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Josias de Souza

Pasta da Saúde agora é comandada pelas cinzas

Colunista do UOL

22/10/2020 18h29

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O general Eduardo Pazuello foi transformado num personagem único. É a primeira vez na história que o Ministério da Saúde é comandado por uma porção de cinzas. Jair Bolsonaro já havia fritado Henrique Mandetta. Depois, tostou Nelson Teich. Com Pazuello foi diferente. Ao humilhar Pazuello em público, anulando providências que havia autorizado previamente, Bolsonaro calcinou, carbonizou, transformou o general em cinzas. Mas os dois —o presidente e a porção de cinzas— decidiram se comportar como se nada tivesse acontecido.

A desavença terminou numa pizza verde-oliva, exibida em transmissão nas redes sociais. Na véspera, Bolsonaro já tinha declarado: "Eu sou militar, o Pazuello também, e nós sabemos que quando um chefe decide, o subordinado cumpre." O general ecoou o capitão em poucas e elucidativas palavras: "É simples assim, um manda e outro obedece. A gente tem carinho, dá para desenrolar."

Confirma-se na prática o que a aparência já havia deixado claro: Sob Pazuello, o Ministério da Saúde virou uma trincheira militar. E se tornou irrelevante na formulação de políticas para a administração da maior crise sanitária da história. Num momento em que Pazuello tentava adquirir alguma relevância, equipando o ministério para oferecer à sociedade a maior quantidade de vacinas possível, Bolsonaro levou seu auxiliar ao forno, retirando da cesta do ministério uma vacina que pode fazer falta.

Bolsonaro insinua que Pazuello se precipitou ao assinar o protocolo de compra de 46 milhões de doses da vacina CoronaVac, a ser produzida pelo Butantan. Isso é lorota. A mesma disciplina que leva o general a conviver com a humilhação, fez com que ele comunicasse previamente ao chefe cada movimento que executou na reunião em que tratou de vacinas com 24 governadores. Bolsonaro deu meia-volta por avaliar que João Doria cavalgava politicamente o acordo com a Saúde.

O presidente sempre se jactou de ter nomeado ministros técnicos. Se o Ministério da Saúde não fosse um quartel chefiado pelas cinzas, o ministro diria ao chefe que conspirar contra o programa nacional de vacinação não é a melhor maneira de responder a um rival político.