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Tragédia em Petrópolis já é uma das maiores do país em número de mortos
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A tragédia em Petrópolis (RJ) já é uma das maiores do país. E pode figurar entre as dez com o maior número de mortos uma vez que há 134 desaparecidos, de acordo com registros da Polícia Civil. Por enquanto, 105 corpos foram encontrados.
É impossível comparar a dor de perdas, elas são únicas porque levam embora insubstituíveis biografias. Mas o levantamento organizado por esta coluna serve para dar dimensão ao tamanho da tragédia que se abateu mais uma vez sobre a região serrana do Estado do Rio de Janeiro, nesta terça (15), quando morros se transformaram em rios, matando o que estivesse pela frente.
Tragédia que poderia ter sido mitigada e evitada caso os governos municipal, estadual e federal, tanto os atuais quanto os anteriores, tivessem implementado políticas de urbanização, moradias e prevenção de catástrofes.
Considerando as tragédias com 100 ou mais mortos do início do século 20 até agora, a maior perda de vidas registrada também envolveu deslizamentos causados pelas chuvas na região serrana do Rio de Janeiro. Com a tempestade que começou em 11 de janeiro de 2011, 918 pessoas morreram em diversos municípios, sem contar os desaparecidos.
Uma série de deslizamentos de terra na Serra das Araras, no Rio de Janeiro, entre 1966 e 1967, causou centenas de mortes, mas não há um registro oficial do número. As contagens variam de 400 a cerca de 2000.
Entre as maiores tragédias, a lama também matou 436 pessoas nos deslizamentos de Caraguatatuba, litoral norte de São Paulo, em 18 de março de 1967; 272 pessoas com o rompimento da barragem pertencente à empresa Vale, em Brumadinho (MG), no dia 25 de janeiro de 2019; 135 pessoas nos deslizamentos e inundações após as chuvas, em Santa Catarina, entre novembro e dezembro de 2008; e 134 perderam a vida após um temporal na mesma Petrópolis que hoje procura seus mortos soterrados em 5 de fevereiro de 1988.
Entre tragédias que não envolveram lama, temos o registro de 564 pessoas mortas na onda de violência promovida por agentes do Estado e membros do PCC, em São Paulo (SP), entre 12 e 21 de maio de 2006; os 503 mortos do incêndio do Gran Circo Norte-Americano, em Niterói (RJ), 17 de dezembro de 1961; os 477 mortos do naufrágio do transatlântico Príncipe de Astúrias, em Ilhabela (SP), em 5 de março de 1916; e os 242 mortos do incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria (RS), em 27 de janeiro de 2013.
E também os 228 mortos da queda do voo 447 da AirFrance, no Oceano Atlântico, em 1º de junho de 2009; os 199 mortos do acidente do voo 3054 da TAM em São Paulo (SP), em 17 de julho de 2007; os 187 mortos do incêndio no Edifício Joelma na capital paulista, em 1º de fevereiro de 1974; os 154 mortos da queda do voo 1907 da Gol, que se chocou com um jato Legacy e caiu a 30 km de Peixoto de Azevedo (MT), em 29 de setembro de 2006; e os 111 mortos do Massacre na Casa de Detenção do Carandiru, em 2 de outubro de 1992.
A lista não inclui eventos prolongados, como a tentativa de genocídio indígena do povo Waimiri Atroari, que vive entre o Amazonas e Roraima, cometida pela ditadura militar - dos cerca de 3 mil indivíduos nos anos 1970, a população caiu para 332 indígenas na década seguinte. Ou as mortes diárias de jovens pobres nas periferias nas grandes cidades, que juntas são um massacre.
E também ficou de fora a sabotagem ao combate à pandemia levada a cabo pelo governo Jair Bolsonaro. De acordo com estimativa do epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas, ao menos 500 mil das 630 mil mortes por covid-19 poderiam ter sido evitadas caso o país tivesse adotado uma política racional de combate à doença.