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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Só a desmoralização do Brasil salva Robinho da execução da pena de prisão

Colunista do UOL

24/02/2023 09h34Atualizada em 24/02/2023 17h31

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A decisão sobre o pedido do governo da Itália para que Robinho seja recolhido a uma penitenciária brasileira ganhou contornos de um Fla-Flu. O ministro Flávio Dino (Justiça) enxerga na legislação e num tratado bilateral firmado entre Brasil e Itália brechas para que o jogador cumpra no Brasil a pena de prisão. Advogados especializados na matéria avaliam o contrário. O que está em jogo não é apenas o futuro de Robinho. Ao julgar o caso, o Superior Tribunal de Justiça decidirá que país o Brasil deseja ser.

Robinho foi condenado na Itália, em decisão irrecorrível, a nove anos de cadeia. O crime é gravíssimo. O jogador participou do estupro coletivo de uma jovem albanesa numa boate de Milão, em 2013. Escapou para o Brasil. A Constituição proíbe que brasileiros natos sejam extraditados. Rendido às evidências, o governo de Roma pede, então, que o castigo seja aplicado num xadrez nacional.

Ao determinar a citação de Robinho, a ministra Maria Thereza de Assis Moura, presidente do STJ, lembrou que não há decisão anterior da Corte que sirva de parâmetro neste caso. Alheio à polêmica, Robinho exibe sua impunidade na Baixada Santista como se nada tivesse sido comprovado contra ele na Itália. A desfaçatez compõe um cenário que ajuda a compreender por que o Judiciário da Espanha mantém encarcerado Daniel Alves, outro craque acusado de estupro, antes mesmo de uma condenação formal.

Na terça-feira de Carnaval, a TV por assinatura exibiu no Brasil um episódio da nova temporada do seriado "Law & Order" (Lei e Ordem). Nele, um jogador de futebol brasileiro que participou de três Copas do Mundo é retratado como um predador sexual, acusado de estupro. A decisão sobre Robinho pode perenizar um estereótipo que ganha força. Contra esse pano de fundo, a impunidade de Robinho seria a desmoralização do Brasil. Um país inteiro teria que fechar os olhos para salvar um estuprador da cadeia. Muito mais do que o encarceramento de Robinho, o que o Judiciário vai decidir é que país o Brasil deseja ser.