Leonardo Sakamoto

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Opinião

Relógio do Juízo Final põe mundo perto do fim. E Trump promete dar corda

O mundo ficou, nesta terça (28), "um segundo" mais próximo do fim. O "Relógio do Juízo Final", um medidor simbólico mantido pelo Boletim dos Cientistas Atômicos, nos Estados Unidos, criado por Albert Einstein e seus colegas em 1947, mostra o quão perto estamos de destruir a civilização por tecnologias que criamos. Inicialmente, ele retratava o risco de armas nucleares, mas, recentemente, passou também a considerar mudanças climáticas e riscos biológicos.

E nada é mais simbólico de que o maior risco de catástrofe planetária tenha sido alcançado na atualização desta terça (28), segundo os cientistas que mantém o relógio, com 89 segundos para a meia-noite, pouco mais de uma semana após a posse de Donald Trump. O novo presidente dos Estados Unidos tomou decisões que irão aumentar o efeito estufa e podem promover novos conflitos armados.

Quanto mais próximo da zero hora, mais perto estamos do fim. Na pior situação do relógio durante a Guerra Fria, chegamos a 2 minutos da meia-noite (em 1953, com sucessivos testes nucleares do EUA e da União Soviética) e, na melhor, a 17 minutos (com a redução do arsenal nuclear ao fim do conflito entre as duas superpotências).Desde então, o reloginho foi se aproximando do fim dos tempos. Em 2023, ele havia sido ajustado para 90 segundos para a meia-noite.

"Ao ajustar o Relógio um segundo mais perto da meia-noite, enviamos um sinal claro: como o mundo já está perigosamente perto do precipício, um movimento de até mesmo um único segundo deve ser tomado como uma indicação de perigo extremo e um aviso inconfundível de que cada segundo de atraso na reversão do curso aumenta a probabilidade de desastre global", dizem os cientistas em comunicado divulgado hoje.

Citam como os maiores riscos, os conflitos armados, como a guerra na Ucrânia ("o conflito pode se tornar nuclear a qualquer momento por causa de uma decisão precipitada ou por acidente ou erro de cálculo") e a situação no Oriente Médio ("ameaça sair do controle e se transformar em uma guerra maior sem aviso), e o investimento de centenas de bilhões de dólares em armas que podem destruir a civilização.

Também apontam para os impactos das mudanças no clima ("eventos climáticos extremos e outros eventos influenciados pelas mudanças climáticas, como inundações, ciclones tropicais, ondas de calor, secas e incêndios florestais, afetaram todos os continentes"), com prognóstico ruim para tentativas do mundo de lidar com a questão.

E indicam que isso vai piorar com a chegada de Donald Trump ao poder: "A julgar pelas recentes campanhas eleitorais, as mudanças climáticas são vistas como uma baixa prioridade nos Estados Unidos e em muitos outros países".

Ressaltam as doenças que continuam a ameaçar a economia, a sociedade e a segurança do mundo, citando, como exemplo, uma gripe aviária altamente patogênica. E dizem que o avanço da inteligência artificial aumenta o risco de que terroristas ou países possam atingir a capacidade de projetar armas biológicas para as quais não existem respostas.

E destacam que "uma série de tecnologias disruptivas avançou no ano passado de maneiras que tornam o mundo mais perigoso", como sistemas que incorporam inteligência artificial em alvos militares usados na Ucrânia e no Oriente Médio. "Tais esforços levantam questões sobre até que ponto as máquinas terão permissão para tomar decisões militares — mesmo decisões que podem matar em grande escala, incluindo aquelas relacionadas ao uso de armas nucleares", questiona.

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E avaliam que todos esses perigos são potencializados pela "disseminação de desinformação e teorias da conspiração que degradam o ecossistema de comunicação e cada vez mais confundem a linha entre verdade e falsidade".

E afirmam que "os avanços na IA estão tornando mais fácil espalhar informações falsas ou inautênticas pela internet e mais difícil detectá-las".

"Ao mesmo tempo, as nações estão se engajando em esforços transfronteiriços para usar desinformação e outras formas de propaganda para subverter eleições, enquanto alguns líderes de tecnologia, mídia e políticos auxiliam na disseminação de mentiras e teorias da conspiração", lamentam.

Por fim, citam os Estados Unidos, a China e a Rússia como países com o poder coletivo de destruir a civilização. "Esses três têm a responsabilidade principal de tirar o mundo do abismo, e podem fazer isso se seus líderes iniciarem seriamente discussões de boa-fé sobre as ameaças globais descritas aqui".

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL