Eleitor votará em candidato de Bolsonaro por conta do auxílio emergencial?
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Qual será a influência do apoio do presidente da República (sem partido) a um candidato nas eleições em São Paulo? A pergunta passa pelo impacto do auxílio emergencial. Ao que tudo indica, a transferência de renda não ajudou no salto da aprovação de Bolsonaro na capital paulista, como ocorreu em outros locais do país. Contudo, considerando que São Paulo terá uma eleição pulverizada, o apoio de parte da periferia grata pelo auxílio pode ajudar o candidato ungido pelo presidente.
O Ibope apontou, na última quinta (24), que o governo Bolsonaro alcançou aprovação de 40% e reprovação de 29% no Brasil, revertendo a baixa popularidade no pico da crise sanitária. Ao mesmo tempo em que perdeu aprovação na classe média por seu comportamento negacionista durante a pandemia, ganhou pontos junto às camadas mais pobres da população - beneficiadas por cinco parcelas de R$ 600/R$ 1200 e com três de R$ 300.
Este último grupo é numericamente superior e faz diferença nas pesquisas. Representa as periferias das cidades e do interior.
A capital paulista, com população e orçamento atrás apenas da União e do Estado de São Paulo, contudo, não se comporta, necessariamente, como um microcosmo do restante do Brasil.
Apesar de usarem metodologias diferentes, o que impede a comparação, pesquisa Datafolha, divulgada na última sexta (25), apontou que o governo Bolsonaro é considerado ruim ou péssimo por 46% dos moradores da capital paulista e ótimo e bom por 29%. A diferença entre os dados nacionais e municipais é gritante.
Poderíamos especular a razão da diferença passando pelo perfil socioeconômico, como o peso da classe média na composição total, ou a questão do acesso à informação sobre o comportamento do presidente na crise, o que teria levado a população a ser mais crítica ao seu governo. Mas o que nos interessa aqui é entender o peso do auxílio emergencial nessa popularidade, ainda que menor do que no restante do país.
Pesquisa Datafolha, divulgada nesta segunda (28), apontou que 38% dos moradores da capital paulista solicitaram o auxílio emergencial e 81% destes receberam, ao menos, uma parcela de R$ 600. Ou seja, 30,8% dos moradores tiveram acesso ao auxílio.
Além do impacto do auxílio não ter tido o mesmo peso na capital paulista do que ocorreu em outras partes do Brasil, como as regiões Nordeste e Norte, o impacto também parece não ter sido tão grande a ponto de influenciar na popularidade de Bolsonaro.
O mesmo Datafolha já havia informado que o índice de aprovação do presidente entre os que recebem e os que não recebem o auxílio na capital paulista é o mesmo - 30% e 29%, respectivamente. Isso não significa que ele é irrelevante, apenas que é relevante a um grupo limitado.
Ressalte-se que, na pesquisa Ibope, a popularidade do presidente cresceu mais entre os que possuem renda familiar de até um salário mínimo, passando de 19% para 35%, levando em conta todo o país.
Uma hipótese é que, em São Paulo, a transferência de renda ajudou na popularidade, mas não muito devido ao perfil socioeconômico do paulistano. Por aqui, o custo de vida, que já era maior do que no restante do país, ficou ainda maior na crise.
Mais da metade (52%) das famílias tiveram queda nos rendimentos por causa da pandemia. Entre quem ganha até dois salários mínimos, a situação foi ainda pior: 55% tiveram queda - mesmo sendo o foco do auxílio emergencial.
Ao mesmo tempo, os moradores da cidade, que estão voltando ao trabalho, sentem a falta de políticas para geração de empregos por parte do governo federal. Dados do IBGE mostram que a taxa de desemprego chegou a 14,3% na quarta semana de agosto.
Diante disso, seria possível afirmar que o auxílio emergencial terá impacto eleitoral limitado em São Paulo? Também é difícil afirmar isso. Tendo em vista natureza pulverizada e fragmentada desta eleição, você não precisa de muito para ir ao segundo turno.
Se a eleição de 2022 fosse hoje, Bolsonaro teria problemas na capital paulista, com menos votos do que conquistou em 2018.
Mas para esta eleição municipal, em que há um número significativo de candidatos viáveis, o apoio que mantém junto aos mais pobres por conta do auxílio (que não é suficiente para bombar sua popularidade, mas contribui com seus 29% de ótimo e bom) pode ajudar a empurrar alguém para o segundo turno.
No caso, esse alguém seria o deputado federal Celso Russomanno (Republicanos).
Fora da esfera de influência da economia e do emprego (que, apesar de serem temas federais, devem ser temas fundamentais nesta eleição municipal), temos que levar em conta o tamanho das redes de apoio de Bolsonaro em São Paulo.
Em uma eleição curta e (em tese) sem muita aglomeração, por conta da pandemia, contará a quantidade de templos e igrejas que recomendarem votos em candidatos, da mesma forma que será fundamental as listas de WhatsApp e os grupos no Facebook.
Na direita, Arthur do Val (Patriotas) e Joice Hasselman (PSL) contam com presença e mobilização de redes, não tão grandes quanto às de Bolsonaro mesmo após os torpedos lançados pela CPMI das Fake News e pelo Supremo Tribunal Federal ao bunker de desinformação do presidente.
Russomanno, se, por um lado, conta com a força midiática da Universal, ao qual o seu partido é ligado, por outro sofre com a repulsa de outras denominações cristãs críticas à igreja de Edir Macedo. Contudo, há grupos conservadores, alinhados com Bolsonaro, que podem ajudar a empurrar o candidato do presidente para o segundo turno. Ainda mais se trata de uma eleição nacionalizada que, em outro polo, conta com uma aliança entre PSDB, DEM, MDB e parceiros, visando a 2022.