Aumentam as menções a títulos militares e religiosos nas urnas em 2020
Monize Arquer e Oswaldo E. do Amaral*
A eleição de 2018 confirmou a crescente influência de dois grupos sociais na política eleitoral brasileira: militares e religiosos, em especial os ligados às várias denominações evangélicas. Surfando na onda conservadora que resultou na vitória de Jair Bolsonaro, os dois grupos ampliaram sua representatividade no país todo.
Não sabemos ainda o que vai acontecer em 2020, mas a julgar pela análise do número de candidaturas que usaram títulos religiosos e militares no nome de urna, é possível imaginar que esse movimento não tenha atingido seu teto em 2018. O nome de urna não é capaz de indicar a quantidade de candidatos militares e religiosos em uma eleição, mas é uma boa medida para mostrar o quanto vinculações religiosas e militares parecem importantes para os candidatos impressionarem os eleitores - funcionando como um atalho informacional para a decisão do voto.
Aumento de mais de 300% no número de candidatos à prefeito com títulos militares
O Observatório das Eleições compilou os dados divulgados pelo TSE sobre os registros de candidaturas às prefeituras e às câmaras municipais em 2016 e em 2020 e chegou aos seguintes resultados: o número de candidatos com títulos militares para as prefeituras no país todo saltou de 53, em 2016, para 243, em 2020, um aumento de mais de 300%, bem acima do aumento geral de candidatos, que foi de 18%.
Em 2020, mais de 1% dos candidatos a prefeito apresentam-se ao eleitorado como militares. Em 2016, foram 0,4%. Em 23 estados, o número de candidatos usando títulos militares às prefeituras foi maior do que em 2016.
Entre os candidatos a vereador, aumento é de 56%
Para as câmaras municipais, o número de candidatos com essas características também cresceu bastante. Em 2016, foram 1903 candidatos. Em 2020, o número saltou para 2965, um aumento de 56%, bem acima dos 16% de crescimento no número de candidatos. A elevação deu-se em 25 estados.
Candidatos com títulos religiosos
O crescimento entre candidatos com títulos religiosos no nome de urna foi mais modesto. Em 2016, foram 77 candidatos às prefeituras de todo o Brasil. Agora, o número foi de 87, um crescimento de pouco mais de 10%. Para as câmaras municipais, foram 3165 candidatos em 2016. Neste ano, o número foi de 4500, um aumento de mais de 40%, novamente acima do crescimento geral e com ampliação no número absoluto em todos os estados.
Entre os partidos políticos, o PSL foi o que mais lançou candidatos com títulos militares às câmaras municipais (308), e o Republicanos, próximo à Igreja Universal, foi o que mais acolheu postulantes com títulos religiosos (367). Ambos são partidos claramente conservadores.
Diferentes estratégias
Os militares parecem reconhecer em suas carreiras um ativo importante tanto nas disputas majoritárias quanto nas proporcionais. Como mostrou ontem Fabio Zanini, um aplicativo conservador que busca influenciar os eleitores recomenda o voto em militares, pois sua carreira "é pautada em valores, deveres, ética e defesa da pátria".
Entre os religiosos, como vem acontecendo nos últimos pleitos, a ênfase recai nas eleições proporcionais, em que conseguem se beneficiar de nichos eleitorais e de um grande número de vagas em disputa e mobilizar pautas conectadas aos costumes e ao tradicionalismo sexual.
Com esse aumento de oferta, a disputa pelo eleitorado conservador será bem acirrada em 2020.
Nota metodológica
Os dados foram calculados com base no nome de urna de cada candidato registrado para as disputas de 2016 e de 2020. A categoria "religiosos" inclui as palavras bispo, pastor, padre e reverendo, assim como suas versões no gênero feminino e respectivas abreviações e derivados. Já a categoria "militares" agrega as palavras soldado, cabo, sargento, tenente, capitão, major, coronel, general e comandante, e, igualmente, suas respectivas versões no gênero feminino, abreviações e derivados.
*Monize Arquer é doutora em Ciência Política pela Unicamp e pesquisadora do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da mesma instituição
Oswaldo E. do Amaral é professor do departamento de Ciência Política da Unicamp e Diretor do Cesop/Unicamp
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