Topo

Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Tebet demonstra ignorância em gestão pública ao falar sobre mulheres negras

Colunista do UOL

05/01/2023 13h39

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

A ministra do Planejamento Simone Tebet demonstrou desconhecimento da administração pública e mesmo das dinâmicas sociais ao afirmar que é muito difícil trazer mulheres pretas para trabalhar em Brasília porque "normalmente elas são arrimo de família" e, no governo, "os salários são muito baixos".

Ao tentar falar da importância da diversidade e reclamar da quantidade de homens em detrimento ao de mulheres em sua pasta, o que é correto, ela acabou dando uma declaração equivocada e sendo justamente criticada por isso nas redes sociais e na imprensa.

O governo federal conta com competentes servidoras negras concursadas em diversas categorias profissionais, como gestoras públicas, diplomatas, auditoras fiscais, analistas, que já residem na capital federal ou em outros locais do país e podem ser convocadas para cargos comissionados, recebendo a mais por isso. A partir de determinado patamar, um cargo garante, inclusive, auxílio moradia.

É claro que os valores pagos a coordenadores e diretores na administração pública não são os mesmos de gerentes e executivos de grandes empresas da iniciativa privada. Mas há muita gente que abre mão de um salário alto pela experiência e oportunidade de realizar um bom trabalho no governo federal.

E tem muita gente boa que não estudou em escolas, por exemplo, do "vale dourado" em São Paulo, mas que não deixam nada a dever em termos de competência ou de experiência. Talvez apenas não contem com a mesma rede de contatos que beneficia a meritocracia hereditária das classes mais abastadas.

Por fim, a ministra incorre em uma generalização desnecessária. Muitas mulheres negras mais pobres são realmente arrimo de família, fruto do nosso machismo e racismo estruturais. Mas não são todas. E mesmo as que estão nessa situação, podem muito bem se mudar para Brasília e realizar um bom trabalho caso não seja oferecido a elas os cargos mais baixos de sempre.

Se os ministérios como dos Direitos Humanos e Cidadania e da Igualdade Racial, conseguiram trazer mulheres negras, o do Planejamento também consegue.