Topo

José Roberto de Toledo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Cresce rejeição a Bolsonaro entre mulheres, e presidente ataca outra mulher

                                 Bolsonaro xingou jornalista Amanda Klein nesta terça-feira durante programa na Jovem Pan                              -                                 REPRODUÇÃO/ TSE E INSTAGRAM
Bolsonaro xingou jornalista Amanda Klein nesta terça-feira durante programa na Jovem Pan Imagem: REPRODUÇÃO/ TSE E INSTAGRAM

Colunista do UOL

06/09/2022 15h16

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Bolsonaro bateu a cabeça no teto por causa das eleitoras, inclusive evangélicas. Elas rebaixaram a possibilidade de crescimento de Bolsonaro e sua chance de se reeleger. Foi o que mostrou a pesquisa Ipec divulgada segunda-feira:

  • A rejeição a Bolsonaro cresceu de 50% para 54% entre as mulheres, quatro pontos em uma semana (mas ficou estável entre os homens).
  • Na intenção de voto estimulada, Bolsonaro caiu de 29% para 26% entre as mulheres (mas continuou com 36% entre os homens).
  • Bolsonaro também oscilou para baixo entre as mulheres na pesquisa espontânea, de 26% para 25%.
  • Pela primeira vez em 2022, Bolsonaro oscilou negativamente entre eleitores da fé evangélica, de 48% para 46%.

E daí? As mulheres são maioria absoluta do eleitorado (53%) e, historicamente, mais resistentes a votar em Bolsonaro. A rejeição ao presidente entre as eleitoras é 11 pontos maior do que entre os homens: 54% a 43%.

  • Mesmo se conseguir evitar uma derrota já no 1º turno, Bolsonaro não conseguiria se reeleger se o 2º turno fosse hoje, principalmente por causa das mulheres. Lula tem vantagem de 23 pontos sobre Bolsonaro na simulação de 2º turno entre o eleitorado feminino.
  • Entre os homens, a vantagem do petista é cerca de um terço disso: 8 pontos, apenas.

O motivo da queda foi a misoginia explícita de Bolsonaro ao reagir com raiva a mulheres que lhe fazem perguntas. Foi descortês com Renata Vasconcellos no Jornal Nacional, atacou Vera Magalhães no debate Band/UOL e ironizou Grabriela Prioli no Twitter. Nesta semana, o presidente quadruplicou o erro ao chamar Amanda Klein de "leviana" durante entrevista à Jovem Pan.

  • Os pontos perdidos por Bolsonaro entre as mulheres parecem ter migrado para Simone Tebet e Ciro Gomes. No eleitorado feminino, a candidata do MDB foi de 3% para 5%, e Ciro foi de 7% para 9%. Lula ficou com os mesmos 36% da pesquisa Ipec anterior.
  • Pesquisa qualitativa feita pelo Datafolha no domingo retrasado mostrou que Bolsonaro foi o candidato mais mal avaliado no debate, principalmente depois de atacar a jornalista.
  • Outras pesquisas qualitativas, de campanhas, mostram ojeriza de eleitoras a Bolsonaro quando o presidente aparece na propaganda de candidatos a governador aliados a ele - ao ponto de aumentar a rejeição a quem o presidente declara apoio.

Para tentar reverter os erros cometidos pelo presidente junto ao eleitorado feminino, a campanha de Bolsonaro lançou nesta terça-feira uma propaganda de TV narrada por Michelle Bolsonaro, pintando um retrato cor-de-rosa do marido.

  • A peça foi ao ar logo depois de Bolsonaro xingar outra jornalista numa entrevista.
  • No Twitter, o ataque de Bolsonaro a Amanda Klein repercutiu 8 vezes mais do que a propaganda de Michelle, segundo a consultoria Arquimedes.
  • No Google Trends, as buscas por "Amanda Klein" superaram as por "Michelle Bolsonaro" em 12 vezes na terça-feira.
  • Nos 14 mil grupos de WhatsApp monitorados pela plataforma Palver para o TSE, as citações a "Amanda Klein" e a ataques de Bolsonaro a mulheres também dispararam.

A sequência ininterrupta de ataques a mulheres revela o Bolsonaro que o Arenão, Michelle e os marqueteiros da campanha na TV tentam esconder, sem sucesso. Enquanto isso, puxa-sacos de Bolsonaro no Facebook e em outras redes comemoraram a misoginia do chefe. Ao fazê-lo, reforçam que o Bolsonaro de verdade é aquele que ataca mulheres em série. Medo explica.