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Josias de Souza

Caso PF atiça truculência do capitão: "Cala a boca"

Colunista do UOL

05/05/2020 19h53

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O inquérito sobre a interferência política na Polícia Federal desestabiliza emocionalmente o presidente da República. Veio à luz o depoimento de Sergio Moro à PF. Nele, o ex-ministro da Justiça confirma que sofreu pressão de Jair Bolsonaro para trocar o diretor-geral da Polícia Federal e o superintendente do órgão no Rio. Você tem 27 superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio, disse Bolsonaro a Moro. Incomodado com o tema, o presidente voltou a ficar fora de si. Nessas horas, Bolsonaro revela o que tem por dentro. Ele traz enterrada em si uma alma autoritária.

Muitos defendem que os jornalistas deixem de comparecer ao cercadinho do Palácio da Alvorada, para fugir das agressões de Bolsonaro. Não seria adequado. Uma das atribuições do jornalismo é informar ao país sobre a rotina do seu presidente. E o brasileiro precisa saber que Bolsonaro é um presidente que considera que o bom diálogo é quando ele ordena ao interlocutor que cale a boca. Bolsonaro mandou jornalistas calarem a boca.

Quando o motivo da truculência é evitar perguntas sobre uma suspeita incômoda —a acusação de interferência política na Polícia Federal— a fuga se confunde com a falta de defesa. A pretexto de negar notícia sobre sua influência na troca do superintendente da PF no Rio, Bolsonaro confirmou que o delegado Carlos Henrique Oliveira deixará o cargo e será promovido para a diretoria executiva do órgão, em Brasília. Alega que a promoção é evidência da lisura do processo. Conversa mole. O fato está agora sob investigação.

Bolsonaro manifesta a intenção de aparelhar a PF desde agosto do ano passado. Ali mesmo, no cercadinho do Alvorada, ele disse que seria um "presidente banana" se não pudesse mexer no comando da PF. E ele está mexendo. Nos últimos anos, a PF revelou sua importância ao desbaratar quadrilhas como do mensalão e do petrolão. Oligarcas políticos e empresariais foram presos porque a PF agiu como polícia de Estado. Bolsonaro prefere uma polícia submetida aos interesses do presidente e às conveniências de sua família. Isso é inaceitável.