Trégua em Gaza ainda não surtiu efeito no único hospital operando ao norte
Principal referência hospitalar hoje no Norte de Gaza, o Al-Awda não recebeu os prometidos suprimentos desde que a trégua no conflito começou, na última sexta (24). A pausa está sendo usada para a troca de reféns israelenses e de outras nacionalidades por prisioneiros palestinos, mas também para a entrada de caminhões com ajuda humanitária, incluindo combustível. Corre, assim, o risco de fechar.
"Como único hospital que está funcionando na região norte há muitos dias, assumimos a liderança nos serviços de saúde. Todos os hospitais pararam. Mas nós não recebemos nenhum auxílio de produtos médicos, nem de combustível até agora", afirmou à coluna, neste domingo (26), o médico Ahmad Muhanna, diretor do Al-Awda.
Muhanna explica que combustível é um produto crítico, pois garante o funcionamento dos geradores. O cerco de Israel, além de impedir a entrada de medicamentos, alimentos e água, também, interrompeu a energia elétrica e barrou combustíveis.
Desde então, o diretor do hospital fez diversos apelos à comunidade internacional pelo reestabelecimento do seu fornecimento para abastecer os seus dois geradores. O Al-Awda contava, antes do cerco, com uma reserva de 12 mil litros, que se esgotou.
"Algumas organizações prometeram que teremos a chance de obter apoio amanhã [esta segunda], mas não tivemos mais notícias e atualizações", explica. "Se não conseguirmos nenhum apoio, isso poderá levar à interrupção dos serviços de saúde na região norte de Gaza."
Esta segunda (27) seria, a princípio, o último dia da trégua, mas Qatar, Egito e os Estados Unidos, que ajudaram a negociá-la, vêm pressionando Tel Aviv para que ela seja estendida.
Bombardeio matou membros da Médicos Sem Fronteiras no Al-Awda
A falta de combustíveis impede o funcionamento de respiradores, máquinas de raio-X e incubadoras de prematuros — o Al-Awda também é mais importante maternidade do Norte de Gaza. Muhanna afirmou que os médicos estavam operando com luzes recarregáveis e pilhas.
Além da estrangulação de insumos, o hospital também vem sofrendo com bombardeios, tanto pelos estragos em suas instalações e a morte de funcionários, como pelo grande fluxo de pacientes.
Na última terça (21), por exemplo, a organização Médicos sem Fronteiras divulgou uma nota declarando-se "horrorizada" com a morte de dois médicos do grupo que atuavam no Al-Awda após um bombardeio. Lembrou que o ataque a instalações médicas constitui violação grande ao direito humanitário internacional.
"Dr. Abu Nujaila e o Dr. Al Sahar estavam no hospital quando a unidade foi atingida no terceiro e no quarto andares. Outras equipes médicas, incluindo equipes de MSF, também ficaram gravemente feridas. No momento em que esta nota foi escrita, mais de 200 pacientes ainda estavam em Al-Awda e não conseguiam receber o nível de cuidados de que necessitam", afirmou a MSF. Um terceiro médico que não pertencia à organização também morreu.
O impacto de mísseis já havia destruído ambulâncias, causado danos ao edifício e ferido funcionários do Al-Awda há duas semanas, quando eles estavam atendendo às vítimas dos bombardeios do campo de refugiados de Jabalia. O Exército israelense mandou a evacuação do local, mas os funcionários resolveram ficar.
O governo do primeiro-ministro Benjamim Netanyahu vem acusando hospitais de esconderem sedes do Hamas. O caso mais famoso envolveu o Al-Shifa, o maior complexo hospitalar de Gaza, que foi cercado por tanques e invadido.
Desde então, o governo de Israel vem divulgando vídeos para tentar convencer de que o local escondia uma base do Hamas. Recebe duras críticas das Nações Unidas, que também usou o termo "horrorizada" para tratar da ação no hospital.
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Quero receberAté o momento, dados do governo de Israel apontam 1200 mortos pelo ataque terrorista do Hamas no 7 de outubro, enquanto os serviços de saúde de Gaza, controlado pelo grupo, afirmam que houve quase 15 mil mortos no território.