Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.
De 'fedorento' a 'animais': Dez vezes em que Bolsonaro atacou indígenas
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Diante da morte e da fome na terra yanomami, discute-se a possibilidade de responsabilizar Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de genocídio. Sua verborragia pode ajudar a demonstrar desprezo e raiva por indígenas, além de um projeto de aculturação, assimilação e tomada de suas terras.
Enquanto o ministro da Justiça Flávio Dino ordenou à Polícia Federal uma investigação sobre o crime de genocídio, denúncias contra o ex-presidente estão sendo analisadas, pelo mesmo motivo, no Tribunal Penal Internacional desde 2021.
Em uma delas, levada pela comissão Arns e pelo Coletivo de Advogados em Direitos Humanos, uma série de declarações de Jair Bolsonaro é usada para mostrar que ele, ao longo dos anos, estimulou a violência e incitou o genocídio, especialmente contra o povo yanomami.
A coluna resgatou declarações presentes na peça entregue ao TPI e acrescentou outras, obtidas em notas taquigráficas da época em que Jair Bolsonaro era deputado federal ou registradas pela imprensa.
A cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado e, hoje em dia, não tem esse problema em seu país."
Em abril de 1998, durante discurso na Câmara, em que criticou a terra yanomami, comparando o Brasil com o genocídio indígena nos Estados Unidos do século 19. Percebendo a besteira que havia dito, tentou se corrigir: "Se bem que não prego que façam a mesma coisa com o índio brasileiro. Recomendo apenas o que foi idealizado há alguns anos, que seja demarcadas reservas indígenas em tamanho compatível com a população".
O índio, sem falar a nossa língua, fedorento, é o mínimo que posso falar, na maioria das vezes, vem para cá, sem qualquer noção de educação, fazer lobby."
Em abril de 2004, durante uma reunião na Câmara sobre a demarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. Bolsonaro foi um dos maiores opositores à demarcação desse território bem como da terra yanomami.
Ele devia ir comer um capim ali fora para manter as suas origens."
Em maio de 2008, após um indígena jogar água em sua direção num bate-boca em uma audiência pública, na Câmara, para discutir a Raposa Serra do Sol.
Alô, pessoal de Roraima, é o Jair Bolsonaro. Em 2019, vamos desmarcar a [terra indígena] Raposa Serra do Sol. Vamos dar fuzil com porte de arma para todos os fazendeiros."
Em janeiro de 2016, em vídeo gravado no plenário da Câmara dos Deputados, antecipando que tentaria entregar o território a fazendeiros quando assumisse a Presidência da República.
Pode ter certeza que se eu chegar lá [no comando do Poder Executivo], não vai ter um centímetro demarcado para reserva indígena ou quilombola."
Em 3 de abril de 2017, durante discurso no Clube Hebraica do Rio de Janeiro, quando foi ovacionado por parte dos presentes.
Se eleito, eu vou dar uma foiçada na Funai, mas uma foiçada no pescoço. Não tem outro caminho. Não serve mais."
Em agosto de 2018, Bolsonaro prometeu a empresários capixabas que acabaria com a Funai. Mentiu ainda aqui que "se um índio constrói uma casa no meio da praia e a Funai vêm e diz que ali agora é reserva indígena".
Quando tem contato com a civilização, vai se moldando a outra maneira de viver, que é bem melhor que a dele. O índio não pode ser animal dentro do zoológico. Se quiser vender a terra, que venda, explore, venda."
Em 5 de novembro de 2018, ao defender a necessidade de turbinar o agronegócio com a inclusão de áreas indígenas, ele comparou os seus moradores com animais de zoológicos.
Por que no Brasil devemos mantê-los reclusos em reservas como se fossem animais em zoológicos?"
Em 30 novembro de 2018, ele voltou a usar a comparação ao criticar a demarcação de terras indígenas. Na ocasião, atacou o território yanomami: "não se justifica isso aí".
Cada vez que um governo do passado saía para fora do Brasil, ele recebia de forma passiva e servil pressões por demarcações de terras indígenas. Eu quero o bem-estar do índio. Quero integrá-lo à sociedade. O nosso projeto para o índio é fazê-lo igual a nós."
Em 1º dezembro de 2018, na Academia Militar das Agulhas Negras, reforçando seu desejo de assimilação e aculturação de povos indígenas.
O índio mudou, tá evoluindo. Cada vez mais, o índio é um ser humano igual a nós. Então, [precisamos] fazer com que o índio cada vez mais se integre à sociedade."
Em 23 de janeiro de 2020, durante live ao lado do seu então vice, general Hamilton Mourão, reforçando que acredita que os indígenas ainda não são seres humanos como os outros.