Topo

Josmar Jozino

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

PCC tem 112 mil membros no Brasil, estima o Ministério Público de São Paulo

Daniel Neri /  Arte UOL - Reprodução do documentário "PCC - Primeiro Cartel da Capital"
Imagem: Daniel Neri / Arte UOL - Reprodução do documentário "PCC - Primeiro Cartel da Capital"

Colunista do UOL

21/09/2021 07h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Em dezembro de 2017, em meio a uma disputa com o Comando Vermelho, pelos domínios dos presídios e das rotas de tráfico no Brasil, o PCC (Primeiro Comando da Capital) afrouxou as regras de batismo de novos membros. A meta era atingir 40 mil criminosos filiados à organização criminosa.

Um documento do MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo) mostra que o PCC não só alcançou a meta, dois anos depois, como atingiu mais que o dobro de membros: a maior facção criminosa do país tinha 112 mil membros, no ano de 2019.

A estimativa feita pelo MP-SP consta em uma denúncia oferecida à Justiça contra integrantes do PCC acusados de pertencer à célula "Bonde dos 14", responsável pelo tráfico de drogas em diversos bairros do extremo da zona leste paulistana.

Leia o documento do MP-SP no seguinte link: https://download.uol.com.br/files/2021/09/294109165_pcc-100-mil-doc-281-29.pdf

A Justiça aceitou a denúncia e o processo tramita em fase final. Os réus respondem por associação à organização criminosa e associação ao tráfico de drogas. Segundo investigações da Polícia Civil, a célula arrecadava R$ 3 milhões por mês ou R$ 100 mil por dia com a venda de entorpecentes.

Pirâmide PCC - Arte/ UOL - Arte/ UOL
Imagem: Arte/ UOL

A denúncia do Ministério Público diz que o PCC tem ao menos 12 líderes e que a maioria deles foi transferida da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP) para presídios federais. A alta cúpula do PCC está recolhida na Penitenciária de Brasília.

Além da liderança final, a facção tem ainda à disposição dois mil dirigentes. Eles são citados no documento do MPE como os criminosos que exercem direção em bases territoriais. Em São Paulo, eles atuam em todas as regiões do estado.

Na avaliação do MP-SP, os associados representam a porta de entrada para o PCC e nenhum deles possui cargo ou função na facção criminosa, mas todos apenas compõem o quadro, contribuindo mensalmente para a manutenção da organização. São estimados 100 mil associados.

O MP-SP aponta ainda outros 10 mil "soldados" do Primeiro Comando da Capital que executam as ações prioritárias do grupo criminoso, como a compra, venda, transportes e armazenamentos de drogas e também de armas e munição.

A expansão territorial do PCC é mencionada no documento. A denúncia traz outro alerta: adverte que a principal organização criminosa do Brasil também ostenta tentáculos em países sul-americanos, entre eles Paraguai e Bolívia, e mantém ainda integrantes em nações europeias.

Oito presos criaram o PCC

Foi na prisão que o PCC nasceu e se expandiu. Em 31 de agosto de 1993, oito prisioneiros fundaram o grupo na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, no Vale do Paraíba. As autoridades não admitiram de início a existência da facção e diziam que era "pura ficção".

Nos dias atuais, para a Justiça, o PCC já atingiu um estágio pré-mafioso. Essa tese é baseada em um processo em tramitação na 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital.

Nos autos há planilhas apreendidas mostrando um faturamento de R$ 1 bilhão, em pouco mais de um ano, com o tráfico de drogas. A farta documentação sobre a movimentação financeira do PCC detalha diversas remessas de dinheiro para dois doleiros.

Segundo o Ministério Público, são os doleiros que cuidam da lavagem de dinheiro dos faccionados. As investigações apontam que o dinheiro é lavado com a compra de imóveis e veículos de luxo, aeronaves, postos de combustíveis e até em investimentos no transporte alternativo de passageiros de São Paulo.

Números mudam muito, diz especialista

Para o cientista político Guaracy Mingardi, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, não é possível apontar uma quantidade exata de integrantes porque os números são calculados com base em investigações e informações que constam em planilhas apreendidas pela polícia com os faccionados.

Guaracy acrescentou que esses números mudam muito porque muita gente entra e muita gente sai do PCC. O especialista em segurança pública explicou que se for levar em conta o total de batizados na organização, chamados de "irmãos" pela liderança", a quantidade deve ser bem menor.

Porém, ele observou que se levar em consideração os simpatizantes do PCC no Brasil, chamados de "primos" pela alta cúpula da facção criminosa, esse número ultrapassa os 100 mil estimados pelo MP-SP.

As disputas por poder e dinheiro dentro da principal organização criminosa do Brasil são narradas na segunda temporada do documentário do "PCC - Primeiro Cartel da Capital", produzido por MOV, a produtora de documentários do UOL, e o núcleo investigativo do UOL.