Visto a partir do ponto de ônibus, o pacote de cortes é uma afronta
Nos últimos dias, ministros e parlamentares bem-postos gastaram saliva em conversas com bambambãs do sistema financeiro. Queriam compreender os humores do dólar. Ninguém se animou a procurar o banco do ponto de ônibus. Ali, trabalhadores que esperam pelo transporte teriam dificuldade para compreender determinadas contradições.
Por exemplo: o Congresso autorizou o governo a arrochar a regra de reajuste do salário mínimo, mas afastou a tesoura dos supersalários do serviço público. Mexeu em benefícios sociais, mas salvou as emendas parlamentares. Reduziu o fundo nacional de educação, mas cuidou para que o fundão eleitoral cresça acima da inflação.
O Planalto esqueceu de enviar duas propostas que o Congresso não se lembrou de cobrar. Numa, seriam cortados privilégios de militares. Noutra, os pobres seriam liberados do Imposto de Renda e os ricos amargariam uma sobretaxa. Ficou tudo para depois do Carnaval.
Para aprovar os cortes, o Planalto abriu o cofre das emendas. Bem pagos, deputados e senadores entregam menos do que Fernando Haddad planejou e muito menos do que o mercado exigia. O ronco do dólar não é o maior problema. O dinheiro graúdo sempre fala mais alto que o miúdo. A questão é que o ponto de ônibus não tem voz, mas tem voto.
O perigo de tanta afronta é o brasileiro subempregado, subnutrido e sub-representado concluir que a democracia não foi feita para ele. Quem assiste sem dar um pio não poderá piar se um meteorito vindo da extrema-direita cair sobre 2026.
78 comentários
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Ana Fátima Junqueira Macedo
Problema bem exposto. Infelizmente estas constatações não chegam à imensa classe miserável deste nosso país
Galindo Hernandez
" A questão é que o ponto de ônibus não tem voz, mas tem voto… " Pois é... Tem voto, mas não usa. Elegem o Lula presidente porque ele "cuida do pobre". Mas quando vão votar no representante no Congresso o povo vota no pastor, no PM, no empresário, no fazendeiro, no usineiro, no ex-coronel... Aí o país e o governo fica à mercê desse Congresso medíocre de extrema - direita, anacrônico, oportunista, corrupto, o único do munto que tem bancadas "da B A L A, do B O I e da B Í B L I A". De maneira que um povo a l i e n a d o e manipulado politicamente não pode reclamar do resultado desse pacote imposto pelo Congresso que ELE elegeu. A turma do ponto do ônibus está deitando na cama que fez...
João Luís Nery
Pacote de corte de gastos foi o nome que a midia vendida inventou. Tinha era mais gastos. Se UOL fosse jornalismo de verdade, teria detonado o pacote no momento que foi lançado. Mas como é serviçal do governo em troca de pix, seguiu com a farsa.