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Observatório das Eleições

Direita avança e número de candidatos cresce em 41% dos municípios

04/10/2020 09h13

Vitor Vasquez e Monize Arquer*

Apesar da frequente criação de novos partidos no Brasil, o número de candidatos a prefeito nos municípios com menos de 200 mil eleitores praticamente não variou ao longo dos anos. Isto porque, como prevê a Lei de Duverger, o fato de que as eleições para prefeito nesses locais é decidida obrigatoriamente em apenas um turno desincentiva a presença de muitos competidores. Assim, nessas cidades, que representam 98% dos municípios brasileiros, a média de candidatos a prefeito nunca foi superior a três. Até 2016.

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Distribuição do número de candidatos a prefeito por eleição (2000-2020)
Imagem: Elaboração própria (Observatório das Eleições)

Há algo de novo em 2020. Apesar da legislação eleitoral ter se mantido quanto ao formato da disputa em turno único, os partidos parecem ter sentido menos os obstáculos gerados por esse arranjo e se sentiram estimulados a lançar mais candidatos do que normalmente fazem nessas eleições.

Comparando 2020 com 2016, percebemos que em 41% dos municípios houve aumento no total de candidatos para prefeito. Em somente 23% houve redução e em 36% o número se manteve inalterado.

Com isso, pela primeira vez a média de candidatos nesses municípios chegou a 3,3. Isto representa um aumento de 20% em comparação a média considerando todas as eleições locais entre 2000 e 2016.

Se, por um lado, o aumento no número de candidatos às prefeituras pode indicar uma redução na capacidade de controle da legislação eleitoral, algo que pode ser visto de forma negativa para aqueles que prezam pela estabilidade do sistema político; por outro, pode sugerir uma maior abertura da disputa com a entrada de novos competidores nos municípios brasileiros, ampliando as opções disponíveis para o eleitorado.

Partidos de direita lançaram mais candidatos do que em 2016

A entrada de novos competidores não necessariamente significa a entrada de partidos recém-criados. Ao verificarmos onde esses aumentos são mais frequentes e quais os partidos que encabeçam tal prática, notamos que o que ocorreu foi um maior investimento de partidos já conhecidos no cenário político brasileiro.

A análise dos dados mostra que quem teve um aumento mais substantivo no número de candidatos lançados foram os partidos mais à direita, o que reflete o atual momento político pelo qual o país passa, com o fortalecimento de pautas mais conservadoras. Os principais destaques ficam para DEM, PL, Republicanos, Avante, Patriota e PSL, antigo partido do presidente Jair Bolsonaro, pelo qual foi eleito.

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Número de candidatos a prefeito por partido
Imagem: Elaboração própria (Observatório das Eleições)

MDB e PSDB perderam espaço

Os partidos MDB (antigo PMDB) e PSDB apresentaram em 2020 um número de candidatos a prefeito menor do que apresentaram em 2016. Possíveis explicações para tal fenômeno devem levar em consideração as mudanças no impacto da legislação eleitoral sobre a disputa.

Porém, é necessário observar também a redução de protagonismo dos partidos tradicionalmente grandes nessas eleições. Ainda que tenhamos afirmado que o aumento de candidatos não reflete exatamente a entrada de novos partidos, este aumento também não está nos dois partidos que mais haviam lançado candidatos em 2016.

Nota-se, por exemplo, que, comparando 2016 com 2020, o MDB continuou como o partido que apresentou mais candidatos nesses contextos. Contudo, reduziu sua participação de 2248 para 1869 competidores. A mesma tendência é apresentada pelo PSDB, que caiu de 1667 para 1237 candidaturas em municípios com menos de 200 mil eleitores.

Em relação ao PT, embora este apresente acréscimo de 949 para 1163 candidatos, é preciso lembrar que 2016 foi uma eleição difícil para o partido, que vinha desgastado pela Lava Jato e pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Na esteira da queda desses partidos, segue uma investida de partidos outrora pequenos, como já destacado, e também um crescimento de partidos médios. Nesse sentido, destaca-se o PSD, que manteve o número elevado de candidaturas de 2016 e alcançou o segundo lugar nesse quesito em 2020, a retomada do DEM e o crescimento PL.

Outra questão relevante é que esse aumento de candidaturas ocorreu em todos os estados do Brasil, com exceção de Roraima. Ou seja, a estratégia de lançar mais candidatos, mesmo numa disputa majoritária de turno único, não é localizada, pois perpassa todo o território brasileiro.

imagem 3 - Elaboração própria (Observatório das Eleições) - Elaboração própria (Observatório das Eleições)
Média de candidatos a prefeito por município, por UF
Imagem: Elaboração própria (Observatório das Eleições)

O impacto do fim das coligações

Por fim, deve-se considerar o impacto da impossibilidade de coligações nas disputas para a câmaras municipais - que é um cargo relativamente mais fácil de ser pleiteado, dado seu custo mais baixo para competição e o maior número de vagas - na decisão dos partidos em lançar candidatos para prefeito. Essa nova realidade impõe desafios de coordenação aos competidores, que passaram a entrar sozinhos nos municípios para construir ou manter alguma base de apoio. Uma vez lá dentro, isso pode ter estimulado o lançamento de candidatos também para o cargo majoritário.

Ainda não é possível definir qual dessas hipóteses se confirma ou ainda se há outras explicações possíveis, mas é um fenômeno que merece atenção. Afinal, essa dinâmica indica um fortalecimento de legendas que não se apresentavam como protagonistas até pouco tempo atrás e, caso se sustente, pode gerar efeitos importantes para o cenário político nacional nos próximos anos.

*Vitor Vasquez é doutor em Ciência Política pela Unicamp e pesquisador do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da mesma instituição.
Monize Arquer é doutora em Ciência Política pela Unicamp e pesquisadora do Cesop/Unicamp.

Esse texto foi elaborado no âmbito do projeto Observatório das Eleições de 2020, que conta com a participação de grupos de pesquisa de várias universidades brasileiras e busca contribuir com o debate público por meio de análises e divulgação de dados. Para mais informações, ver: www.observatoriodaseleicoes.com.br