com a ajuda do ex-presidente Michel Temer, que o ajudou a escrever uma cartinha carinhosa aos seus desafetos.

Hoje, no posto de gasolina, ao ser perguntado sobre o seu embate com o STF, Bolsonaro voltou ao tema do "autogolpe" abordado candidamente pelo seu vice, general Mourão, quase quatro anos atrás.

"Nós temos muito tempo pela frente... Eu vou dar golpe em mim mesmo, é isso? Eu vou dar um autogolpe?", desconversou, como se nunca tivesse pensado nisso.

Na mesma entrevista, Bolsonaro voltou a defender a adoção de um sistema de apuração paralelo, já proposto pelo seu ministro da Defesa, Paulo Sergio Nogueira, mas evitou responder o que fará caso o Tribunal Superior Eleitoral não aceite essa "sugestão" dos militares.

Também quando foi questionado se irá passar a faixa presidencial caso o modelo atual seja mantido pelo TSE, e ele perca as eleições, Bolsonaro não respondeu à repórter:

"Você está louca que eu fale "não", né?"

Como não disse nem sim nem não, ficou mais uma vez a dúvida no ar para gerar insegurança nos eleitores sobre o que pode acontecer antes ou depois do dia 2 de outubro, que é o principal objetivo da campanha do presidente no momento em que se encontra encalhado nas pesquisas, com cerca de um terço do eleitorado: gerar medo na população.

Ao contrário do que ele diz, não temos tanto tempo assim pela frente até a eleição. São apenas 70 dias.

Para quem está há três anos e meio no governo, é um tempo cada vez mais exíguo para reverter as pesquisas e reduzir sua rejeição em amplos setores da sociedade, em todas as regiões do país, gênero, raça, faixas etárias e classes de renda.

Por tudo que tem feito nas últimas semanas para aumentar esta rejeição, Bolsonaro vai perder para ele mesmo.

Lula é apenas o beneficiário natural dessa campanha suicida do capitão, sem fazer muito esforço.

A revista Veja que circula hoje, e não pode ser chamada de petista, informa que o presidente pretende torrar mais R$ 300 bilhões do Tesouro Nacional para comprar a reeleição.

Não seria melhor destinar esse caminhão de dinheiro diretamente para amenizar a fome que assola hoje quase metade da população em situação de insegurança alimentar? Quantas cestas básicas poderiam ser compradas?

Vida que segue.

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