Sarto parte para o ataque e ultrapassa Luizianne em Fortaleza
Monalisa Torres e Luciana Santana*
Em Fortaleza, três candidaturas têm se mostrado competitivas e disputado vagas para o segundo turno. São elas capitão Wagner (PROS), Luizianne Lins (PT) e José Sarto (PDT).
A primeira pesquisa Datafolha/O Povo, de 17 de outubro, trouxe os seguintes números: Wagner despontava na frente, com 33% das intenções de votos; Luizianne, com 24% das intenções; e em seguida Sarto, que aparecia com 15%.
Já a última pesquisa do mesmo instituto, divulgada no dia 28 de outubro apresenta movimentações no cenário. Sarto dispara e alcança 22%, ultrapassando Luizianne que aparece com 19%. Wagner oscilou para menos, mas continua na liderança com 31% das intenções de voto.
A expectativa era grande em relação à Luizianne, entretanto, dentre os três candidatos, ela é a que apresenta a maior taxa de rejeição, 42%. Capitão Wagner, apoiado por Bolsonaro, é o segundo, 34%, e Sarto tem o menor índice, 20%.
Sarto partiu para o ataque
Com quatro minutos de propaganda eleitoral, o maior tempo de TV/rádio entre todos os candidatos à prefeitura da capital, Sarto tem explorado a imagem de Roberto Cláudio (PDT), atual prefeito, e as parcerias com o governo do Estado. Impedido de usar a imagem do governador Camilo Santana (PT), disputada também pela sua partidária Luizianne Lins, Sarto tem mobilizado outros personagens do entorno do governador, como seu pai, Eudoro Santana, e a vice-governadora Izolda Cela (PDT).
Apesar da tendência de crescimento apontada nas primeiras rodadas de pesquisas, Sarto ainda aparecia atrás de Luizianne Lins. O quadro começou a mudar quando Wagner, em entrevista concedida à TV (programa Ponto Poder Eleições da TV Diário), passou a negar e se eximir da participação nos motins da PM no Ceará em 2020.
Este episódio, já explorado em 23 de outubro neste Observatório, teve reação dura de Camilo Santana, e a partir daí as críticas de Camilo a Wagner passaram a ser frequentes.
Luizianne na mira de Sarto
Os ataques não se limitaram a Wagner. Luizianne também passou a ser alvo da campanha pedetista. Ao longo da semana, em peças com críticas a gestão da petista, comparavam-se os feitos da ex-prefeita com a gestão Roberto Cláudio.
Figura 2 - Trecho de HGPE de Sarto sobre a avaliação da gestão Luizianne Lins
O objetivo era interpelar se o eleitor estaria disposto a dar um "passo para trás, dar um salto no escuro" ou continuar avançando, numa clara referência aos adversários Luizianne e Wagner, respectivamente.
Luizianne tem buscado mobilizar o legado petista em suas campanhas. Apesar de dados divulgados na pesquisa Ibope do dia 14 de outubro que sinalizavam que o apoio de Lula importa para o eleitor da capital, a presença do ex-presidente em seus programas eleitorais ou mesmo a tentativa de colar à imagem de Camilo não conseguiram o efeito desejado.
No domingo, 25 de outubro, Luizianne viajou a São Paulo para gravar programas com Lula. Há ainda expectativas de que o ex-presidente viaje ao Ceará para participar das campanhas da correligionária, mas não há nenhuma confirmação oficial.
Sobre um possível embate entre Bolsonaro e Lula na capital cearense, Luizianne encenou movimentos na pré-campanha. Sobretudo ao se posicionar como antagonista ao que denominou de candidatura bolsonarista, referindo-se a Wagner. Mas a narrativa foi abandonada quando do início das campanhas eleitorais.
Sarto - o candidato que mais cresce nas pesquisas
Sem um candidato natural que pudesse representar a continuidade das gestões do prefeito Roberto Cláudio (PDT), o bloco governista se viu diante do desafio de apresentar uma candidatura competitiva que pudesse fazer frente aos já conhecidos dos fortalezenses: Luizianne (ex-prefeita por dois mandatos) e Wagner (vereador, deputado estadual e federal), adversários nas eleições de 2016 para a prefeitura de Fortaleza.
A escolha recaiu sobre o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará (ALECE), José Sarto. Apesar de longa trajetória política, Sarto nunca disputou uma eleição majoritária. O fato de ser um nome relativamente desconhecido pelo eleitor de Fortaleza trouxe vantagens e desvantagens.
