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Leonardo Sakamoto

Políticos de SP e RJ farão companhia a Bolsonaro se abertura elevar mortes

Bares do Leblon lotados na noite deste domingo (2) - Reprodução TV Globo
Bares do Leblon lotados na noite deste domingo (2) Imagem: Reprodução TV Globo

Colunista do UOL

04/07/2020 13h00

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São Paulo reabre bares e restaurantes, a partir desta segunda (6), após a aprovação de governadores e prefeitos atingir o nível mais baixo desde o início da pandemia e sob muita pressão tanto de Jair "A Morte é o Destino de Todo Mundo" Bolsonaro quanto de representantes do setor.

No que pese a melhora nos indicadores, como a taxa de ocupação de UTIs e o número de mortos, epidemiologistas, infectologistas, pneumologistas, socorristas do Samu e sepultadores sabem que a decisão não foi baseada apenas na saúde pública. Pelo contrário, quem está na linha de frente vê também o resultado de pressão de cunho político e econômico.

Estamos melhores agora do que há algumas semanas, quando o presidente da República fazia campanha aberta pelo coronavírus em manifestações antidemocráticas aos domingos. Mesmo assim, ainda nos encontramos em um momento delicado em que deslizes podem colocar a perder o que conseguimos em termos de vidas salvas.

Ou seja, se os logradouros boêmios da capital paulista coalharem de terraplanistas biológicos ou semoventes sem empatia, como aconteceu no Leblon, na noite de quinta (2), no Rio de Janeiro, será o tempo apenas de tomar um chope, comer dois pastéis e voltar ao rigor de uma quarentena por um tempo ainda maior do que se mantivéssemos o resguardo.

Pesquisa Datafolha no início de abril apontava que 58% dos brasileiros avaliavam como bom ou ótimo o desempenho dos governadores frente à pandemia, enquanto 16% consideravam-no como ruim ou péssimo. No final de junho, os números eram de 44% e 29%, respectivamente, com tendência dessa diferença reduzir ainda mais.

Prefeitos foram de 50% de bom/ótimo e 22% ruim/péssimo, em abril, para 44% e 34%, no levantamento divulgado em 25 de junho. Isso assusta políticos, ainda mais em ano eleitoral, e dificulta a manutenção de decisões impopulares.

Todo mundo está exausto com a quarentena. É difícil para uma cidade que tem em bares e restaurantes um de seus pilares econômicos, mas também de lazer e socialização, ficar tanto tempo longe deles.

Empresários tiveram que fechar as portas e demitir empregados - o governo federal é um paizão para grandes empresas, mas não estende a mão da mesma forma a micro e pequenos negócios. Trabalhadores informais do setor não estão conseguindo sobreviver com o auxílio emergencial (aqueles que tiveram o acesso aprovado, claro). E a população saturou e quer esses espaços de volta à sua vida.

A questão é que, do jeito como isso está sendo feito, com uma decisão que não é guiada apenas por parâmetros sanitários, há um grande risco de rebote, a chamada "segunda onda". Sejamos honestos: estamos no terreno da especulação neste momento, caminhando em direção ao desconhecido, em um processo de tentativa e erro - em que o "erro", como já disse aqui, representam óbitos.

O tempo epidemiológico do Brasil não é o mesmo da Espanha e da Itália, por exemplo, que estão em processo de reabertura. Por aqui, o coronavírus está semanas atrasado com relação a eles. Mas copiamos o que acontece lá, da mesma forma que o interior do país - onde a pandemia está apenas começando - copia o que acontece em São Paulo e no Rio.

Diante disso, o presidente da Câmara dos Vereadores, Eduardo Tuma (PSDB), ainda pediu ao governador João Doria que estendesse o horário de funcionamento até à noite - no protocolo de reabertura, o fechamento é previsto às 17h, com distanciamento e uso de 40% da capacidade.

Esperemos que eles saibam o que estão fazendo. Caso contrário, vão fazer companhia para Bolsonaro nos livros de História entre os responsáveis por multiplicar o tamanho da tragédia no Brasil.