Trump condenado pode afastar (pequena) parte do eleitorado e ajudar Biden
O ex-presidente Donald Trump foi considerado culpado, nesta quinta (29), por 34 acusações relacionadas a fraude. Para evitar que o eleitorado norte-americano descobrisse, em 2016, que ele havia subornado com 130 mil dólares uma atriz pornô com quem teria tido um caso, registros empresariais foram falsificados. Ainda cabe recurso.
A sentença sai apenas em 11 de julho, e é difícil imaginar que ele será enviado à cadeia (aliás, nos Estados Unidos, condenados e presos podem concorrer e se eleger à Presidência da República). A questão é outra: qual o impacto da decisão de hoje nas eleições presidenciais de novembro deste ano?
A maior parte dos eleitores republicanos acredita em sua narrativa e acha que ele está sendo perseguido. Parte, inclusive, vive numa realidade paralela em que a invasão ao Congresso norte-americano, em 6 de janeiro de 2021, não foi uma tentativa de golpe de Estado, mas um protesto pela democracia. Qualquer semelhança com o bolsonarista 8 de janeiro de 2023, ocorrido em Brasília, não é mera coincidência.
Mas há pesquisas indicando que ele terá perdas. Por exemplo, um levantamento da CNN/SSRS, de abril, mostra 24% dos apoiadores de Trump dizendo que uma condenação pode levá-los a reconsiderar o seu suporte a ele. O grupo representa cerca de 12% de todos os eleitores registados na votação - o que pode alterar uma disputa extremamente parelha entre ele e o presidente Joe Biden.
Qualquer mínima mudança no eleitorado significa derrota ou vitória. Considerando o sistema norte-americano, umas dezenas de milhares de votos em um punhado de estados pode definir o resultado.
A pesquisa encomendada pela CNN aponta que 81% dos apoiadores de Trump que podem reconsiderar o voto pós-condenação também não escolheriam Biden de jeito nenhum. Contudo, se ficarem em casa ou apoiarem um nome independente, já será um prejuízo grande para o ex-presidente.
Por outro lado, a condenação pode fazer com que parte dos democratas que estão decepcionados com o atual governo resolva sair de casa para votar. Não por confiarem em Biden (criticado pelos preços altos apesar da melhora nos indicadores econômicos e pelo apoio a Israel no massacre de Gaza), mas para evitar o vexame de eleger um condenado para a Casa Branca.
O eleitor tem informação provida oficialmente pela Justiça de que um dos candidatos mentiu, fraudou e enganou. O que pode ser útil para a tomada de decisão de quem não vive numa realidade paralela construída pelas redes sociais. É pouca gente no campo trumpista, mas eles existem e podem definir a eleição.