Bolsonaro teme rastro deixado pelo 'faz-tudo' de Braga Netto
Na definição de Nelson Rodrigues, a consciência humana é o medo do rapa. Às voltas com a torturante expectativa de que o rapa da Polícia Federal pode laçá-lo qualquer momento, Bolsonaro revela em privado o medo que sente do rastro que o coronel do Exército Flávio Peregrino pode ter deixado nos equipamentos eletrônicos apreendidos pela PF.
Peregrino está a um passo de engrossar o rol dos 40 indiciados no inquérito sobre a trama golpista. Frequenta o enredo do golpe como assessor do general Braga Netto, preso no sábado, no Rio de Janeiro. Em ação simultânea à detenção do general, a PF fez batida de busca e apreensão na casa do coronel. Recolheu quatro notebooks, dois celulares e 36 pen drives.
Com a rapidez de um raio, a PF obteve no próprio sábado do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes autorização para examinar o conteúdo armazenado na "nuvem" por Peregrino e Braga Netto, que também teve um par de celulares apreendidos. Daí o frisson que percorre a alma de Bolsonaro.
O capitão sabe onde o calo lhe aperta. Uma das marcas do enredo do golpe é a profusão de provas que os golpistas produziram contra si mesmos. Só uma tropa de suicidas didáticos deixaria tantas pistas pelo caminho —minutas de decreto, esboço de discurso, vídeos, áudios, mensagens, o diabo.
Bolsonaro já esboçou a intenção de tomar distância dos outros membros do alto-comando do golpe. Sua defesa já construiu a tese segundo a qual quem se beneficiaria de um eventual golpe não seria o capitão, mas os generais Braga Netto e Augusto Heleno, que assumiriam um comitê de gerenciamento da crise.
Informações novas podem transformar essa versão em algo ainda mais inverossímil. Seja como for, os integrantes daquilo que Bolsonaro chamava de "meu Exército" vão percebendo aos poucos que ninguém está mais só do que quando está mal acompanhada por Bolsonaro.
86 comentários
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Ernesto Freire Pichler
Felizmente esses caras são tão incompetentes quanto perigosos. Todos em cana, sem anistia!
Emerson Pinheiro Freitas dos Santos
Será que todo dinheiro investido nas forças armadas não tem nenhum teste de QI.
Adelson Paulo de Araújo
Não é que "produziram provas contra si mesmos". É que hoje tudo fica registrado em aparelhos eletrônicos, redes sociais e câmeras de segurança. Atualmente toda investigação detalhada, conduzida por uma equipe qualificada, encontra provas de crimes com muito mais consistência do que seria possível algumas décadas atrás.