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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Finalmente! Bolsonaro terá que explicar ao país por que incentivou um golpe

Colunista do UOL

14/04/2023 16h48

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Com o país ainda perplexo diante de uma horda de bolsonaristas que invadiu, vandalizou e roubou o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o STF, em 8 de janeiro, Bolsonaro incentivou a violência de seus seguidores, postando no Facebook, dois dias depois, um conteúdo que promovia o golpismo. Por conta disso, o ministro Alexandre de Moraes determinou, nesta sexta (14), que ele seja ouvido no inquérito da Polícia Federal que investiga os autores intelectuais dos atos golpistas a pedido da Procuradoria-Geral da República.

A convocação demorou, mas finalmente veio. Ironicamente, ela se baseou na publicação de um vídeo que, claramente, foi uma decisão equivocada, provavelmente de Carluxo, estrategista das redes sociais do pai. A PGR acredita que Jair pode ter "incitado a perpetração de crimes contra o Estado de Direito".

Pois nas semanas anteriores, o então presidente vinha tomando cuidado para evitar publicações em suas contas pessoais que produzissem provas de que ele estava incitando os protestos violentos contra a democracia. Até havia fugido para os Estados Unidos, em 30 de dezembro, para não ser responsabilizado pelos atos golpistas planejados para nove dias depois.

A postagem da noite de 10 de janeiro, mesmo com a covardia de ter sido deletada horas após, foi um recado explícito ao seu rebanho considerando o contexto em que estávamos: vão em frente! Mas como os Três Poderes e a sociedade se uniram para dar uma resposta forte ao ocorrido, o recado flopou.

O vídeo mostrava parte de uma entrevista do bolsonarista Felipe Gimenez, um dos procuradores de Mato Grosso do Sul, divulgando a manjada mentira de que a eleição foi fraudada e que o sistema eletrônico de votação não é confiável. Na postagem de Bolsonaro, destacava-se a legenda: "Lula não foi eleito pelo povo, ele foi escolhido e eleito pelo STF e TSE".

Esse tipo de discurso era exatamente o mesmo que guiou milhares de bolsonaristas para invadir, vandalizar e roubar as sedes dos três poderes no domingo (8).

Três meses depois, a defesa de Jair Bolsonaro está se ajoelhando aos ministros do TSE em busca de clemência uma vez que sua inelegibilidade desponta no horizonte. Chegam a dizer que o tribunal tem "postura leal e institucionalmente irmanada com a genuína proteção da democracia", como apurou o Painel da Folha de S.Paulo.

Puro óleo de peroba. Durante anos, Jair difundiu que as urnas eletrônicas eram corrompidas e manipuladas em nome de Lula, usou técnicos das Forças Armadas para tentar colocar em dúvida a lisura da corte, transformou os chefes do TSE (Luís Roberto Barroso e, depois, Alexandre de Moraes) em alvos de seu rebanho, colocou embaixadores estrangeiros em um espécie de "cercadinho" para atacar o sistema eleitoral brasileiro. Armou seus seguidores através de decretos. Conclamou a todos a pegar em armas.

Fomentou, pois, um golpe de Estado. E, depois que ele aconteceu, publicou um vídeo, reafirmando tudo o que havia dito.

Está em curso uma investigação para saber quem financiou, quem organizou e quem idealizou os atos golpistas. Para além de empresários bolsonaristas e aliados políticos do ex-presidente, os caminhos vão apontando para Jair. E, como eu disse aqui logo após o vídeo vir a público em janeiro, a publicação ajudaria, e muito, o trabalho dos investigadores.

Em um momento em que o Brasil precisava de pacificação, a postagem de Bolsonaro jogou mais gasolina sobre o fogo. O ex-presidente vai se vitimizar diante disso, que é o que ele faz de melhor. Mas, mesmo ele, um dia precisa aprender que quem brinca com fogo, uma hora, sai chamuscado.