Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Lula remonta palanque das Diretas Já, mas e se acontecer o pior, como fica?
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A três semanas da grande decisão do segundo turno, com o país dividido ao meio, os sentimentos do eleitor se misturam e se confundem, dão uma cambalhota em questão de horas, conforme as notícias vão pipocando, sempre à espera da próxima pesquisa.
Não sei se é só comigo que isso acontece, mas desconfio que o país todo está vivendo uma crise de ansiedade, de incerteza, de insegurança sobre o amanhã.
Será que vai dar? E se acontecer o pior, o país aguenta mais quatro anos disso aí?
As alianças que Lula está fazendo para o segundo turno me fazem lembrar a campanha das Diretas Já, reunindo novamente nos mesmos palanques os partidos e as entidades da sociedade civil do campo democrático. São um alento, mas logo constato que há uma fundamental diferença.
Em 1984, não havia o "lado de lá", como Bolsonaro costuma se referir aos adversários. Não houve nenhum comício contra as Diretas Já. Os apoiadores remanescentes do regime militar, que já vivia nos seus estertores, estavam todos recolhidos, conformados.
E, mesmo assim, a Emenda Dante de Oliveira, que restabelecia as eleições diretas para presidente da República, seria derrotada no Congresso Nacional. Faltaram 22 votos para que fosse aprovada.
Agora, os saudosistas da ditadura estão todos unidos outra vez, sob o comando do capitão, mais ativos e beligerantes do que nunca, dispostos a se manter no poder a qualquer preço, nem que seja no voto.
A máquina pública federal não para de despejar dinheiro nas regiões mais carentes do país, que concentram os eleitores de Lula, agora com a ajuda das máquinas estaduais dos governadores que apoiam o presidente, e os primeiros resultados já começaram a aparecer nas pesquisas. Só nesses primeiros dias de segundo turno, já foram mais R$ 15 bilhões liberados para a compra de votos, e o orçamento secreto continua sendo irrigado a todo vapor.
Esta semana, no mesmo dia em que Lula ganhava o apoio engajado de Simone Tebet, do MDB, terceira colocada no primeiro turno, e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o patrono do PSDB, Bolsonaro recebia no Alvorada, transformado em comitê de campanha, o do prefeito de Maceió, e tudo foi noticiado simetricamente no noticiário, como se tivessem o mesmo peso.
Um em cada três eleitores, segundo o Datafolha, tem medo da violência nas ruas no segundo turno e isso pode aumentar o índice de abstenções no dia 30, a grande preocupação do PT. É uma luta desigual.
O jogo está ficando cada vez mais pesado, principalmente nos subterrâneos das redes sociais e nos grotões, onde donos de gado e gente ameaçam seus empregados que votarem em Lula ou lhes oferecem dinheiro para votar em Bolsonaro.
Cobra-se de Lula que detalhe um programa econômico e diga quem será seu ministro da Economia, mas ninguém faz o mesmo com o atual presidente, que até hoje não apresentou um plano do governo do primeiro mandato, já no fim, e muito menos deu pistas do que pretende fazer no segundo, caso seja reeleito. Manda perguntar para o Posto Ipiranga, que ainda não sabe se fica, e fica tudo por isso mesmo.
Fora dois ou três órgãos da grande mídia independente, o restante faz campanha aberta para Bolsonaro pelo país afora em todas as plataformas, com a milícia digital e a imprensa convencional se retroalimentando na distribuição de propaganda eleitoral e fake news. A Justiça Eleitoral está sempre correndo atrás do prejuízo, enxugando gelo.
Por mais que continue liderando todas as pesquisas até agora, Lula sabe os riscos que corre nesta reta final. Sábado, em Campinas, comemorou que "todos os que brigaram para acabar com a ditadura, que estiveram no palco das eleições diretas, estão comigo". É verdade, mas também é sabido que "uma grande parte daqueles que eram favoráveis à tortura estão com meu adversário", como ele mesmo constatou.
Estamos andando no fio da navalha, sem rede de proteção. Qualquer descuido pode ser fatal, cada voto pode ser decisivo _ e, se for desfavorável para Bolsonaro, com certeza será contestado.
A noite de 30 de outubro promete fortes emoções e pode ser mais longa do que a gente imagina.
Pela primeira vez, desde o início da campanha eleitoral, acordei hoje com um pressentimento muito ruim sobre o que pode acontecer até a abertura das urnas e depois da apuração dos resultados.
Tem muita gente passando o pano nas barbaridades cometidas por esse governo sem se dar conta do que está em jogo.
Esse é o perigo.
Vida que segue.
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