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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Moro engole o orgulho e cola em Bolsonaro por voto na reta final da eleição

Colunista do UOL

29/09/2022 18h39

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O ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro deixou o orgulho de lado e, no afã de conseguir a única vaga em disputa no Senado pelo Paraná, tornou-se cabo eleitoral do ex-chefe, o presidente Jair Bolsonaro - que já o chamou de "mentiroso deslavado", "sem caráter", "palhaço" e "idiota".

Em sua conta no Twitter, nesta quinta (29), Moro propôs fazer uma checagem de Lula no debate da Globo. Sobre Bolsonaro, contra quem pesam evidências de corrupção (do desvio de salários de servidores até a compra de imóveis com dinheiro vivo), nada.

"Hoje vou acompanhar o debate da Globo. Serei o detector de mentiras do Lula. Vamos ver como ele vai encarar as perguntas sobre corrupção em seu governo. A cada mentira do Lula, estarei aqui pra trazer a verdade. Tenho experiência", postou o ex-juiz.

Moro é acusado de ajudar Bolsonaro a se eleger por interesse próprio - ele condenou Lula, retirando-o da disputa em 2018, e, depois, aceitou o cargo de ministro da Justiça e da Segurança Pública. No ano passado, o STF anulou as condenações de Lula e declarou que Moro não foi imparcial no julgamento.

Após atritos com o chefe, o ex-juiz saiu do governo denunciando que Jair interferia no trabalho da Polícia Federal por interesses pessoais.

As brigas entre os dois continuaram enquanto Moro se colocava como pré-candidato à Presidência. Em uma live em 2 de dezembro do ano passado, Bolsonaro disse que seu ex-ministro "faz um papel de palhaço, sem caráter". Ainda afirmou que ele é um "mentiroso deslavado"

Já em 7 de dezembro, referiu-se a ele de forma mais dura a seguidores na porta do Palácio do Alvorada: "tem um idiota aí agora, não vou falar o nome dele: 'ah, comigo a economia vai ser inclusiva, sustentável?'. Esse cara passou aí um ano e pouco no meu governo, nunca abriu a boca em reunião de ministros. Sempre de boca fechada. Até que aconteceu a saída. Aconteceu um pouco tarde, mas aconteceu. Agora tem solução para tudo".

Na busca por votos do bolsonarismo, Moro foi além. Após aparecerem pelo Paraná santinhos de Moro pedindo voto para Bolsonaro, o candidato afirmou que isso era coisa de apoiadores. Porém, a cúpula do União Brasil informou ao portal Metrópoles que foi o ex-juiz quem teve a iniciativa de colocar Bolsonaro na sua propaganda eleitoral.

Ou seja, ao invés de apoiar Soraya Thronicke, o nome do partido ao Palácio do Planalto, colou em que o chama de "idiota" e "mentiroso".

Na última pesquisa Ipec, de 16 de setembro, Alvaro Dias marcava 36%, e Sergio Moro, 25%.

Dias, vigoroso defensor da operação Lava Jato, foi um dos maiores entusiastas para que o ex-juiz e ex-ministro disputasse um cargo público. Hoje, Moro briga com ele pela vaga de senador, dizendo que Dias se juntou à "velha política".

O ex-juiz se filiou com pompa ao Podemos no dia 10 de novembro do ano passado. Depois de mais de quatro meses de pré-campanha pelo partido, migrou para o União Brasil, em 31 de março, transferindo também seu domicílio eleitoral para São Paulo. O movimento deixou muita gente no Podemos se sentindo usada.

A nova agremiação não garantiu a Moro legenda para concorrer à Presidência e nem ao governo do Estado. Por fim, a Justiça considerou que a transferência de domicílio eleitoral foi irregular. Diante disso, ou sairia para síndico de prédio ou voltava para o Paraná. Deixou em São Paulo, a esposa, Rosângela Moro, que disputa a Câmara dos Deputados.