Com baixa rejeição, quando comparado aos principais personagens que despontavam no cenário eleitoral, Sarto tem a seu favor os bons índices de aprovação do prefeito e a máquina partidária. Por outro lado, o desafio de conquistar o eleitorado de Fortaleza numa campanha mais curta exigiu intensificar as atividades em diferentes frentes.
Afastado das ruas ainda no dia 5 de outubro, quando foi diagnosticado com Covid-19, coube ao seu maior cabo eleitoral, Roberto Cláudio, a difícil tarefa de mantê-lo vivo nas disputas
Mas, pelo que os dados apontam, as estratégias de campanha negativa de Sarto parecem ter cumprido seu papel. Apesar de não alterar as intenções de voto do Capitão Wagner, que se manteve na casa dos 30%, parece ter contribuído para aumentar sua rejeição. Quem mais sentiu o baque foi Luizianne, com quem disputa o mesmo nicho eleitoral.
Apesar da liderança, situação do capitão não é confortável
Wagner segue liderando as pesquisas de intenção de voto, mas a disparada de Sarto não o deixa em uma situação confortável na reta final da campanha.
Além de não apresentar tendência de crescimento nas pesquisas de intenção de voto e do aumento na taxa de rejeição, o candidato não tem conseguido apresentar argumentos consistentes para responder aos ataques que vem sendo disparados por Sarto e, principalmente, pelo governador Camilo.
Wagner subiu o tom. Peças de campanha do capitão insinuando que o candidato pedetista seria alvo da Operação Lava Jato em 2014 foram veiculadas. Por falta de provas objetivas e conteúdo inverídico, as peças foram suspensas por determinação judicial.
Figuras políticas bolsonaristas ligadas ao capitão apostam em postagens de conteúdo similar. É possível que esse expediente se intensifique e que a rede bolsonarista, que dá suporte a Wagner, tente seguir o caminho adotado na eleição presidencial de 2018, utilizando estratégias de desinformação como arma de campanha, sobretudo em espaços de difícil controle como WhatsApp e Telegram.
Sarto pode continuar em ritmo crescente, e por ter a menor taxa de rejeição, suas chances de crescimento tornam-se maiores. Soma-se a seu favor a associação de Bolsonaro à imagem de Wagner - e não custa lembrar que a rejeição ao presidente é alta em Fortaleza. O apoio do presidente a Wagner pode acionar o "voto útil" em favor de Sarto, voto esse que pode ser o fiel da balança num eventual segundo turno.
As respostas de Luizianne aos ataques miraram Sarto, Roberto Cláudio e não pouparam críticas aos irmãos Ferreira Gomes. Por outro lado, há expectativa de aumento de inserções de vídeos com apoio de Lula e de imagens junto a Camilo Santana.
E quais são os cenários para o segundo turno?
O Datafolha também simulou cenários de segundo turno na capital cearense em sua última pesquisa. De acordo com a opinião dos entrevistados, caso a disputa fosse entre Capitão Wagner e Luiziane, o militar teria 49% e a petista 37%. 13% dos entrevistados responderam que votariam branco ou anulariam e 1% não soube responder.
Capitão Wagner aparece tecnicamente empatado na simulação de segundo turno contra Sarto. Wagner teria 44% e Sarto 43%. 12% dos entrevistadores votariam nulo ou branco e 1% não soube responder. Considerando a margem de erro, neste cenário qualquer um dos dois candidatos poderia ser o prefeito eleito.
Faltam só 15 dias - mas o cenário pode mudar
Nova rodada de pesquisas Ibope/Diário do Nordeste está prevista para os próximos dias e, no meio do caminho, teremos o primeiro debate entre os candidatos. Resta saber se os números se consolidam ou se continuam em movimentação. Parece pouco, mas em 15 dias a situação ainda pode se alterar.
*Monalisa Torres é doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará. É professora da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e pesquisadora vinculada ao Laboratório de Estudos sobre Políticas, Eleições e Mídia (Lepem/UFC)
Luciana Santana é mestre e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, com estância sanduíche na Universidade de Salamanca. É professora adjunta na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), é líder do grupo de pesquisa: Instituições, Comportamento político e Democracia, e atualmente ocupa a vice-diretoria da regional Nordeste da ABCP.
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