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Usar PRF para dificultar voto de pobres é tentativa de golpe de Bolsonaro
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Jair Bolsonaro está operando uma tentativa de golpe ao emperrar o transporte de eleitores mais pobres, neste domingo (30), principalmente no interior do Nordeste, onde Lula tem maior intenção de votos. Através da força armada de uma polícia sob o seu comando, ele opera para conseguir pelo tapetão o que teme não ser capaz de obter pelo voto popular.
A Polícia Rodoviária Federal deu uma banana às ordens do Tribunal Superior Eleitoral para não dificultar o acesso de eleitores aos locais de votação neste segundo turno e priorizou operações contra ônibus, vans, caminhões e caminhonetes.
Vídeos com operações na Paraíba, em Alagoas, na Bahia, no Pará, entre outros estados, estão correndo as redes sociais. O número de abordagens já é 70% maior do que as realizadas no primeiro turno, de acordo com dado obtido pela Folha de S.Paulo. Esse abuso de poder configura crime eleitoral e pode levar à cassação da candidatura ou da chapa do presidente.
O impacto disso vai muito além das pessoas que ficam sem transporte após os veículos em que estavam serem retidos. Isso constrange os eleitores que ainda não saíram de suas casas e acabam desistindo de votar por conta das barreiras impostas pela polícia.
O diretor da PRF, Silvinei Vasques, publicou em suas redes sociais, neste sábado (29), um pedido de voto em Bolsonaro. Provavelmente para dirimir dúvidas de seus subordinados a respeito de quem ajudar nessa reta final. Depois, com o recado dado, apagou.
A PRF, que sempre fez um excelente trabalho em ações de combate ao trabalho escravo e ao tráfico de seres humanos, alinhou-se à ideologia extremista do presidente e, hoje, transmite a imagem de uma instituição que serve para a contenção dos mais vulneráveis e para ações golpistas.
Em maio, Genivaldo de Jesus Santos, negro, desarmado, que dirigia uma motocicleta velha e vivia com uma doença mental, foi assassinado por policiais rodoviários federais que o trancaram em um porta-malas de uma viatura junto com uma bomba de gás em Umbaúba (SE).
Ao que tudo indica, neste momento, aliados de Bolsonaro decidiram ignorar as ordens do TSE e de seu presidente, ministro Alexandre de Moraes. E quando o Poder Executivo dá de ombros para o que Poder Judiciário, quando deixa de respeitar decisões judiciais como Bolsonaro sistematicamente prometeu que faria, temos uma fratura na República.
Além do diretor-geral da PRF, a deputada Carla Zambelli também disse que resolveu ignorar resolução do TSE que proibiu o porte de armas 24 horas antes das eleições. Com uma pistola em mãos, ela tocou o terror em um bairro nobre de São Paulo, neste sábado, ao perseguir um homem com quem discutira momentos antes.
Dessa forma, os aliados de Bolsonaro deixam claro que a lei é para os fracos. E quem manda de verdade é quem está armado.
Com todas as críticas que lhe são cabidas, o TSE e o STF têm sido um dos únicos entraves a Bolsonaro governar fora das regras do jogo democrático. Por conta disso, desde o início de seu governo, ele vem agindo para corroer a autoridade da corte e, por conseguinte, a própria Constituição.
Como já disse aqui, quando se fala em golpe de Estado, a imagem histórica remete a uma fila de tanques descendo de Minas Gerais até o Rio de Janeiro e a imagem moderna aponta para um cabo e um soldado batendo na porta do STF. Mas o uso de tropas é desnecessário. Para um golpe, basta que o Poder Executivo passe a governar sem freios nem contrapesos dos outros poderes. Ignorando o Judiciário e a Constituição, que prega o direito ao voto.
Às vezes, democracias morrem sem um único tiro. Para evitar isso, é necessário que a população reforce o apoio às instituições agora. Amanhã, não adianta reclamar.