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Leonardo Sakamoto

Jair Messias tira a máscara e revela que fará tudo pelo bem-estar do vírus

Presidente Jair Bolsonaro durante entrevista coletiva em Brasília -
Presidente Jair Bolsonaro durante entrevista coletiva em Brasília

Colunista do UOL

03/07/2020 19h33

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Jair Bolsonaro tem sido criticado por vetar trechos de lei aprovada pelo Congresso Nacional obrigando o uso de máscara em território nacional durante a pandemia do coronavírus. Ele excluiu a necessidade da proteção em instituições de ensino, templos e igrejas e estabelecimentos comerciais. Enquanto isso, o Brasil registrou, nas últimas 24 horas, 1.290 novas mortes pela doença, segundo o Ministério da Saúde, totalizando 63.174 óbitos e 1.539.081 casos, mantendo-se na vice-liderança global da covid.

Também vetou multas e a obrigação do governo federal de distribuir máscaras para os mais pobres. Questionado sobre a mortalidade da pandemia, o presidente já disse, em mais de uma ocasião, que "todos nós iremos morrer um dia". Portanto, com os vetos está apenas ajudando para que os brasileiros - principalmente os negros pobres e as pessoas imunodeprimidas, vítimas mais frequentes - encontrem mais rapidamente "destino".

Ironicamente, chama-se "Moros" o deus do destino e da morte na mitologia grega. Mas, por aqui, destino e morte não ficam a cargo de um deus e sim de um Messias.

O apoio explícito que o presidente deu ao vírus não anula as legislações locais, como a de São Paulo, que prevê multa de R$ 500 para quem não usar máscara em locais públicos. Mas atinge os locais sem regulamentação própria.

Não tivemos a sorte de contar com um governante que tenha articulado um plano de enfrentamento nacional à pandemia. Infelizmente, o ocupante do Palácio do Planalto só possui uma rota de fuga. E, enquanto a percorre, culpando governadores e prefeitos, vende a ideia de que não se pode legislar sobre espaços públicos de natureza privada. Quer ser visto como defensor da liberdade. O vírus o aplaude e grita "mito!"

"Claramente, em saúde pública você precisa ter uma liderança única que atue no país todo, que faça acontecer. Singapura, Coreia do Sul, China foram regiões que resolveram o problema mais rapidamente porque havia uma voz que articulava e comandava. Aqui, não", afirma o infectologista Marcos Boulos, professor titular da Faculdade de Medicina da USP e integrante do comitê de contingenciamento do coronavírus no Estado de São Paulo.

De acordo com ele, a capital paulista conta com 98% de uso do uso de máscara, índice que não foi alcançado nem no interior do Estado. Esse é um dos elementos que foram levados em conta para a autorização de funcionamento de bares e restaurantes a partir de segunda (6). "Caso isso mude após a flexibilização, haverá um reflexo negativo nos números", afirma.

A reabertura de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro acabou sendo influenciada pela pressão de Bolsonaro, inegavelmente.

Mas não apenas. Muitos justificaram pelo fato de grandes cidades da Europa e dos Estados Unidos estarem reabrindo. Esses locais, contudo, estão semanas à frente das grandes metrópoles brasileiras do ponto de vista epidêmico. Estamos longe da curva descendente da França, Espanha, Itália ou mesmo de Nova York.

São Paulo e Rio tomam, com isso, uma decisão que não é apenas baseada na saúde pública, mas também na economia e política - como escrevi no post anterior. Bolsonaro sente-se satisfeito. Para ele, é uma vitória, ainda que parcial.

O problema é que o que acontece nas nossas duas maiores cidades acaba por influenciar a reabertura de cidades no interior do país - regiões que, por sua vez, ainda veem a infecção escalando em número de mortos.

"Cada lugar tem um tempo epidêmico diferente. Há processos diferentes em cidades do interior e nas capitais no Brasil da mesma forma que existe um outro tempo epidêmico em outros países", explica Diego Xavier, pesquisador do Laboratório de Informação em Saúde do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde da Fiocruz.

Ele concorda com que uma cobrança intensiva pelo poder público do uso de máscara neste momento de relaxamento da quarentena nas duas cidades, mas também reforça a necessidade de aplicação de testes em massa.

"Os países que reabrem aumentam muito sua testagem. E se encontram um surto, ele é isolado, como aconteceu em Pequim. Caso contrário, o surto se descontrola e tudo terá que ser fechado de novo", afirma. "E uma segunda onda de contaminação trará impactos ainda mais graves não apenas às pessoas, mas também à economia."

Mas o Brasil precisa voltar a funcionar normalmente, "morra quem morrer", como bem resumiu o prefeito de Itabuna (BA). Justo. Todo mundo morre. Até a dignidade. Até democracias.