Governo demora a enxergar o óbvio nas encrencas que interessam aos pobres
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Há pessoas que têm dificuldades para enxergar o óbvio. Esbarram no óbvio, tropeçam no óbvio e passam adiante sem suspeitar de que o óbvio é o óbvio. Foi o que o ocorreu nos guichês do INSS e nas planilhas do salário mínimo. Incapazes de evitar certos problemas, os planejadores do governo são imbatíveis na organização de novas confusões.
No INSS, permitiram que se acumulassem 2 milhões de pedidos de benefícios. Na conta do mínimo, demoraram a perceber que seria impossível corrigir a menor remuneração do país em valor abaixo da inflação de 2019. De repente, acossados pelo noticiário, os membros da equipe econômica e Jair Bolsonaro apontaram o dedo para as duas encrencas e proclamaram: "Ali está o óbvio."
O governo agora corre contra o relógio para apresentar nesta quarta-feira um cronograma e um plano de ação capazes de zerar a fila do INSS. Desde a entrada em vigor da reforma da Previdência, em novembro, nada foi aprovado. Estão submetidos à tortura da espera brasileiros pobres que precisam de auxílio doença, auxílio maternidade e aposentadorias.
O salário mínimo, que havia sido reajustado com base numa previsão de inflação que ficou abaixo do índice oficial, será recalibrado. Passará de uma insignificância —R$ 1.039— para uma irrelevância —R$ 1.045. A diferença é de R$ 6,00. Como cada real eleva a despesa anual do Tesouro em R$ 319 milhões, o custo em 2020 será de R$ 1,9 bilhão. Se Bolsonaro não fizesse, o Congresso faria.
Em linguagem sociológica, a dificuldade do governo de enxergar o óbvio quando se trata de temas que interessam aos brasileiros mais pobres seria chamada de demofobia. No português das ruas, a desatenção com o pedaço mais humilde do eleitorado se chama burrice. Às vezes o cálculo político se sobrepõe à contabilidade.
— Atualização feita às 18h49 desta terça-feira: Após reunir-se com Paulo Guedes, Bolsonaro anunciou a edição de nova medida provisória para corrigir o salário mínimo, repondo a variação integral da inflação. O secretário de Previdência, Rogério Marinho, informou que serão contratados temporariamente 7 mil militares para auxiliar no atendimento à clientela do INSS.
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