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Leonardo Sakamoto

Lula e Moro disputando um segundo turno? Improvável, mas não impossível

O presidente Jair Bolsonaro e o ministro Sérgio Moro  - Rodolfo Buhrer/Foto Arena/Estadão Conteúdo
O presidente Jair Bolsonaro e o ministro Sérgio Moro Imagem: Rodolfo Buhrer/Foto Arena/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

05/01/2020 13h11

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Mesmo após ter sido condenado por corrupção, cumprido 580 dias de pena na prisão, com o governo de sua ungida sendo acusado de começar a crise econômica, apanhando diariamente nas redes sociais e em muitos veículos de comunicação, Lula segue colado em prestígio ao ministro Sergio Moro.

O ex-juiz federal responsável pela Lava Jato, por sua vez, teve diálogos revelados pelo site The Intercept Brasil, mostrando que passou por cima da lei, e foi criticado por tentar interferir na eleição de Jair Bolsonaro, de quem se tornou ministro e "advogado de defesa". Mesmo assim, está em primeiro no ranking elaborado pelo Datafolha e divulgado neste domingo (5), que não é uma pesquisa de intenção de voto, mas mostra o nível de confiança.

Lula, segundo análise de Mauro Paulino e Alessandro Janoni, diretores do instituto de pesquisas, conta com mais prestígio entre menos escolarizados, mais pobres, desempregados, trabalhadores informais, moradores do Nordeste e os que se consideram de esquerda. Moro é mais respeitado entre homens, os mais velhos, mais ricos, habitantes da região Sul e os que se colocam à direita no espectro político. O ex-presidente com 30% de alta confiança e o ministro com 33%.

Seria interessante se essas duas figuras pudessem se enfrentar em um ambiente democrático, através do confronto de ideias, a fim de que os projetos de país que defendem fossem apresentados e debatidos. Ou seja, durante as eleições.

É improvável que isso aconteça, mas não impossível.

Lula precisaria reverter as condenações em segunda instância que carrega e torcer para o Supremo Tribunal Federal não confirmar nenhuma delas e torcer para que, até o registro da candidatura, não seja novamente responsabilizado em decisão colegiada por um dos vários outros processos que tem contra si. A defesa de Lula, apesar de negar, considera prazos visando a essa possibilidade em sua estratégia para decidir os melhores instrumentos jurídicos. E há petistas que têm as contas de tempo para isso na ponta da língua.

Moro, por outro lado, teria que se desvencilhar de Bolsonaro, o que significaria abandonar o governo e, junto com ele, a plataforma de exposição política que ele tem - ele é o ministro mais bem avaliado do governo, mais até do que o presidente. Vale lembrar que ele ainda espera uma indicação ao STF, que pode ocorrer de acordo com os interesses de Jair. Apesar dos revezes, que incluem falta de apoio às suas demandas, como o veto ao juiz de garantias, ele termina o ano em uma posição confortável, com um discurso de que ele tenta, mas os políticos - inclusive seu chefe - não deixam. Bolsonaro já acenou apoio a Moro em 2026. Parece muito tempo, mas desde que o estatuto foi instituído, nenhum presidente perdeu a reeleição.

Padrões como esse existem para ser quebrados. O PT esteve em todos os segundos turnos presidenciais desde a redemocratização, mas não significa que no atual contexto, pós-Nova República, isso não venha a acontecer.

O quadro depende de tantas variáveis que, por enquanto, é apenas especulação. Depende da queda do desemprego e geração de postos formais de trabalho, do crescimento sustentável do PIB ao invés de uma "pirâmide financeira" na bolsa, do que acontecer com Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz, da geopolítica e da economia internacional, das eleições municipais... Mas é com base nessas especulações que os principais atores estão se movimentando agora.

A pesquisa Datafolha apenas mostra que o cenário básico continua igual. Ou como disse à coluna um cardeal petista: "A mais antiga polarização não é entre Bolsonaro e Lula, mas entre Lula e Moro".