Raquel Landim

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Opinião

Atentado contra Trump é evidência de política mais violenta pós-redes

O ex-presidente americano e pré-candidato republicano Donald Trump sofreu uma tentativa de assassinato. Uma bala atingiu a sua orelha e passou raspando na sua cabeça. Alguns centímetros de diferença e ele teria sido gravemente ferido ou morto.

Em 2018, Jair Bolsonaro também foi vítima de uma tentativa de assassinato. Ele chegou com tanto sangue no abdômen no hospital em Juiz de Fora (MG) em consequência da facada que, se atrasasse alguns minutos, teria morrido.

Qualquer tentativa de falsear a realidade desses dois fatos merece total repúdio dos defensores da democracia.

No caso de Trump, também foi impressionante sua presença de espírito para, mesmo ferido e num ambiente de extrema tensão, pedir alguns minutos aos agentes do serviço secreto que tentavam retirá-lo do local.

"Esperem, esperem, esperem!", disse ele. E levantou o punho desafiador para o alto, com um vigor que é exatamente o que já faltava ao seu adversário, o atual presidente democrata Joe Biden.

Com esse gesto, Trump "produziu" a foto perfeita e deu o tom de como vai atuar na campanha eleitoral americana daqui para frente: o herói que não se dobra para salvar os americanos das ameaças da extrema esquerda e do sistema.

Ele também esvaziou o principal discurso da campanha de Biden de que Trump representa um risco para a democracia.

Afinal foram seus apoiadores que, diante de sua resistência em aceitar o resultado das eleições, invadiram e quebraram o Capitólio, ameaçando de morte lideranças políticas. Só que agora a violência atingiu Trump e ele é também uma vítima.

O atirador era um jovem de 20 anos, filiado ao partido republicano, que foi morto pelo Serviço Secreto. Suas motivações são desconhecidas. O atentado complicou ainda mais uma campanha já tensa e problemática na maior potência global, cujos resultados terão reflexos em guerras e na geopolítica ao redor do mundo.

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Os tiros contra Trump também são resultado de um sistema político cada vez mais adoecido pelo ódio e pela violência nos Estados Unidos, no Brasil, e em outras partes do mundo. E isso merece urgentemente uma reflexão mais profunda da sociedade.

Infelizmente atentados contra presidentes americanos não são fatos isolados e remontam ao assassinato de Abraham Lincoln em 1865, passando pelos tiros que mataram John Kennedy em 1963, e pela tentativa, felizmente, mal sucedida, contra Ronald Regan em 1981.

Mas a violência política vem crescendo nos Estados Unidos. Segundo a revista The Economist, em 2017, um esquerdista abriu fogo numa aula prática do time de baseball dos republicanos do Congresso, quase matando Steve Scalise, na época líder da maioria. Em 2020, houve a invasão do Capitólio. Em 2022, um maluco invadiu a casa da democrata Nancy Pelosi, presidente da Câmara, atingindo a cabeça de seu marido idoso com um martelo.

Aqui no Brasil, além da facada sofrida por Bolsonaro em 2018, as eleições de 2022 tiveram vários casos de homicídio entre cidadãos comuns por motivação política. Um apoiador de Lula em Mato Grosso foi morto por um bolsonarista com 70 golpes de faca e machado. No Paraná, um tesoureiro do PT foi assassinado na sua festa de aniversário a tiros por um policial bolsonarista. No litoral de São Paulo, foi a vez de um petista matar um amigo a facadas durante uma discussão política.

O atentado contra Trump gerou uma onda de teorias conspiratórias nas redes sociais - o que já era de se esperar. O que deveria provocar, no entanto, é uma reflexão ainda mais profunda sobre os efeitos das redes sociais, dos discursos de ódio, e da desinformação (hoje disseminadas por ambos os lados do espectro político) na propagação da violência.

Uma reflexão não apenas de estudiosos, de reguladores, mas também dos líderes políticos, que precisam fazer política com mais responsabilidade nos Estados Unidos e pelo mundo afora - para o bem de todos.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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