Leonardo Sakamoto

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Reportagem

Trégua em Gaza ainda não surtiu efeito no único hospital operando ao norte

Principal referência hospitalar hoje no Norte de Gaza, o Al-Awda não recebeu os prometidos suprimentos desde que a trégua no conflito começou, na última sexta (24). A pausa está sendo usada para a troca de reféns israelenses e de outras nacionalidades por prisioneiros palestinos, mas também para a entrada de caminhões com ajuda humanitária, incluindo combustível. Corre, assim, o risco de fechar.

"Como único hospital que está funcionando na região norte há muitos dias, assumimos a liderança nos serviços de saúde. Todos os hospitais pararam. Mas nós não recebemos nenhum auxílio de produtos médicos, nem de combustível até agora", afirmou à coluna, neste domingo (26), o médico Ahmad Muhanna, diretor do Al-Awda.

Muhanna explica que combustível é um produto crítico, pois garante o funcionamento dos geradores. O cerco de Israel, além de impedir a entrada de medicamentos, alimentos e água, também, interrompeu a energia elétrica e barrou combustíveis.

Desde então, o diretor do hospital fez diversos apelos à comunidade internacional pelo reestabelecimento do seu fornecimento para abastecer os seus dois geradores. O Al-Awda contava, antes do cerco, com uma reserva de 12 mil litros, que se esgotou.

"Algumas organizações prometeram que teremos a chance de obter apoio amanhã [esta segunda], mas não tivemos mais notícias e atualizações", explica. "Se não conseguirmos nenhum apoio, isso poderá levar à interrupção dos serviços de saúde na região norte de Gaza."

Esta segunda (27) seria, a princípio, o último dia da trégua, mas Qatar, Egito e os Estados Unidos, que ajudaram a negociá-la, vêm pressionando Tel Aviv para que ela seja estendida.

Ahmad Muhanna, diretor do hospital Al Awda, que sofreu com bombardeios no norte da Faixa de Gaza
Ahmad Muhanna, diretor do hospital Al Awda, que sofreu com bombardeios no norte da Faixa de Gaza Imagem: Reprodução

Bombardeio matou membros da Médicos Sem Fronteiras no Al-Awda

A falta de combustíveis impede o funcionamento de respiradores, máquinas de raio-X e incubadoras de prematuros — o Al-Awda também é mais importante maternidade do Norte de Gaza. Muhanna afirmou que os médicos estavam operando com luzes recarregáveis e pilhas.

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Além da estrangulação de insumos, o hospital também vem sofrendo com bombardeios, tanto pelos estragos em suas instalações e a morte de funcionários, como pelo grande fluxo de pacientes.

Na última terça (21), por exemplo, a organização Médicos sem Fronteiras divulgou uma nota declarando-se "horrorizada" com a morte de dois médicos do grupo que atuavam no Al-Awda após um bombardeio. Lembrou que o ataque a instalações médicas constitui violação grande ao direito humanitário internacional.

"Dr. Abu Nujaila e o Dr. Al Sahar estavam no hospital quando a unidade foi atingida no terceiro e no quarto andares. Outras equipes médicas, incluindo equipes de MSF, também ficaram gravemente feridas. No momento em que esta nota foi escrita, mais de 200 pacientes ainda estavam em Al-Awda e não conseguiam receber o nível de cuidados de que necessitam", afirmou a MSF. Um terceiro médico que não pertencia à organização também morreu.

O impacto de mísseis já havia destruído ambulâncias, causado danos ao edifício e ferido funcionários do Al-Awda há duas semanas, quando eles estavam atendendo às vítimas dos bombardeios do campo de refugiados de Jabalia. O Exército israelense mandou a evacuação do local, mas os funcionários resolveram ficar.

O governo do primeiro-ministro Benjamim Netanyahu vem acusando hospitais de esconderem sedes do Hamas. O caso mais famoso envolveu o Al-Shifa, o maior complexo hospitalar de Gaza, que foi cercado por tanques e invadido.

Desde então, o governo de Israel vem divulgando vídeos para tentar convencer de que o local escondia uma base do Hamas. Recebe duras críticas das Nações Unidas, que também usou o termo "horrorizada" para tratar da ação no hospital.

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Até o momento, dados do governo de Israel apontam 1200 mortos pelo ataque terrorista do Hamas no 7 de outubro, enquanto os serviços de saúde de Gaza, controlado pelo grupo, afirmam que houve quase 15 mil mortos no território.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.