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Carla Araújo

REPORTAGEM

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Exército minimiza depoimentos à PF e foca em 'apagar incêndio' com Lula

15.mar.23 - O presidente Lula (PT) visita o Comando da Marinha, em Brasília - Ricardo Stuckert
15.mar.23 - O presidente Lula (PT) visita o Comando da Marinha, em Brasília Imagem: Ricardo Stuckert

Carla Araújo e Leonardo Martins

Do UOL, em Brasília

13/04/2023 04h00

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Os depoimentos de quase cem militares colhidos ontem (12) pela Polícia Federal foram vistos com naturalidade pela Cúpula do Exército. Militares ouvidos pela coluna afirmaram que o general Gustavo Dutra de Menezes, removido da chefia do Comando Militar do Planalto após os atos golpistas, respondeu a todas as perguntas dos policiais e relatou conversas com o presidente Lula (PT) no dia 8 de janeiro.

O Comandante do Exército, general Tomás Paiva, tem dito aos pares que as investigações não devem ter empecilhos por parte dos militares. Apesar disso, há quem reclame — entre militares de alta patente — de uma postura que avaliam ser mais "incendiária" da Polícia Federal na história.

A avaliação entre os generais da cúpula do Exército, porém, é que a ordem é manter a aproximação com Lula e apagar qualquer novo incêndio.

Os militares chegaram na Academia Nacional de Polícia, em Brasília, de ônibus do Exército. Parte do grupo depôs pela manhã enquanto outros falaram no período da tarde. Ao todo, foram intimados a comparecer 94 militares.

Sem treinamento

Fontes do Exército negam que tenha sido oferecido algum tipo de treinamento aos militares que foram depor, mas admitem que houve uma conversa prévia com alguns deles — principalmente com aqueles de baixa patente — para explicar o procedimento das oitivas.

Não houve também, de acordo com as fontes militares, assessoria jurídica para os depoentes, já que a ampla maioria estaria prestando depoimento na condição de testemunha.

No telefone com Lula

Em seu depoimento, o general Dutra, segundo apurou a coluna, confirmou a versão que veio a público após os ataques e relatou uma conversa que teve com o presidente Lula no dia dos ataques às sedes dos Três Poderes.

Dutra disse que estava em contato com o general Gonçalves Dias, ministro do GSI, que passou o telefone para Lula. Na ocasião, o general afirmou que poderia ser catastrófico a retirada de integrantes do acampamento em frente ao QG (quartel-general), em Brasília.

O general Dutra de Menezes teve sua exoneração publicada no Diário Oficial da União nesta terça-feira (11), apesar de já ter mudado de cargo desde o dia 23 de março. Ele assumiu, nesse dia, a 5ª Subchefia do Estado-Maior do Exército.

Em nota, o Exército reforçou "que não há qualquer relação entre as exonerações e nomeações publicadas no Diário Oficial da União em 10 de abril e os esclarecimentos que serão prestados por militares no interesse do inquérito 4923 da Polícia Federal".

Como foi a decisão da troca de comando

A decisão de mudar Dutra de posto foi tomada visando reduzir os atritos entre Lula e os militares. A desconfiança do presidente em relação à postura de alguns fardados, incluindo Dutra, aumentou após os atos golpistas de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O general teria apresentado resistência em entrar e prender os bolsonaristas no QG do Exército. Ainda segundo apuração da reportagem, o militar argumentava que havia possibilidade de conflito violento com os acampados caso desfizessem o local sem planejamento.

Além da atuação de Dutra, a participação do então comandante do Exército, Julio César de Arruda, também irritou o presidente Lula e aumentou a quebra de confiança do governo com os militares. Até que no dia 21 de janeiro, o presidente demitiu Arruda e escolheu Tomás Paiva para assumir o Exército.