Josmar Jozino

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Reportagem

PCC ofereceu US$ 1,5 mi para resgatar sócio de Marcola preso em Moçambique

O PCC (Primeiro Comando da Capital) propôs pagar US$ 1,5 milhão para resgatar o narcotraficante Gilberto Aparecido dos Santos, 54, o Fuminho, de uma prisão em Moçambique, na África Oriental, em 2020. O plano não deu certo porque o criminoso foi extraditado sob sigilo dias antes para o Brasil.

Sócio e braço direito de Marco Willians Herbas Camacho, 57, o Marcola, apontado como o chefe máximo do PCC, Fuminho acabou preso em 13 de abril de 2020 em um luxuoso hotel na cidade de Maputo, capital moçambicana. Ele estava foragido havia 21 anos.

O plano de resgate foi descoberto recentemente pela Polícia Federal ao investigar uma quadrilha ligada ao PCC que montava uma base operacional para o tráfico de cocaína na África. Grandes quantidades da droga sairiam do Brasil pelo porto de Paranaguá, no Paraná.

Policiais federais apuraram que o plano foi arquitetado por Willian Barile Agati, 38, um empresário paulistano, agenciador de jogadores de futebol e dono de aviões, dezenas de imóveis de alto padrão em São Paulo e em Santa Catarina, além de uma fazenda de 12 mil hectares em Mato Grosso.

Agati foi um dos alvos da Operação Mafiusi, deflagrada em 10 de dezembro de 2024 pela Polícia Federal do Brasil em conjunto com autoridades italianas para combater um grupo responsável pelo envio de toneladas de cocaína para a Europa. O bando movimentou R$ 2 bilhões com exportações da droga.

As investigações da PF apontaram que Agati contou com a ajuda de seu sócio Edmilson de Menezes, 51, o Grilo —cunhado de Roberto Soriano, 50, o Tiriça, ex-número 2 do PCC excluído da facção no ano passado após brigar com Marcola - para planejar o resgate de Fuminho.

Willian Agati (esq.) e Edmilson de Menezes (dir.), o Grilo, em churrasco na casa do empresário em Florianópolis (SC)
Willian Agati (esq.) e Edmilson de Menezes (dir.), o Grilo, em churrasco na casa do empresário em Florianópolis (SC) Imagem: Polícia Federal

Grilo morreu em 11 de outubro de 2024, ao ser atropelado por um veículo na rodovia Presidente Dutra, em Santa Isabel (SP), durante romaria ao Santuário Nacional de Aparecida. O acidente aconteceu na véspera do Dia da Padroeira do Brasil.

A ideia de Agati e de Grilo —diz a investigação da PF— era corromper policiais de Maputo para conseguir a libertação de Fuminho. Ele seria colocado em um avião e levado para os Balcãs, no sudeste da Europa, onde teria o apoio de mafiosos estrangeiros ligados ao PCC.

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Em nota enviada após a publicação da matéria, a defesa de Agati nega qualquer envolvimento no caso e diz que pedirá a revogação da prisão preventiva por motivos de constrangimento ilegal e falta de justa causa.

Quartel general do PCC

A PF apurou ainda que as negociações com autoridades e policiais corruptos de Maputo seriam intermediadas pelo cônsul honorário de Moçambique em Belo Horizonte, Deusdete Januário Gonçalves. Ele teria solicitado US$ 1,5 milhão para entregar a uma alta autoridade do governo moçambicano.

O consulado de Moçambique em Belo Horizonte - afirma a PF - funcionava como um quartel-general do PCC. Agati era um dos funcionários da instituição. Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, que chegou a ser líder do PCC e está desaparecido, também tinha credencial da representação diplomática.

Até agora, a Polícia Federal não sabe se o PCC chegou a pagar USS 1,5 milhão para obter a liberação de Fuminho. O narcotraficante, sócio de Marcola, foi colocado em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) e levado para Cascavel (PR).

De lá, Fuminho seguiu de helicóptero até a Penitenciária Federal de Catanduvas (PR). Ele e Agati eram os responsáveis pelas vendas de grandes remessas de cocaína para Nicola Assisi e o filho Patrik Assisi, representantes no Brasil da máfia italiana Ndrangheta. Ambos foram presos pela PF em julho de 2019 na Baixada Santista.

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